Chafariz Real de Vendas Novas

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Em 1728, D. João V ordena a construção do Palácio das Passagens. Serviria de pousada à família real e à corte na ida e na vinda de uma viagem entre Lisboa e a fronteira com Espanha, junto a Elvas, jornada que ficou gravada na memória da história portuguesa como a da Troca das Princesas. Necessitou-se de uma boca de água e de um tanque que abastecessem os trabalhadores contratados para o serviço – os de duas e os de quatro patas. Até hoje a fonte perdurou, com pequenas alterações à sua forma primordial. E ainda a chamamos de Chafariz Real de Vendas Novas, para que ninguém se esqueça que a obra resultou do querer de um rei.
A fonte, o bebedouro, e a lavandaria
Conhecer a história do Chafariz Real de Vendas Novas é passar revista a toda a vida do concelho, pois foi a partir da sua estreia que Vendas Novas realmente se começou a desenvolver.
Inicialmente, a fonte aproveitava um veio de água vindo do Monte do Viveiro e matava a sede e o calor de quem suava a colocar pedra sobre pedra no novo monumento régio da terra – as pessoas amanhavam-se através de uma bica, no centro do chafariz, e os animais, sobretudo cavalos, recarregavam energia por intermédio de dois compridos reservatórios, que ladeavam a primeira.
A maioria dos trabalhadores que ajudou no levantamento do palácio não era de cá, porque Vendas Novas, antes da monumental obra ser projectada, pouco mais tinha do que casebres a picotar campo aberto de rasteira vegetação. É bem possível, portanto, que um bairro provisório tenha sido criado para acolher esta gente, e que o dito se situasse algures por aqui. Depois de concluído o Palácio das Passagens, a fonte há-de ter mantido as suas funções – como principal meio de abastecimento de água da população que agora crescia de década para década, da cavalaria que continuava a estacionar no piso térreo no palácio, do gado que trazia algum sustento às famílias vendasnovenses, e dos aguadeiros que aqui viram uma oportunidade de encher as suas carroças de bilhas para depois as comercializarem porta a porta.
A vinda da Escola Prática de Artilharia para cá, que passou a ocupar o Palácio das Passagens, deu uma nova cara à fonte – ganhou uma cobertura num dos seus lados, que passaria a estar guarnecido de lavadouros públicos onde as mulheres vinham enxugar as roupas imundas dos novos recrutas. Amealhavam algum dinheiro com isso e sempre conseguiam aumentar o orçamento mensal da casa.
Este foi o cenário do Chafariz Real de Vendas Novas durante pelo menos duzentos anos, porque mesmo na primeira metade do século XX a então vila de Vendas Novas não dispunha de água canalizada – como, aliás, boa parte do Alentejo. Tudo mudou com a dita água de rede, começando aí o abandono de uma bica que saciou tantas gerações. Ainda assim, talvez para não deixarem o chafariz ser apagado da memória colectiva dos vendasnovenses, alguns eventos municipais ou privados são reservados para este lugar.
A lenda do Charafiz Real de Vendas Novas
Leonel da Cunha transmite no seu livro “Vendas Novas – das passagens e dos passantes” – que, digo-o como nota de rodapé, muito me surpreendeu pela qualidade da escrita – uma lenda respeitante ao nobre chafariz.
Cria o povo que D. Miguel, o Absolutista para uns, o Tradicionalista para outros, vinha a Vendas Novas de cara coberta pela noite para provar um famoso chá de uma estalajadeira vendasnovense. Talvez o seu desejo fosse mais do que apenas apreciar os dotes culinários da senhora, mas o certo é que era o chá que passava como desculpa para uma viagem arriscada. Ora, segundo a lenda, o segredo da infusão não estava nas folhas mas na água, que vinha directamente da bica do Chafariz Real.
A crença na qualidade superior da água daquela fonte teve continuidade no século seguinte, já que a população de Vendas Novas, sobretudo a mais velha, continuou a dizer que quem vinha à terra e provava tal cristalinidade não mais sairia de cá, ou que se por alguma razão maior tivesse de abandonar este lugar, rapidamente voltaria. Tudo coisas do passado, porque agora o aviso que lá lemos é bem explícito e completamente contrário ao antigo credo: “água imprópria para consumo”.
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=38.67155; lon=-8.45778