Midões (Castelo de Paiva)

by | 10 Abr, 2023 | Aldeias, Douro Litoral, Lugares, Povoações, Províncias

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As aldeias de Midões e Gondarém são vendidas em conjunto, tal e qual como a estratégia de cross-selling que os especialistas em marketing tanto gostam de praticar.

Sendo justo, há razões que o justificam: as duas têm no xisto o seu betão, pertencem ambas ao mesmo concelho de Castelo de Paiva, de qualquer uma se avista o rio Douro, dividem uma capela dedicada a Santo Ildefonso que fica mais ou menos equidistante, e quer uma, quer outra, foram integradas na rede Aldeias de Portugal exactamente no mesmo dia.

A aldeia de Midões

Para quem vem de carro, Midões é sempre a descer. Ladeira abaixo até ao rio não permitir ir mais longe. Fica ao nível da água. A sua história deve estar toda neste Douro onde ancora – antes, na pesca da truta e da enguia e do sável e da boga e da carpa; agora, no turismo, que se limita a aproveitar o que Midões tem de melhor, que é a frente ribeirinha – e que a distingue de Gondarém, onde não há marginal.

Junto ao cais, onde menos de meia dúzia de barcos estacionam, há um alinhamento de abrunheiros-de-jardim, um bar à espera do Verão para abrir portas, uma rampa de acesso a banhos, o baloiço da praxe, e uma mini praia fluvial encoberta pelo caudal. Por cá se fazem magustos em Novembro, envoltos na névoa outonal e no fumo da castanha.

À volta, olhando para o resto da aldeia que vai escalando a encosta, há eucaliptos e videiras – destas sairá o néctar de ligeiro toque gaseificado que conhecemos por Vinho Verde. Subindo, entremetido nas ruas xistosas, damos com uma maúnça de cães, uns banhados de sol no topo dos telhados, outros a guardar fronteiras com latidos à distância. Tendo sorte, vê-se gente – muito muito pouca, mas disposta ao diálogo, e com o bom dia pronto a sair da boca. Algumas das casas já fogem à regra, recorrendo ao tijolo. Outras, melhores, pegaram no xisto e fizeram uma alvenaria moderna mas que não destoa da traça antiga.

E do outro lado, a parede da Serra da Boneca determina a paisagem a norte – o que quer que haja para lá dela, não se vê. Na vertente, em destaque, temos a povoação de Cancelos, que já é parte de Penafiel. Falta-lhe a ardósia, as moradias de cor de areia. Vale a pena olhar para Cancelos para se perceber como o lado de cá é mais bonito. Ou antes, como Midões é mais bonito. Uma aldeia d’ouro junto ao Douro. Virá Midões de Midas?

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Lavadouro comunitário numa rua da aldeia de Midões
À direita, escadas dão acesso ao lavadouro comunitário
Cão descansa no topo de um telhado
Cão repousa num telhado
Barcos e batéis no cais da aldeia de Midões, rio Douro
Cais da aldeia de Midões
Casa de xisto na aldeia de Midões
Casa em xisto

Castelo de Paiva – o que fazer, onde comer, onde dormir

Castelo de Paiva desfruta de duas vantagens duras de bater: a proximidade à cidade do Porto e o encosto ao rio Douro, via fluvial navegável daqui até à sua foz. A história da sua economia, da sua política, do seu turismo, não se consegue desligar destes dois atributos elementares. De cá, à beira do que hoje chamamos o Choupal das Concas, partiam rabões carregados de carvão até às centrais eléctricas próximas da Invicta, fazendo do Douro estrada. Hoje, a indústria exportada é outra, maioritariamente ligada ao calçado e à produção de peças para automóveis. A autoestrada não fica muito longe, permitindo escoamento rápido até à A1. O rio vê-se agora como palco de actividades de desenfado, como os renomados cruzeiros às regiões vinhateiras que por aqui passam a caminho da Régua.

Se repararmos, Castelo de Paiva está todo virado para os seus rios. O Douro, como já falámos, mas também o Paiva, o Arda, o Sardoura, que descem das serras a sul. É à beira-rio, ou perto disso, que descobrimos os melhores destinos paivenses: Sobrado e Castelo de Paiva lado a lado enquanto urbes de referência da concelhia; a aldeia de Midões, a cair no Douro, que dava uma bonita pintura nas mãos certas; a vizinha Gondarém, que só peca por não ter ribeira para aliviar o calor; a Praia do Castelo que está defronte da lendária Ilha dos Amores; o simbólico Entrudo de Pedorido, realizado na foz do Arda, depois de um cortejo que atravessa a Ponte Velha; e o Monte de São Domingos, de onde avistamos quase tudo o que acabámos de referir acima. Até o que é de má memória lá anda, como o Anjo de Portugal, homenagem escultórica à tragédia da ponte de Entre-os-Rios. Uma boa forma de correr a maior parte destes poisos é fazendo o percurso Viver o Douro.

O flanco meridional do município, constituído por pequenas e médias elevações junto a Real e a Paraíso e onde os caudais fluviais são nulos ou insuficientes, está presentemente pouco mais que vazio, com algumas povoações dispersas mas sempre com escassos habitantes. No caso de Paraíso, ficou a recordação dos antigos e desgastantes trabalhos mineiros, estaleiros de extracção dos subsolos onde abundam o cobre, o ferro, o chumbo, o antimónio, o estanho, e o carvão. Mas ainda esconde uma das romarias mais pitorescas do concelho, a de Santa Eufémia, em Setembro no, no lugar de Touris. E a freguesia de Real vive numa indecisão do relevo - de um fértil vale crescem de mansinho os maiores outeiros paivenses, como é o caso do Monte de Santo Adrião.

Onde comer

Para comer, o Raiva, que é também restaurante de serviço de um hotel de luxo de que já falaremos, tem óptima cozinha de autor onde os pratos variam conforme os ciclos das colheitas. No extremo oposto, indo à cozinha popular sem adornos mas feita com muito coração, temos na vila de Castelo de Paiva a Adega do Sporting, que confecciona travessas de acepipes típicos como poucos - os pratos mudam de dia para dia, mas há snacks recorrentes, como os bons bolinhos de bacalhau. Bom cabrito, mas normalmente por encomenda, é na Casa de São Pedro - e por lá temos de sobremesa o célebre Pão de Ló de Folgoso que, com a Sopa Seca, emproam as sobremesas tradicionais municipais.

Onde dormir

Para dormir, se o plafond for alto, o Octant Hotels Douro é maravilhoso, dissimulado em socalcos sobre o rio que lhe dá nome, carregado de serviços de luxo, tendo como complemento o já mencionado restaurante Raiva. Também à beira-rio, mas desta vez no Paiva, há três casas que fornecem dezasseis quartos - dão pelo nome de Rio Moment's e estão bem perto de um par de praias fluviais. A preços mais modestos, temos a simples mas cómoda Casa da Bichaca, ou ainda o Cimo da Vinha - Nature Spot, embuçado numa serra de densa vegetação onde a calmaria do sul do concelho se afirma.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.05319 ​; lon=-8.32981

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