Palácio dos Condes de Ficalho
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Há monumentos que funcionam como livros. No caso, livros de inspiração queirosiana, onde a narrativa se centra numa só família, contextualizando-a de acordo com as suas várias gerações. E aqui está mais um para a biblioteca nacional, o Palácio dos Condes de Ficalho, residência centenária dos Mello de Serpa.
História
A ideia de encostar às muralhas do Castelo de Serpa uma casa senhorial – um solar, no fundo – partiu de D. Francisco de Mello, alcaide-mor, e surgiu no século XVI. Já neste sítio existia, porém, uma antiga residência, propriedade dos Mello. A obra que agora se vê, contudo, só seria terminada pelos seus descendentes, D. Pedro de Mello e D. António Martim de Mello, já no século XVII.
Depois de um século XIX que não lhe foi piedoso, com os habituais custos astronómicos de recuperação de património a dificultarem a travagem na sua deterioração. no passado século houve requalificação na década de 40, de 50, e de 70. Em 1984, as intervenções realizadas tiveram prémio: o palácio foi reconhecido pelo Institut International des Châteaux Historiques, organização reconhecida pela UNESCO.
Os Mello, apesar de aristocratas, mantiveram uma histórica relação com os serpenses, misturaram-se na cultura popular da terra, serviram as causas do município, e daí se compreende o respeito e admiração de que a família goza ainda hoje.
Em 2021, seguindo a tradição de serviço público que pautou a relação da família Mello com os serpenses, o Palácio dos Condes de Ficalho é aberto ao público.
Fachada do Palácio dos Mello de Serpa
O Palácio dos Condes de Ficalho por dentro e por fora
Uma das particularidades que o tornam famoso é a sua colagem, a oeste, ao pano de muralha do Castelo de Serpa, ganhando, desde logo, o apelido de Casa do Castelo por isso mesmo (e ainda havia quem lhe chamasse, de forma obviamente leiga, o prédio). Da ponta sudoeste do castelo, onde um poço de água se encontrava, fez-se depois um aqueduto, ainda hoje visível, que visava abastecer o palácio.
De estilo essencialmente maneirista no seu exterior, como é notório pela sua disposição longitudinal, não abdica de piscar o olho ao dito estilo chão, na rigidez e no primado da ordem que podemos encontrar, por exemplo, na fachada principal, de dois pisos, onde uma parede branca apenas tem nas janelas e nas portadas um pequeno, mas organizado, sobressalto.
A sua aparência exterior, avessa ao ornamento, contrasta, contudo, com o cenário onde se encontra, na zona alta da cidade amuralhada, dominante e omnipresente, sobretudo quando o olhamos do lado de fora do castelo.
Por dentro, salas amplas comunicam através de galerias, respeitando a forma austera que identificámos no exterior. O piso inferior e superior ligam-se por uma ilustre escadaria. Destacam-se, no piso de cima, a azulejaria e as pinturas da Sala dos Espanhóis.
A sul do palácio encontra-se o jardim, com cerca de meio hectare, também restaurado no século XX, dividido entre um pinhal pontuado por cactos, a oriente, e um quadrangular pomar de laranjeiras regulado por buxos e ciprestes, a ocidente. No seu centro, um tanque octogonal medeia o espaço.
Os Mello de Serpa
Descendentes de um nobre companheiro de luta de D. Afonso III, os Mello foram uma das famílias que mais tinha durante o período seiscentista e setecentista, mas não deixaram que a fortuna fosse uma barreira à proximidade com o povo serpense – e esta relação começou logo assim que João de Mello foi nomeado alcaide-mor de Serpa, sensivelmente a meio do século XV, durando até à hora em que se escrevem estas letras.
O compromisso dos Mello com a cidade de Serpa, a terra forte alentejana, manteve-se desde sempre, como uma missão, muitas vezes misturando política ao assunto, como se verificou com a 1ª Duquesa de Ficalho, D. Eugénia, que acabou presa dadas as suas simpatias liberais.
Décadas depois, o 4º Conde de Ficalho, Francisco Manuel de Mello Breyner, ficou conhecido como homem da cultura, da política e da ciência, em particular da botânica, amigo de Eça de Queiroz, sendo admirado e elogiado pelo próprio rei D. Carlos.
A relação com a família de Eça de Queiroz, por capricho do destino, voltou para cima da mesa, através do casamento de Maria das Dores (neta do escritor, que chegou a escrever sobre o palácio, classificando-o de confortável) com António Martim de Mello, 4º Marquês de Ficalho.
Visitar o palácio
É graças ao espírito aberto da família Mello – depois de tantas gerações já podemos dizer que lhes corre no sangue -, que podemos actualmente visitar o Palácio dos Condes de Ficalho. Agradecimentos do país a Matilde Maria de Mello que, em conjunto com as filhas, deu seguimento ao legado que lhe foi passado, permitindo que uma casa já classificada como monumento nacional desde 2007 possa ser gozada pelos portugueses.
Neste momento, as visitas são guiadas e segundo marcação. No futuro, eventos e alojamentos serão uma realidade. Também o jardim tem previsto acesso público com instalação de um quiosque.
Serpa – o que fazer, onde comer, onde dormir
Serpa, terra quente e fundada por uma lendária serpente alada, guarda uma das melhores gastronomias do Alentejo - passando à frente do Queijo de Serpa, que esse é tão bom que se torna óbvio demais, temos os magníficos azeites, os requeijões e queijadas, o pão e os seus ensopados, as carnes de caça, e o vinho, claro, sobretudo o tinto. Aproveite-se a Feira do Queijo do Alentejo, em Serpa, e a Feira do Enchido e do Presunto, em Vila Nova de São Bento, para experimentar tudo isto.
Mantendo-nos no tópico gastronómico, recomenda-se uma ida (ou mais) ao restaurante O Alentejano (o ensopado de borrego ou as sopas de cação com coentros são muito boas), à adega Molha o Bico (várias especialidades orientadas para o trato do borrego), à cervejaria Lebrinha (um ícone para moradores e visitantes), ou ao restaurante Pedra de Sal (a comida é menos alentejana do que nos prévios, mas nem por isso pior).
Na cidade, os sítios de visita axiomática são o Castelo, e é quase impossível não o ver estando lá, a Torre do Relógio, o Palácio dos Condes de Ficalho, e o Museu do Relógio, entretanto agora com um irmão mais novo instalado na cidade de Évora.
É também por estes lados que o Cante Alentejano mais se faz ouvir nas tabernas - e aqui temos de realçar a taberna do Xico Engrola, onde se dirigem os homens dos grupos de coral para improvisarem canções alimentadas pelo copito de tintol.
No que toca a natureza, a Serra de Serpa e a sua curiosa história de divisão de território, num longínquo conflito entre a facção comunal e a facção privada, vale a pena. Mas estamos perto do Guadiana, e por isso vivê-lo, seja lá de que forma for, é fundamental, mesmo numa visita curta - há canoagem a acompanhar o sentido da corrente em direcção ao concelho de Mértola, há festividades como a que acontece em Junho na povoação de Brinches, há percursos que picam os antigos moinhos movidos a águas fluviais.
Para dormir, é favor passar a noite na beleza singela da Casa do Xão, um sítio que sublinha o conceito de tempo lento, tão vincado no Baixo Alentejo. O Monte da Morena, uma velha casa agrícola recuperada com piscina e largo terraço para pequenos-almoços.
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=37.94467 ; lon=-7.59909