Monte de São Domingos

Monumentos
Natureza
Povoações
Festas
Tradições
Lendas
Insólito
Roteiros
O Monte de São Domingos é um miradouro para boa parte do Douro Litoral, um templo de capela simples dedicado ao santo homónimo, um espaço cultural que dá palco a artistas nacionais, e o destino de uma romaria celebrada no mês de Agosto.
No fim de contas, trata-se de um dos principais eixos do concelho de Castelo de Paiva – uma referência geográfica que, em conjunto com o rio Douro ou o rio Paiva ou o rio Arda, ajuda a sinalizar as gentes da concelhia como honrosos paivenses.
Monte de São Domingos, o prolongamento da cordilheira arouquense
A imensidão das serras interiores entre o Mondego e o Douro, com destaque, no que aqui interessa, para a de Montemuro, a de Arada, a da Freita e a de Arestal, deixou pequenas réplicas em terrenos vizinhos, mesmo os de baixa altitude, como acontece em Castelo de Paiva. O Monte de São Domingos parece nascer daí, da esteira das imponentes cordilheiras que lhe estão próximas.
Trata-se de um cerro quatrzítico com pouco mais de quatrocentos metros de altitude, que estica daqui até, sensivelmente, ao Monte de São Salvador, no já distante concelho de Viseu. É minúsculo se o compararmos com os gigantes que estão à sua volta. Todavia, de lá, e sem condicionantes climáticas, temos vista livre para poente, até quase ao mar – com terras de Gondomar, da Feira, de Gaia e do Porto pelo caminho, e com direito à bonita fusão do Arda com o Douro mesmo ali à beira.
Não admira, pois, que a um monte onde pouco mais havia do que pampilhos e linho, bem modesto na envergadura, pelo menos tendo em conta a envolvente, se tenha atribuído uma romaria e um templo aonde ela se deve dirigir, todos os dias 4 de Agosto, com repetição um mês depois, no início de Setembro.

Torre sineira com ermida de São Domingos ao fundo
A romaria do Monte de São Domingos
Possivelmente, o rito da romaria a São Domingos no concelho de Castelo de Paiva é reminiscente de um outro que se encontra a montante, mais concretamente na freguesia de Fontelo, concelho de Armamar. Também aí há um outeiro, consideravelmente mais alto do que o paivense, dedicado ao mesmo santo e ao qual se faz uma procissão bastante antiga.
Sabemos que esse outro templo foi edificado por cima de um santuário romano, muito provavelmente destinado a uma Deusa associada à fertilidade (como Vénus ou uma variante autóctone desta). Sabemos também que, antes, o cortejo efectuado no Monte de São Domingos de Castelo de Paiva vinha acompanhado de um pedido ao santo: chuva. Assim, concluímos que ambas as colinas que homenageiam São Domingos têm um inequívoco elo com ancestrais rituais ligados à fecundidade da terra.
No caso paivense, a romaria inicia-se lá em baixo, junto da Capela da Senhora das Amoras. Daí parte para sul, em direcção a um cruzeiro que se encontra no sopé do Monte de São Domingos, e segue em ziguezague cerro acima, até atingir a comedida capela, lambida de branco, guardadora de duas imagens de São Domingos com o seu cão anunciador da luz, uma no interior, outra no exterior.
Face à simplicidade das linhas da ermida, cuja origem remonta ao século XIX e pouco tem que dizer para lá do tecto e do retábulo principal pintados da cor do céu, a nossa atenção é captada pela estranha geometria de um outro objecto no exterior: uma torre sineira, montada com a força do ferro, onde se apertam vários sinos, cada um com o seu tamanho, cada um com o seu som. Calhou a este escriba chegar à hora em que eles tocavam. A melodia, dura como aço, tinha pujança para chegar até lá abaixo, a Raiva, a Fontainhas, a Pedorido.

São Domingos com o seu cão

Retábulo com imagem de São Domingos ao centro
Castelo de Paiva – o que fazer, onde comer, onde dormir
Castelo de Paiva desfruta de duas vantagens duras de bater: a proximidade à cidade do Porto e o encosto ao rio Douro, via fluvial navegável daqui até à sua foz. A história da sua economia, da sua política, do seu turismo, não se consegue desligar destes dois atributos elementares. De cá, à beira do que hoje chamamos o Choupal das Concas, partiam rabões carregados de carvão até às centrais eléctricas próximas da Invicta, fazendo do Douro estrada. Hoje, a indústria exportada é outra, maioritariamente ligada ao calçado e à produção de peças para automóveis. A autoestrada não fica muito longe, permitindo escoamento rápido até à A1. O rio vê-se agora como palco de actividades de desenfado, como os renomados cruzeiros às regiões vinhateiras que por aqui passam a caminho da Régua.
Se repararmos, Castelo de Paiva está todo virado para os seus rios. O Douro, como já falámos, mas também o Paiva, o Arda, o Sardoura, que descem das serras a sul. É à beira-rio, ou perto disso, que descobrimos os melhores destinos paivenses: Sobrado e Castelo de Paiva lado a lado enquanto urbes de referência da concelhia; a aldeia de Midões, a cair no Douro, que dava uma bonita pintura nas mãos certas; a vizinha Gondarém, que só peca por não ter ribeira para aliviar o calor; a Praia do Castelo que está defronte da lendária Ilha dos Amores; o simbólico Entrudo de Pedorido, realizado na foz do Arda, depois de um cortejo que atravessa a Ponte Velha; e o Monte de São Domingos, de onde avistamos quase tudo o que acabámos de referir acima. Até o que é de má memória lá anda, como o Anjo de Portugal, homenagem escultórica à tragédia da ponte de Entre-os-Rios. Uma boa forma de correr a maior parte destes poisos é fazendo o percurso Viver o Douro.
O flanco meridional do município, constituído por pequenas e médias elevações junto a Real e a Paraíso e onde os caudais fluviais são nulos ou insuficientes, está presentemente pouco mais que vazio, com algumas povoações dispersas mas sempre com escassos habitantes. No caso de Paraíso, ficou a recordação dos antigos e desgastantes trabalhos mineiros, estaleiros de extracção dos subsolos onde abundam o cobre, o ferro, o chumbo, o antimónio, o estanho, e o carvão. Mas ainda esconde uma das romarias mais pitorescas do concelho, a de Santa Eufémia, em Setembro no, no lugar de Touris. E a freguesia de Real vive numa indecisão do relevo - de um fértil vale crescem de mansinho os maiores outeiros paivenses, como é o caso do Monte de Santo Adrião.
Onde comer
Para comer, o Raiva, que é também restaurante de serviço de um hotel de luxo de que já falaremos, tem óptima cozinha de autor onde os pratos variam conforme os ciclos das colheitas. No extremo oposto, indo à cozinha popular sem adornos mas feita com muito coração, temos na vila de Castelo de Paiva a Adega do Sporting, que confecciona travessas de acepipes típicos como poucos - os pratos mudam de dia para dia, mas há snacks recorrentes, como os bons bolinhos de bacalhau. Bom cabrito, mas normalmente por encomenda, é na Casa de São Pedro - e por lá temos de sobremesa o célebre Pão de Ló de Folgoso que, com a Sopa Seca, emproam as sobremesas tradicionais municipais.
Onde dormir
Para dormir, se o plafond for alto, o Octant Hotels Douro é maravilhoso, dissimulado em socalcos sobre o rio que lhe dá nome, carregado de serviços de luxo, tendo como complemento o já mencionado restaurante Raiva. Também à beira-rio, mas desta vez no Paiva, há três casas que fornecem dezasseis quartos - dão pelo nome de Rio Moment's e estão bem perto de um par de praias fluviais. A preços mais modestos, temos a simples mas cómoda Casa da Bichaca, ou ainda o Cimo da Vinha - Nature Spot, embuçado numa serra de densa vegetação onde a calmaria do sul do concelho se afirma.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.02688; lon=-8.35082