Vendas Novas – o que fazer, onde comer, onde dormir
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Vendas Novas, alcunhada como a terra das portas do Alentejo dada a sua posição face a quem vem de Lisboa, é autarquia recente. Antes parte da concelhia de Montemor-o-Novo, a sua particular demografia, bem como um conjunto de hábitos e comportamentos peculiares – fruto da sua condição de cidade-quartel – aliados a uma abastada rede industrial, forçaram a sua independência municipal.
O desenvolvimento assentou em quatro pilares, cada um com uma história muito própria, mas todos, de alguma maneira, interligados: no primeiro, a construção de um palácio que serviu de hospedaria para rei e família; no segundo, uma Escola de Artilharia que viria a mudar a cara da terra e que criou o bairro do Polígono, ainda hoje presente na gíria de Vendas Novas; no terceiro, uma estação de comboios que a colocou como definitivo sítio de passagem obrigatória; e no quarto, uma indústria forte dedicada ao mercado automóvel e à cortiça. Falemos deles por partes.
O palácio, hoje convenientemente chamado Palácio das Passagens, surgiu de forma apressada enquanto lugar estratégico na estrada que ligava Lisboa a Vila Viçosa e a Évora, e com o intuito de dar cama às princesas portuguesa e espanhola que puseram os dois reinos ibéricos alinhados numa política europeia comum. Dele se fizeram construções suplementares, como a Capela Real ou o Chafariz Real.
A Escola de Artilharia veio ocupar o edifício do palácio supramencionado e trouxe a Vendas Novas aquilo que quase nenhuma povoação alentejana tem, um melting pot dos quatro cantos do país, e que a afasta do molde de toda a sua vizinhança. Com os militares, tudo mudou. Lojas e tascos e tavernas abriram para cobrir a procura destes rapazes que pelas cinco da tarde saíam de serviço e encantavam as meninas com as suas fardas, deixando os gaiatos da terra trombudos com as preferências das suas amigas de infância. Com efeito, Vendas Novas, a partir do século XIX, tornou-se uma Babel lusitana – os sotaques ouvidos ora soavam aos das gentes da Beira, de Trás-os-Montes, do Minho, do Algarve, por vezes até das ilhas ou das colónias.
Quanto ao comboio que começou a parar por cá, muito por causa dos miúdos do exército que tanto vinham como regressavam, acabou por impulsionar uma vila que rapidamente se tornou cidade. A locomotiva daqui saía e só fechava serviço na estação de Setil, perto do Cartaxo, e a curta distância de Santarém. Vendas Novas ficou mais próximo da margem direita do Tejo e reduziu distância para as terras mais a norte. Um trampolim para os negócios vendasnovenses que agora tinham mais vias por onde escoar os seus produtos.
E daí até às fábricas de hoje só não foi um tirinho porque, teimosamente, e também por ordenação do Estado Novo, a ruralidade vingou por mais tempo do que seria expectável. Nada que o tempo não corrigisse, com um robusto tecido industrial a aterrar em território vendasnovense na segunda metade do século XX, e tornando-a um dos poucos lugares alentejanos a não conhecer a velhice.
A esquadria da aldeia de Landeira
Além do palácio principal, há um alternativo, a norte da cidade, de nome Palácio do Vidigal que, embora muitas vezes fechado, é interessante de se ver, mesmo que por fora – servia de resguardo de D. Carlos, quando vinha às suas montarias alentejanas. Fora esse, há dois outros monumentos a ter em conta, desta feita religiosos: um na ponta leste do concelho, na estrada que leva a Montemor, conhecido por Capela Marconi, com traço de Jorge Segurado e vitrais de Almada Negreiros; outro na ponta oeste do concelho, na idosa povoação de Landeira, mais antiga que Vendas Novas, que é a Igreja de Nossa Senhora da Nazaré.
Se o concelho sofre de alguma escassez no que toca a património histórico e até de património espiritual (José Viale Moutinho, no seu livro “Portugal Lendário“, queixa-se de Vendas Novas não ter tradição oral de assinalar dado o seu acelerado “ritmo industrial”), o mesmo não acontece com a gastronomia, riquíssima, e com cada vez mais petiscos a saborear.
Onde comer
Não é tanto na restauração que Vendas Novas tem substância, embora haja um ou outro estaminé com interesse, como o Retiro do Bom Gosto, de cozinha simples, assente sobretudo em grelhados de peixe e de carne, ou a Taberna do Fuinha, na aldeia de Landeira, uma petiscaria que vai aos assuntos do mar – no camarão, no berbigão, no choco…
Onde há mais para falar é nas invenções gastronómicas de Vendas Novas. Aí, não desvalorizando outros exemplos, há uma tríade a que não se pode escapar: os queijos frescos da Queijaria das Romãs, a Empada Rainha feita de galinha desfiada e maravilhosamente condimentada, e as incontornáveis Bifanas de Vendas Novas, vendidas ao longo da rua da Boavista (e no que toca a vendas, o Café Boavista continua a ser um dos mais procurados por ter sido pioneiro nestas lides). Qualquer uma das iguarias acima apresentadas já se tornou tão conhecida que é possível tomar-lhe gosto noutros pontos do país, nomeadamente nos grandes centros urbanos como Lisboa e Porto, mas se se quiser chegar à experiência autêntica é a Vendas Novas que se deve dirigir.
Onde dormir
Apesar da inegável melhoria da última década, a hotelaria ainda não é o forte do concelho. De qualquer forma, há opções a ter em conta, na cidade e no campo.
Caso a intenção seja ficar dentro do burgo de Vendas Novas, há uma residência de linhas modernistas, a lembrar qualquer coisa entre o Português Suave lisboeta e a casa popular alentejana, chamada Casa Fisher, bem perto dos pontos de interesse mais visitados.
Fora da urbe, alargamos a escolha para turismos de feição rural. Aí, temos perto da aldeia de Landeira a Casa Zanzibar, com piscina exterior nos meses quentes e espaço para famílias prolíficas. Não muito longe de Landeira, na agora aldeia de Piçarra, um antigo monte alentejano que virou povoado, estão as Casas das Piçarras, um recente projecto muito bem cuidado e com um terno respeito pela vivência do sul português.