Palácio do Vidigal

Quando ouvimos palácio, logo nos vem à tola as extravagâncias do romantismo, que por cá têm maior representação na vila de Sintra e seus arredores, com o Palácio da Pena à cabeça. Depois pegamos nos dois exemplos de Vendas Novas que reclamam a mesma catalogação – o Palácio do Vidigal, que é o que aqui nos interessa, e o Palácio das Passagens, hoje parte das Forças Armadas Portuguesas – e, tendo essa ideia já concebida, não há como negar algum desapontamento.

A verdade é que nem todo o palácio pressupõe a overdose de cor e ornamento que habitualmente lhe atribuímos, e o problema está aí, num pré conceito que tende a ser redutor. Assim que conseguirmos limpar as imagens que o cérebro nos devolve sempre que alguém fala de um alçado palaciano, estamos prontos para encontrar a beleza de outros registos, como acontece com os dois monumentos vendasnovenses, mormente para este Palácio do Vidigal que, à primeira vista, mais parece um challet dedicado ao turismo que teve de encerrar por falta de clientela.

Um casa para a caça

A premissa para o Palácio do Vidigal é de curta explicação. Um rei, D. Carlos, dado aos prazeres da caça nas planícies do sul, queria sítio onde dormir num Alentejo próximo de Lisboa. Havendo um vasto território inexplorado colado à povoação de Vendas Novas, ali instalou uma casa que servisse o propósito, a si e a quem se juntasse, num lugar que abarcava um monte que deu nome à herdade – o Monte do Vidigal ou, como passou a ser popularmente referido, Monte Real do Vidigal. Como tal bloco quadrangular, de vasto alpendre e abundante em janelas, era usado por um rei, lá levou o palácio no título. Estávamos na ponta final do século XIX.

Outras obras, satélites da do palácio, se sucederam: uma arena, saciante de outro grande desenfado do monarca, as corridas de toiros; uma capela, onde está pendurada a pintura da Senhora da Conceição que, segundo a tradição, terá vindo do pincel de D. Carlos, e digo segundo a tradição porque não lhe descortinei a assinatura; uma estação de comboios a leste, integrada na agora fechada Linha de Vendas Novas, que deixava os visitantes a um pé do casarão real; um pavilhão dedicado às actividades cinegéticas tão apreciadas pelo rei, realização que, depois do regicídio de 1908, ficou por concluir.

Mas regressando ao edifício principal, o dito palácio, seguiu algumas das linhas da arquitectura popular do Ribatejo e de parte do Alto Alentejo. O corredor que dá a volta à casa e introduz cada um dos quartos, o pátio interno em terra batida, as molduras pintadas sobre paredes alvas, tudo isto são elementos que nos lembram a casa de campo da lezíria, evidentemente adaptada às proporções de um monumento régio.

Actualmente, todos os empreendimentos da Herdade do Vidigal contam com pouco ou nenhum uso. A praça de toiros, que no século XX ainda recebeu uma ou outra corrida, é pisada, muito de vez em quando, para treino de lide tauromáquica. O apeadeiro, tendo em conta que já ninguém cá vem, terminou actividade. Já o palácio, hospeda pontualmente comezainas de clubes de caça locais – há quem explore a ideia de o transformar num Hotel de Charme com especial atenção para quem procura turismo de caça, o que seria bom, até pela falta de oferta hoteleira em Vendas Novas.

E por fim, um alerta: a visita ao Palácio do Vidigal só pode acontecer com agendamento e boa vontade dos responsáveis pelo pelouro do turismo do concelho de Vendas Novas. A herdade está na posse da Fundação Casa de Bragança e, por regra, tem acesso interditado. Há certos dias do ano em que os portões se abrem, mas é preciso ter muita sorte para apanharmos uma dessas borlas. O ideal é mesmo ligar e ver se há disponibilidade.

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