Queijo Fresco da Queijaria das Romãs

Para muitos, a gastronomia de Vendas Novas começa e acaba nas bifanas. Por muito mérito que a dita tenha, que o seu destaque não ofusque outras ofertas, sobretudo na doçaria e no muito saboroso queijo fresco da Queijaria das Romãs, vendido em vários pontos do país, mas saído de uma quinta situada nas faldas da cidade alentejana.

Frescos e salgados, como sempre se quis

Lembro-me de sempre ter comido bons queijos frescos, alguns, talvez, de venda ilegal. Fui citadino, enquanto gaiato e enquanto adulto, mas passava com frequência semanas inteiras de férias no campo. E por isso posso dizer que tenho olho crítico em relação a qualquer queijo fresco, mas sobretudo o de ovelha, que começou a escassear em quantidade e qualidade.

Parece uma lapalissada mas o atributo que deve sobressair de um queijo fresco é estar fresco. Muitos não estão ou se estão não o mostram. Seja pelo granulado evidente, seja pela excessiva solidez, seja pela indesejável secura, seja pelo sabor insosso. Qualquer um destes aspectos é marca de um mau queijo fresco. E alguns conseguem o bingo de fazer check em todos os sinais de alerta.

É por isso que o agradecimento a Isabel Enes Ferreira, antiga professora e antiga lisboeta, mulher fundadora da Queijaria das Romãs, deve ser redobrado. Uma aposta arriscada de uma família à antiga – marido, mulher, e cinco filhos – que se fartou da azáfama ruidosa de Lisboa e optou pelo escape em direcção à ruralidade. Rumou ao Alto Alentejo, mais concretamente a Vendas Novas, numa viagem em contra trânsito, considerando que nas últimas décadas a migração é quase exclusivamente do Alentejo para Lisboa.

Disse Isabel publicamente que nada sabia de queijos, o que parece mentira. Normalmente, uma coisa tão boa vem de um legado, de alguém que nasceu no meio. Não foi o caso, e que isto sirva de inspiração a quem acha que nunca vale a pena começar do zero. A Queijaria das Romãs sabe fazer muita coisa, mas são os queijos frescos que ficam na memória. Vê-se logo sem os termos de comer – emparelhados numa embalagem plástica com depósito suficiente para se perceber que secos não estão. Mas logo depois vem a confirmação. Suaves e ligeiramente salgados, suficientemente cremosos para não se ter de mastigar, suficientemente coalhados para não se ter de sorver.

Experimentei-os de várias formas. Com sal e pimenta. Só com sal. Só com pimenta. Com azeite. Com azeite e alecrim. Com azeite e tomilho. Com compotas várias – morango, frutos do bosque, abóbora, alperce. O sacana do queijo vai bem com tudo. E vai bem a solo – o teste final, se fosse preciso ficar com essa última certeza.

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