Aldeia Natal de Cabeça

by | 21 Nov, 2019 | Beira Alta, Dezembro, Festas, Janeiro, Províncias, Tradições

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Todos os anos, desde 2013 para cá, a aldeia de Cabeça forra-se de decoração natalícia, e autonomeia-se, como todo o direito, de Aldeia Natal.

A aldeia de Cabeça

Cabeça é um povo que se aguenta, como uma lapa, num pequeno outeiro cercado pelas gigantes encostas da Serra da Estrela, do seu lado Oeste. O nome deriva, com quase certeza, da sua posição geográfica, escarranchada em cima de um cabeço granítico, daí Cabeça.

Situa-se no concelho de Seia, a poucos quilómetros da Torre, o cume da serra, que a eleva até aos dois mil metros, e ainda a menos da vila de Loriga, tida como a terra suíça de Portugal.

Como é por aqui hábito, está circundada de socalcos, degraus amparados por muros de xisto ou granito que tratam de optimizar o espaço agrícola, num âmbito onde a natureza não deu grande clemência. No seu topo, destaca-se no recorte que faz com o céu a igreja, dedicada a São Romão, santo venerado maioritariamente em povoados de montanha (bem perto, existe por aqui a vila de São Romão, agregada a Seia).

Não chega aos duzentos habitantes, espalhados por casas que são, em grande parte, construídas de xisto, tradição popular de longa data no interior beirão.

Cabeça, Aldeia Natal

A iniciativa partiu dos locais que, em resposta a um desafio lançado pelo município ao abrigo do programa Agenda 21, decidiram comprometer-se em transformar a sua terra numa aldeia conceptual, uma Aldeia Natal. De todas as propostas recebidas pela Câmara, Cabeça venceu. E a partir daí meteu mãos à obra.

Nos últimos anos a época natalícia cabecense passou assim da teoria à prática.

Os aldeões começam, alguns meses antes de Dezembro, a preparar a decoração, sempre com materiais retirados ao que a natureza tem para dar: sobras dos debastes feitos na floresta fazem a festa, com canas de milho como matéria prima para a criação de estrelas, guirlandas feitas de folhagens, tapetes de musgo, sinos elaborados a partir de vide, coroas de porta pintalgadas com a druídica folha de carvalho, bolas decoradas com os lindíssimos fetos da serra. Também a lã usada no ornamento, cedida pelas fábricas têxteis da região, vem da raça autóctone, a Bordaleira Serra da Estrela, responsável pelo Queijo da Serra que cá se faz. Quanto às luzes, não sendo naturais, são ecológicas, recorrendo-se a iluminação LED para abrilhantar as noites invernais. Tudo isto é coordenado por duas cabeças, ecodesigners para sermos mais técnicos, que são maestras da orquestra.

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Uma aldeia que já parece um presépio

Aldeia de xisto em monte granítico

Montados os enfeites, as portas de casa de cada um dos locais abrem-se aos visitantes. Esta é uma das mais cativantes características da Aldeia Natal de Cabeça. Não é só o espaço público que as pessoas de fora têm para calcorrear. Cada canto de casa pode ser olhado, como se fosse nosso. E assim se faz de um lugar inóspito, largado ao frio, um sítio acolhedor e ponto de encontro de milhares de visitantes.

Um detalhe que Cabeça, quando se torna Natal, gosta de amplificar: apesar de certos visitantes aqui aparecerem vestidos de Pai Natal, é ponto assente que o velho das barbas não faz parte da ornamentação. A razão que dão é o entendimento de que a verdadeira tradição, antes de se importar a figura do Pai Natal, punha Jesus Cristo como o distribuidor de presentes. Um dogma que, da minha parte, poderia não existir – há uma árvore de Natal em ferro levantada em Cabeça, e não é ela também um produto importado?

Minudências que não valerá a pena explorar, porque o que existe é bom demais.

Sustentabilidade

Além de Cabeça ser, como já mencionámos, a primeira aldeia LED portuguesa, e de ter sido pioneira na oferta de WIFI gratuito para todos os seus residentes, também a Aldeia Natal não dispensa estar na vanguarda num dos temas mais caros da actualidade: a ecologia. A começar pelo aproveitamento de materiais descrito acima. Mas não só.

Na realidade, para lá dos cabecenses, também nós, estrangeiros, somos instados a respeitar a ideia de sustentabilidade que cá mora. Sugere-nos a organização que partilhemos carro para evitar uma enchente de rodas na zona – agradece-se a recomendação porque poupamos no carbono e na carteira.

Também as receitas do Trail em torno da aldeia, criado nas últimas edições e que foi bastante bem sucedido, servem para financiar a limpeza das florestas e a plantação (ou em muitos casos, replantação) de árvores nativas – ora aí está, o Inverno a aproveitar para prevenir o Verão, exemplo a ser seguido por qualquer terriola deste país.

As decorações artesanais na aldeia de Cabeça

Coroa de Natal suspensa em grinalda

Programa da festa

Nas primeiras duas semanas a agenda concentra-se nos dias de fim de semana: há a exibição do presépio com figuras reais, concertos, e o acender das luzes quando a noite cai. Em paralelo, nesta altura, fazem-se workshops de cariz etnográfico, como o que explica como se cozia o pão em forno comunitário em tempos idos.

O mercado de Natal, responsável pela venda de produtos regionais, abre portas no primeiro ou segundo dia da festa, dependendo do ano. Outros estaminés e botequins marcam presença anual: a Casa do Chocolate, a Casa do Pastor, a Oficina de Natal (vende pinheiros de verdade, e como é saudosa a altura em que as casas ganhavam o cheiro do pinho).

No entanto, é quando as datas de Dezembro se aproximam da Consoada que a Aldeia Natal de Cabeça ferve: no largo da igreja versam-se contos alusivos à época, abrem-se os caminhos para o Trail que trilha a encosta da serra, a Missa do Galo ocorre no dia 24, bem como a fogueira que a antecede (outro exemplo dos famosos madeiros que circulam pelo país).

Lembramos que o programa sofre alterações de ano para ano, o que só lhe fica bem, e que as datas da festa nem sempre são exactas. Para informações mais rigorosas, o ideal é ver a agenda oficial.

Seia – o que fazer, onde comer, onde dormir

No concelho de Seia, antes de pensar onde quer dormir, deverá perguntar a si primeiro o que quer fazer.

Para visitar a estância de esqui, o ideal é aproximar-se da Torre, não esquecendo que, ainda assim, as dormidas mais práticas até ficam no concelho de Manteigas. A Casa da Carvalha e o Loriga Hostel, ambos situados na vila de Loriga, são bastante recomendáveis, tal como a Casa do Forno, em Valezim.

Para experienciar turismo rural em aldeias de montanha, além dos supracitados, sugerimos o Abrigo do Outeiro em Cabeça (em Dezembro Cabeça cria a sua Aldeia Natal, altura em que convém marcar com alguma antecedência) ou as Casas do Soito na pitoresca vila de Lapa dos Dinheiros. Nesta vertente de turismo de natureza, torna-se uma quase obrigação visitar a mão cheia de cascatas que podemos ver nos vários Poços da Broca.

Caso a intenção seja ficar mesmo junto a Seia e ir à busca de bons repastos de cabrito com os inevitáveis Queijo da Serra e Bolo Negro a terminar refeições, lembrem-se da Quinta de Vodra. E já agora, aproveite-se para explorar o Museu do Pão e as capelinhas do Santuário de Nossa Senhora do Desterro bem como a famosa Cabeça da Velha.

Promoções para dormidas em Seia podem ser vistas em baixo:

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=40.31947; lon=-7.73537

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