Aldeia Natal de Cabeça
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Todos os anos, desde 2013 para cá, a aldeia de Cabeça forra-se de decoração natalícia, e autonomeia-se, como todo o direito, de Aldeia Natal.
A aldeia de Cabeça
Cabeça é um povo que se aguenta, como uma lapa, num pequeno outeiro cercado pelas gigantes encostas da Serra da Estrela, do seu lado Oeste. O nome deriva, com quase certeza, da sua posição geográfica, escarranchada em cima de um cabeço granítico, daí Cabeça.
Situa-se no concelho de Seia, a poucos quilómetros da Torre, o cume da serra, que a eleva até aos dois mil metros, e ainda a menos da vila de Loriga, tida como a terra suíça de Portugal.
Como é por aqui hábito, está circundada de socalcos, degraus amparados por muros de xisto ou granito que tratam de optimizar o espaço agrícola, num âmbito onde a natureza não deu grande clemência. No seu topo, destaca-se no recorte que faz com o céu a igreja, dedicada a São Romão, santo venerado maioritariamente em povoados de montanha (bem perto, existe por aqui a vila de São Romão, agregada a Seia).
Não chega aos duzentos habitantes, espalhados por casas que são, em grande parte, construídas de xisto, tradição popular de longa data no interior beirão.
Cabeça, Aldeia Natal
A iniciativa partiu dos locais que, em resposta a um desafio lançado pelo município ao abrigo do programa Agenda 21, decidiram comprometer-se em transformar a sua terra numa aldeia conceptual, uma Aldeia Natal. De todas as propostas recebidas pela Câmara, Cabeça venceu. E a partir daí meteu mãos à obra.
Nos últimos anos a época natalícia cabecense passou assim da teoria à prática.
Os aldeões começam, alguns meses antes de Dezembro, a preparar a decoração, sempre com materiais retirados ao que a natureza tem para dar: sobras dos debastes feitos na floresta fazem a festa, com canas de milho como matéria prima para a criação de estrelas, guirlandas feitas de folhagens, tapetes de musgo, sinos elaborados a partir de vide, coroas de porta pintalgadas com a druídica folha de carvalho, bolas decoradas com os lindíssimos fetos da serra. Também a lã usada no ornamento, cedida pelas fábricas têxteis da região, vem da raça autóctone, a Bordaleira Serra da Estrela, responsável pelo Queijo da Serra que cá se faz. Quanto às luzes, não sendo naturais, são ecológicas, recorrendo-se a iluminação LED para abrilhantar as noites invernais. Tudo isto é coordenado por duas cabeças, ecodesigners para sermos mais técnicos, que são maestras da orquestra.
Aldeia de xisto em monte granítico
Montados os enfeites, as portas de casa de cada um dos locais abrem-se aos visitantes. Esta é uma das mais cativantes características da Aldeia Natal de Cabeça. Não é só o espaço público que as pessoas de fora têm para calcorrear. Cada canto de casa pode ser olhado, como se fosse nosso. E assim se faz de um lugar inóspito, largado ao frio, um sítio acolhedor e ponto de encontro de milhares de visitantes.
Um detalhe que Cabeça, quando se torna Natal, gosta de amplificar: apesar de certos visitantes aqui aparecerem vestidos de Pai Natal, é ponto assente que o velho das barbas não faz parte da ornamentação. A razão que dão é o entendimento de que a verdadeira tradição, antes de se importar a figura do Pai Natal, punha Jesus Cristo como o distribuidor de presentes. Um dogma que, da minha parte, poderia não existir – há uma árvore de Natal em ferro levantada em Cabeça, e não é ela também um produto importado?
Minudências que não valerá a pena explorar, porque o que existe é bom demais.
Sustentabilidade
Além de Cabeça ser, como já mencionámos, a primeira aldeia LED portuguesa, e de ter sido pioneira na oferta de WIFI gratuito para todos os seus residentes, também a Aldeia Natal não dispensa estar na vanguarda num dos temas mais caros da actualidade: a ecologia. A começar pelo aproveitamento de materiais descrito acima. Mas não só.
Na realidade, para lá dos cabecenses, também nós, estrangeiros, somos instados a respeitar a ideia de sustentabilidade que cá mora. Sugere-nos a organização que partilhemos carro para evitar uma enchente de rodas na zona – agradece-se a recomendação porque poupamos no carbono e na carteira.
Também as receitas do Trail em torno da aldeia, criado nas últimas edições e que foi bastante bem sucedido, servem para financiar a limpeza das florestas e a plantação (ou em muitos casos, replantação) de árvores nativas – ora aí está, o Inverno a aproveitar para prevenir o Verão, exemplo a ser seguido por qualquer terriola deste país.
Coroa de Natal suspensa em grinalda
Programa da festa
Nas primeiras duas semanas a agenda concentra-se nos dias de fim de semana: há a exibição do presépio com figuras reais, concertos, e o acender das luzes quando a noite cai. Em paralelo, nesta altura, fazem-se workshops de cariz etnográfico, como o que explica como se cozia o pão em forno comunitário em tempos idos.
O mercado de Natal, responsável pela venda de produtos regionais, abre portas no primeiro ou segundo dia da festa, dependendo do ano. Outros estaminés e botequins marcam presença anual: a Casa do Chocolate, a Casa do Pastor, a Oficina de Natal (vende pinheiros de verdade, e como é saudosa a altura em que as casas ganhavam o cheiro do pinho).
No entanto, é quando as datas de Dezembro se aproximam da Consoada que a Aldeia Natal de Cabeça ferve: no largo da igreja versam-se contos alusivos à época, abrem-se os caminhos para o Trail que trilha a encosta da serra, a Missa do Galo ocorre no dia 24, bem como a fogueira que a antecede (outro exemplo dos famosos madeiros que circulam pelo país).
Lembramos que o programa sofre alterações de ano para ano, o que só lhe fica bem, e que as datas da festa nem sempre são exactas. Para informações mais rigorosas, o ideal é ver a agenda oficial.
Seia – o que fazer, onde comer, onde dormir
No concelho de Seia, antes de pensar onde quer dormir, deverá perguntar a si primeiro o que quer fazer.
Para visitar a estância de esqui, o ideal é aproximar-se da Torre, não esquecendo que, ainda assim, as dormidas mais práticas até ficam no concelho de Manteigas. A Casa da Carvalha e o Loriga Hostel, ambos situados na vila de Loriga, são bastante recomendáveis, tal como a Casa do Forno, em Valezim.
Para experienciar turismo rural em aldeias de montanha, além dos supracitados, sugerimos o Abrigo do Outeiro em Cabeça (em Dezembro Cabeça cria a sua Aldeia Natal, altura em que convém marcar com alguma antecedência) ou as Casas do Soito na pitoresca vila de Lapa dos Dinheiros. Nesta vertente de turismo de natureza, torna-se uma quase obrigação visitar a mão cheia de cascatas que podemos ver nos vários Poços da Broca.
Caso a intenção seja ficar mesmo junto a Seia e ir à busca de bons repastos de cabrito com os inevitáveis Queijo da Serra e Bolo Negro a terminar refeições, lembrem-se da Quinta de Vodra. E já agora, aproveite-se para explorar o Museu do Pão e as capelinhas do Santuário de Nossa Senhora do Desterro bem como a famosa Cabeça da Velha.
Promoções para dormidas em Seia podem ser vistas em baixo:
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=40.31947; lon=-7.73537