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O Monte Murado faz jus ao nome: é um monte, para começar, e amuralhado, a complementar. Fica na freguesia de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia. Hoje é também conhecido como Castro da Senhora da Saúde.

O castro de Monte Murado

Poderíamos classificar o Monte Murado como um santuário – neste caso, conhecido como Santuário da Senhora da Saúde. Também como uma elevação, que o é, naturalmente. Ou até como um restaurante, porque ele também existe, lá no meio, bem central.

Contudo, iremos por aquilo que estará na sua origem: o castro e o trabalho arqueológico de que foi objecto, que será a causa maior da sua fama, quer pelos achados de lá sacados, quer por uma lenda estranha e pouco comum que tem sido associada à zona.

Naquela elevação encontraram-se os vestígios que rapidamente apontamos à Cultura Castreja galaica do norte de Portugal: as linhas de muralha a desenharem a fortificação, e sobretudo as plantas circulares das casas por lá erigidas, pedra a pedra.

No entanto, escavações recentes, iniciadas no último quarto do passado século, vieram pôr em cima da mesa outras hipóteses, agora praticamente confirmadas: o povoado não seria propriamente Galaico mas sim Túrdulo (ou Túrdulos Velhos, Turduli Veteres), um povo que, até aí, era mais tido como lendário do que como histórico.

Este dado basta para que o Monte Murado seja visto como um magnífico testemunho de uma tribo que, até há bem pouco tempo, apenas encaixava em relatos brumosos, um dos quais vindo de Estrabão, mas que lembravam uma aliança curiosa, entre Túrdulos e Turdetanos, que rumaram de sul para norte, encostando-se cada vez mais ao litoral oeste ibérico e, ao que tudo indica, no caso dos Túrdulos, aqui estabelecidos. Um desses relatos encontra paralelo na célebre lenda de Ponte de Lima, que versa acerca de um rio que nos faz perder a memória, tido como Rio do Esquecimento. Terão os Túrdulos chegado tão longe?

No final, aconteceu a este monte castrejo o mesmo que a todos os outros da península: romanizou-se, passando para a bitola de um vasto império que, apesar de tudo, dava alguma flexibilidade a que os hábitos autóctones se mantivessem como sempre tinham sido.

Monte Murado hoje

Actualmente, o Monte Murado está rodeado de modernidade. Tem no seu lado poente a autoestrada A1 a contornar-lhe a encosta – indo no sentido Porto-Lisboa, conseguimos ver claramente a pequena elevação, apinhada de eucaliptos e pinheiros. Do outro lado, a oriente, encontra-se Idanha, numa colina verdejante provida de casario.

Entre uma e outra encosta está a Área Arqueológica e, agora, o Santuário de Nossa Senhora da Saúde, bem visível pela torre de planta quadrangular, nobre, a dominar o céu – que é igualmente observável da autoestrada para quem se dirige para sul. Antes dela, entrando do lado nascente (a única forma de lá chegar de carro), temos um Cruzeiro ligeiramente abaixo.

Ao redor do templo há variados tipos de árvores mas destacam-se, sobretudo, a penedia que existe nas traseiras do santuário, ou seja, do lado direito para quem se encontra defronte do portão de entrada da igreja. São esses penedos que motivaram uma das mais antigas e encantadoras lendas do norte: uma que junta mouros, laranjas, vacas e ouro – tudo isto numa dimensão paralela, subterrânea, que não é a nossa. Lá iremos agora.

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Lenda da Mina do Monte Murado

Era nestes verdes que vinha um pastor trazer o seu gado, no caso de vacas, sabendo ele que por aqui havia erva suficiente para abastecer toda a família.

Começou a dar conta, no entanto, que um dos seus animais gostava de escapar ao grupo, aventurando-se por um cerro que ficava lá longe, retornando ao final do dia. O problema é que quando voltava, apesar de vistosa e bem nutrida, a vaca vinha sem leite.

Todos os dias era assim, até que num deles o pastor resolveu investigar. Sem que a ela o visse, perseguiu-a pé ante pé, vendo-a deslocar-se para aquela colina do costume. Seguiu-a lentamente e quando reparou que os penedos formavam um labirinto complexo, decidiu agarrar a cauda do animal. Assim caminhou a vaca e o pastor, agora de papéis trocados: era ela que o guiava a ele.

Avançou sem reticências em direcção a um túnel que escavava a terra, uma mina até às profundezas do solo. O pastor reparou, então, numa luz no fundo, cada vez maior, e maior, e maior, até que o túnel chegou ao fim desembocando num mundo de mil verdes, pastos frondosos, árvores de fruta infinitas. E a vaca, como se nada fosse, decidiu ir pastar para perto de uns homens de feição moura, que a começaram a ordenhar.

Está explicado, pensou o pastor. E estava, mas só a parte da falta de leite de que a vaca sofria nos últimos tempos. Um dos mouros, avistando o pastor, aproximou-se e num tom ameaçador perguntou o que ele fazia por ali, por terrenos que não são dele. O coitado respondeu que a única coisa que fez foi ir atrás de uma vaca que, afinal, era sua, e que apenas o fez por ver que ela estava seca de leite, apesar de todo o bom aspecto que tinha. O mouro, mais calmo, retorquiu:

– Se assim foi, tens desculpa, mas não voltas cá nem te atrevas a contar a alguém o que aqui viste… – e acrescentou -, agora para compensar o dano que te temos feito pelo leite que tens perdido, vai àquele pomar e leva as laranjas que quiseres contigo!

O pastor assim fez. Mais tarde, já de volta ao seu mundo, quando sentiu fome e se lembrou das laranjas que tinha recolhido, reparou, quando tirou uma do bolso, que todas se tinham transformado em bolas de ouro.

Significado da Lenda da Mina de Monte Murado

Não é uma lenda óbvia, como são todas aquelas em que há um cavaleiro cristão, uma bela moura, e um amor impossível que frequentemente termina com o encantamento da última e a sua transformação em fada, em muitos casos maléfica.

E apesar de termos aqui objectos que nos remetem para as moiras encantadas (aqui explicadas nos artigos 1 e 2), como o ouro resultante das laranjas (as nossas moiras são imaginadas pela fantasia popular a pentear os seus cabelos com um pente de ouro, por exemplo, ou mesmo a fiar com rocas e linhas do mesmo material), há vários desvios à norma.

É curioso notar que a viagem tem muito de espiritual e hermético: a descida às profundezas, a chegada da luz (no outro mundo, subterrâneo) e o regresso tendo o ouro como cristalização do novo homem. E mais do que isso, repare-se que a guia vem em forma de vaca, animal sagrado, cultuado em tantas partes do mundo (cá, sobretudo no boi ou no touro). Poderemos entender isto como um relato adulterado de um Guia Divino que leva homem à sua descoberta interior (a mina)? Talvez.

Há quem dê explicações bem mais práticas, entendendo que as laranjas transformadas em ouro são apenas um reflexo lendário de uma realidade concreta do Monte Murado: é que ali se escondem, de facto, tesouros arqueológicos dos Túrdulos Velhos já acima mencionados. E os mouros surgiriam apenas como explicação histórica para tais relíquias ali andarem guardadas – já se sabe que a memória do povo se vai actualizando com os séculos, sendo normal que atribuam a autoria de determinadas artes aos antepassados mais recentes. Certo é que, ali bem perto, contam esta lenda para justificar uma família endinheirada que lá vive.

Vila Nova de Gaia – o que fazer, onde comer, onde dormir

Dizer que Gaia se resume às caves de Vinho do Porto e à vista que se tem sobre a Invicta é extremamente injusto. Não apenas por ignorar toda a zona ribeirinha da Serra do Pilar até ao Cabedelo, com todos os seus bairros de pesca a merecerem visita (ainda mais por altura da Festa de São Pedro), mas sobretudo por omitir o alinhamento de praias que começa a norte, no Cabedelo, e termina na ponta sudoeste do concelho, na Praia de São Félix da Marinha, passando por óptimos areais como o de Lavadores (carregada de lendas, veja-se a da Pedra Moura já aqui falada), o de Miramar (onde se encontra o Senhor da Pedra), ou o da Aguda (com uma bela marginal para caminhadas). Na parte interior do concelho, saliente-se a zona Carvalhos e o seu lendário Monte Murado.

É também em Vila Nova de Gaia que temos das melhores e mais luxuosas ofertas hoteleiras, mesmo para quem queira passar quase todo o tempo do outro lado do rio Douro, na cidade do Porto. Assim temos o The Yeatman, por exemplo, com uma das melhores fotografias que se pode tirar à paisagem urbana portuense. Mas também a Casa das Janelas Verdes, perto da costa.

E já agora, é também em Gaia que podemos comer uma das melhores francesinhas do país, no restaurante Locanda, em Canelas.

Mais ofertas para dormidas em Vila Nova de Gaia em baixo:

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.05785; lon=-8.57545

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