Igreja de São Salvador de Ansiães
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Dentro do Castelo de Ansiães havia uma velha vila onde o povo se elevou a alcaide e amiúde se revoltou contra os Senhores da terra. Era complementada com dois templos. Um deles, a Igreja de São João Baptista, é agora pouco mais que parede desmantelada, desguarnecido de cobertura. O outro, a Igreja de São Salvador, espeta-nos com um enigmático portal que ainda hoje é alvo de debate, sendo considerado Monumento Nacional desde 1928.
Nascimento anónimo
Sabemos pouco acerca do ano de nascença da Igreja de São Salvador, na antiga vila de Ansiães, antes de esta ser transferida para a actual Carrazeda.
Alguns estudiosos apontam o século XII, outros o século XIII. Outros ainda referem ambas as centúrias como hipótese, advogando que os portais laterais, virados a norte e a sul, bem como o arco triunfal, serão provavelmente do século XII, e o magnífico portal virado a ocidente datará do século seguinte.
É até possível que aquilo que vemos tenha vindo a ser uma construção sobreposta a um templo ainda mais antigo, sugestão que só poderá ser confirmada com os sempre essenciais (e parcos) trabalhos de arqueologia nacionais.
Uma certeza que existe: foram vários os momentos da sua edificação. Tenhamos o século XII ou XIII como o correcto, podemos dar como certo que é um produto do românico do noroeste ibérico, comum a regiões como o norte português, sobretudo com o Minho e o Douro Litoral, e a actual Galiza. Confirmado está também o restauro durante o período gótico – embora menos marcante, parece evidente que, no século XV, vários acrescentos foram construídos, como por exemplo a capela anexa à igreja que se encontra do lado poente e que se destinava a receber os túmulos da família Sampaio, senhoria da vila por decisão de D. João I.
A juntar a isto, há todo o restauro de que a igreja foi alvo depois de uma explosão que destruiu boa parte do templo, já na primeira metade do século XX.
Arcos românico e gótico, lado a lado
Um portal que virou monumento nacional
Quem olha para igreja de forma despreocupada, apenas como mais um elemento da antiga vila fortificada de Ansiães, não entende como é que tal objecto foi elevado a Monumento Nacional, classificação máxima a que um activo do património português pode almejar.
A resposta está no portal que se encontra do lado poente, um extraordinário exemplar de arquitectura românica portuguesa, aliando um fecundo simbolismo a um traço tosco, num terno antagonismo entre a erudição do conteúdo e a simplicidade da forma.
No tímpano, isto é, no espaço que está entre o topo da portada e as arquivoltas, reconhecemos um Cristo em Majestade, imagem repetida em vários pontos da Europa mas que escasseia no nosso país. Com efeito, há, que se saiba, quatro exemplos desta iconografia cristã esculpidos em Portugal: em Bravães, em Rates, em Sepins, e, claro, em Ansiães, o caso que aqui descrevemos.
O tímpano e o seu Cristo em Majestade
Portal ocidental, um marco do Românico nacional
O Cristo em Majestade é representado por Jesus sentado num sólio, rodeado pelos quatro evangelistas ou por animais que os personificam. Normalmente, carrega consigo um livro, a Bíblia Sagrada. Estamos, portanto, perante um trono celeste, onde um Cristo se investe como organizador do espaço e do tempo – no fundo, um Cristo Rei, regulador do mundo.
No entanto, o caso de Ansiães revela-se mais complexo, porque o significado do tímpano é complementado pela simbologia das arquivoltas que o encimam. Na primeira arquivolta, isto é, a que se situa imediatamente acima do tímpano, não vislumbramos qualquer ornamento. Contudo, na que se encontra acima dessa, temos um alinhamento dos apóstolos de Cristo, possivelmente com a adição de Moisés na ponta direita, conforme sugere Jorge Rodrigues na História da Arte Portuguesa. Acima, uma contínua linha de cabeças animalescas (ou de beakheads) morde o tronco da arquivolta. E por cima delas, uma outra arquivolta de difícil decifração remete para acções mundanas e populares – nela conseguimos identificar, por exemplo, um guerreiro.
Assim, é muito provável que tenhamos neste portal um críptico conjunto, onde cada componente se relaciona com a seguinte, não obstante estar já degradado em várias das suas partes, além de ter certamente levado adendas posteriores à data da sua criação. Na arquivolta superior temos o mundo dos homens, ou, de outra forma, o mundo dos pecadores. Do lado oposto, no tímpano, o mundo dos céus ou dos justos, com Cristo no epicentro, rodeado pelos evangelistas e apóstolos. Entre um polo e o outro, existe uma barreira de criaturas demoníacas que representam o obstáculo com que o homem terreno se depara ao fazer o seu caminho em direcção a Deus.
No fim de contas, esse é o sentido do portal ocidental da Igreja de São Salvador de Ansiães: o homem, se sobreviver aos seus próprios demónios, ou por outra, se superar os seus próprios pecados, encontra-se, enfim, com o seu Deus.
Carrazeda de Ansiães – o que fazer, onde comer, onde dormir
De uma vila medieval - hoje o abandonado Castelo de Ansiães que guarda, entre outras coisas, a bela Igreja de São Salvador -, o povo fez as malas e assentou em terriolas cercanas. Uma delas, a mais povoada das redondezas, foi a de Carrazeda, agora conhecida como Carrazeda de Ansiães, sede de um concelho vigilante do Douro e do Tua.
Em Carrazeda, aproveite-se a Taberna da Helena para quem gosta de boa carne. Num registo mais castiço, o restaurante Convívio também se recomenda. Os produtos da região têm na Feira da Maçã, do Vinho e do Azeite a altura ideal para serem provados - está marcada para final de Agosto, em Carrazeda. Fora da gastronomia, os carrazedenses que me perdoem mas, na minha opinião, o que há mais para oferecer no município está na natureza e não na actual vila: as belas anta de Vilarinho da Castanheira e anta de Zedes, bem como o imponente planalto granítico sobranceiro ao Douro e que pode ser percorrido através da Rota dos Miradouros, tal como vários lugares lendários como a Fraga da Ôla e a vizinha Fraga das Bruxas.
Para dormir, há uma bonita morada em Vilarinho da Castanheira, a Casa Dona Urraca. Na fronteira sul do concelho, os socalcos vinhateiros dão-nos dois óptimos poisos de xisto: o Hotel Casa do Tua e o Terraços de Baco, ambos excelentes para entrarmos no mundo dos vinhos do Douro.
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.20251 ; lon=-7.30498