Bolo Negro de Loriga

by | 24 Jan, 2022 | Beira Alta, Gastronómicas, Províncias, Tradições

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Foi numa visita às aconchegantes casas do Chão do Rio que provei pela primeira vez o suave Bolo Negro, uma oferenda de Loriga, parte do concelho de Seia, que chegou a concorrer para as 7 Maravilhas – Doces de Portugal.

Origem do Bolo Negro

A origem que mais consenso gera, inclusivamente entre quem mais percebe do assunto, sendo o caso da Confraria Broa e Bolo Negro de Loriga que conta com mais de dez anos de existência, é que o mais famoso doce loriguense já era feito há pelo menos 150 anos nos fornos comunitários da vila, mas terá sido ligeiramente alterado com a chegada de ingleses à Serra da Estrela para exploração de volfrâmio.

A pergunta que está por responder é que colonização foi essa, porque parece ter havido duas: uma no século XIX, outra na Segunda Guerra Mundial. Sabemos que houve, de facto, um conjunto de ingleses que se instalou em Loriga no final do século XIX; quanto à presença na decorrência da Segunda Grande Guerra, o que temos são, sobretudo, testemunhos de gente que ainda viveu nesse período e que trabalhava na extracção do minério precioso para o armamento.

A correlação que fazem é a possível mudança de forma do bolo, que antes era arredondado, passando depois a ter forma rectangular, tal e qual um pão de forma, e semelhante ao Bolo Inglês. A corroborar esta tese, está o hábito da toma do chá, também arreigado em Loriga, e associado aos costumes de terras de Sua Majestade – isto não entrando por teses que defendem que, na realidade, foi Portugal que levou a tradição do chá até ao Reino Unido.

O Bolo Inglês, um possível inspirador do Bolo Negro

Bolo Inglês: um possível inspirador do Bolo Negro de Loriga

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Sabor e características

Era comido em épocas festivas do ano, quase sempre ligadas ao calendário religioso, especialmente na Páscoa mas, por vezes, também no Natal. Actualmente, graças à padaria Loripão, está nas lojas em qualquer altura do ano.

Como foi dito acima, trata-se de um bolo em jeito de pão de forma e fatiado como tal. Alisado em todas as faces excepto na enrugada parte de cima, tem uma tenrura que se aguenta por muitos dias, por vezes mais de duas semanas, antes de enrijar.

A cor é escura, como o nome sugere, e o pigmento vem de um dos seus principais ingredientes, a afrodisíaca canela, canela essa que se sente também, e bem, na boca – é, já agora, a razão para a nossa língua não ser invadida de açúcar, algo bastante comum nos doces de Portugal, e que considero muitas vezes evitável.

Assim se afirma cada fatia de Bolo Negro. Sabor marcante mas não enjoativo, que absorve bem certas bebidas destiladas ou fortificadas como aguardentes, ginjinhas e outros licores de fruta, e acompanha com queijos da região, em especial o óbvio Queijo da Serra.

Receita do Bolo Negro

Tendo em atenção que o fazer em casa nunca será igual a comermos um Bolo Negro por quem o molda há mais de um século, podemos sempre tentar aproximar-nos o mais possível do original, sendo aceite que a Loripão, única produtora actual, também já não cumpre rigorosamente com a receita antiga.

A boa notícia é que não se trata de coisa difícil, ao contrário de muita da doçaria nacional, em especial na Beira Alta.

Antes de começar a tocar em comida, aqueça-se o forno a cerca de 180º – como sempre, o forno tem de já estar quente quando for chamado a intervir. O ideal seria cozê-lo num forno a lenha, mas vou admitir que esta não é hipótese para a vasta maioria das pessoas. Agora o resto.

A primeira etapa é bater os ovos juntamente com o açúcar, de preferência açúcar amarelo. Quando o composto estiver homogéneo, trazemos os restantes ingredientes à fórmula: leite, canela em pó, farinha de trigo, e sal (algumas receitas abdicam do sal ou do bicarbonato de sódio mas, para todos os efeitos, vamos assumir a versão em que ele toma parte do Bolo Negro). Há quem introduza todos estes ingredientes ao mesmo tempo. Daqui, recomenda-se que se faça gradualmente: primeiro a farinha e parte do leite, depois bater, segundo o sal e a canela, depois bater novamente, e por fim o resto do leite, e depois bater uma última vez. É aconselhável que o remexer seja feito à antiga, com uma colher de pau.

Assim que a pasta estiver pronta, é pegar num recipiente rectangular e levá-la para o forno. O tempo de cozedura varia consoante o forno usado, por isso o melhor é mesmo recorrer ao insuperável teste do palito – colocando o mesmo no topo do bolo e evitando as margens, já que pode estar cozido de lado mas não no meio, mas atente-se bem nos ponteiros do relógio, porque o truque é garantir que a cozedura não ultrapassa certo ponto. Alguns cozinheiros deixam-no em repouso dentro do forno por uns cinco ou dez minutos já depois de desligado.

Caso não queiram perder tanto tempo, descansem, porque a distribuição em território nacional tem crescido e podemos hoje vê-lo em vários pontos da capital (sobretudo em grandes superfícies, como o Centro Comercial Vasco da Gama ou o Atrium Saldanha), e em cidades como Aveiro, Coimbra, Matosinhos ou Viseu.

Seia – o que fazer, onde comer, onde dormir

No concelho de Seia, antes de pensar onde quer dormir, deverá perguntar a si primeiro o que quer fazer.

Para visitar a estância de esqui, o ideal é aproximar-se da Torre, não esquecendo que, ainda assim, as dormidas mais práticas até ficam no concelho de Manteigas. A Casa da Carvalha e o Loriga Hostel, ambos situados na vila de Loriga, são bastante recomendáveis, tal como a Casa do Forno, em Valezim.

Para experienciar turismo rural em aldeias de montanha, além dos supracitados, sugerimos o Abrigo do Outeiro em Cabeça (em Dezembro Cabeça cria a sua Aldeia Natal, altura em que convém marcar com alguma antecedência) ou as Casas do Soito na pitoresca vila de Lapa dos Dinheiros. Nesta vertente de turismo de natureza, torna-se uma quase obrigação visitar a mão cheia de cascatas que podemos ver nos vários Poços da Broca.

Caso a intenção seja ficar mesmo junto a Seia e ir à busca de bons repastos de cabrito com os inevitáveis Queijo da Serra e Bolo Negro a terminar refeições, lembrem-se da Quinta de Vodra. E já agora, aproveite-se para explorar o Museu do Pão e as capelinhas do Santuário de Nossa Senhora do Desterro bem como a famosa Cabeça da Velha.

Promoções para dormidas em Seia podem ser vistas em baixo:

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