Poços da Broca de Loriga

by | 25 Jan, 2022 | Beira Alta, Lugares, Natureza, Províncias, Rios e Ribeiras

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São cinco os Poços da Broca que se encontram no concelho de Seia, mais concretamente nos domínios da ribeira de Loriga e da ribeira de Alvôco. Cada um à sua maneira, há para todos os gostos.

Poços não naturais

É comum ouvirmos ou lermos sobre cascatas naturais. Aqui, contudo, estamos perante cascatas humanas, no sentido em que elas não existiriam – ou pelo menos não assim, nem nestes lugares -, não fosse intervenção do Homem.

Isto porque todos estes poços derivam de um corte (ou uma broca, como o nome indica) que antigos habitantes da grande serra de Portugal fizeram no caudal original das ribeiras que por ali passavam. A razão para o fazerem prende-se com aquilo que tem sido a tradição portuguesa nas zonas mais montanhosas do país: manipular a terra de forma a torná-la mais rentável, sendo caso paradigmático os socalcos vinhateiros do rio Douro.

No caso de Loriga, o que se pretendia aproveitar era o raro chão plano que por aqui existia. Muitas vezes estas pequenas plataformas encontravam-se nos sopés de colinas, circundando-as. O problema é que, muitas vezes, esse espaço estava ocupado pelas violentas águas dos rios e ribeiras, filhos das nascentes a montante. Ora, a gente serrana, habituada a ter de fazer pela vida, propôs então a ideia de perfurar as margens destes meandros de forma a escoar o curso fluvial para outro lado, ficando as terras planas prontas para a agricultura.

A manigância deverá ter acontecido pelo século XVIII ou XIX. Desde aí, a natureza entrou em campo e as águas desviadas criaram novas formas na serra: novos desníveis, novas cascatas, novos poços. Alguns foram aproveitados como tanques para irrigação de terrenos ou como energia através da colocação de azenhas para moagem. E alguns, por vezes os mesmos, foram também aproveitados para banhos festivos durante o abrasador Verão da Estrela. Hoje, são conhecidos cinco, sendo bastante provável que haja outros, escondidos ou bloqueados pela vegetação.

Deste contexto, um novo léxico foi construído: ao monte que originava os meandros deu-se o nome de Caratão e ao campo agrícola que resultava do corte no curso fluvial atribuiu-se o nome de Obras – há uma produtora de bebidas na Serra da Estrela que se chama “Obras do Caratão”, produtora de um óptimo hidromel, cujo nome deriva da combinação de ambos os conceitos. Já as novas quedas de água e as piscinas que se formaram em consequência da acção humana, ficaram conhecidas por Poços da Broca.

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O trilho dos cinco poços

Há um caminho e, em alternativa, uma estrada, que alinha quatro dos cinco Poços da Broca – os que se encontram a menor altitude, que são o Poço da Broca de Frádigas, o Poço da Broca da Barriosa, o Poço da Broca do Muro, e o Poço da Broca de Aguincho.

O trilho pedestre não está marcado, dado não se tratar de um percurso oficial, mas pode ser feito se, previamente, o programarmos com a ajuda de um mapa (na verdade, este troço é uma compilação de outros percursos oficiais, por isso podemos aproveitar alguma da sinalização existente desde que saibamos para onde cada seta nos dirige). Atenção, contudo, ao clima: não é aconselhável ir em altura de chuva já que o musgo se torna muito escorregadio. Quanto à estrada, tem o nome de rua 1 de Maio, e vai de Frádigas até Aguincho, passando ao lado de três Poços da Broca – os três que se acham na ribeira de Alvôco.

Quanto ao Poço da Broca do Serapitel, está fora deste esquema dado que os acessos a ele são diferentes. Estamos a falar de uma cascata que está bem perto de Loriga, e portanto a uma altura superior às restantes.

Se a intenção é visitar todos no mínimo tempo possível, o que recomendo é pegar num carro e correr as capelinhas desta forma: ir até Loriga para visitar o Poço da Broca do Serapitel, daí descer pela M518, passando pela aldeia de Cabeça, até encontrarmos a povoação do Muro, onde se situa o poço com o mesmo nome. Do Muro tornamos depois a descer, usando a mesma estrada M518, até Vide, onde flectimos para leste e guiamos pela Nacional 230 até Barriosa, onde encontramos a já mencionada rua 1 de Maio que dá acesso aos restantes três poços.