Mesas do Castelinho
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Mesas do Castelinho foi o nome que se arranjou para um povoado situado no concelho de Almodôvar, Baixo Alentejo, de origem pré-romana mas ocupado em várias épocas da história que se seguiu.
O sítio
Estamos em terras de transição, entre o chão alentejano e a elevação do Caldeirão. Numa zona que não podemos considerar apetecível, onde os recursos naturais são parcos – a água é pouca, a terra aparenta ser quase estéril, as minas estão longe -, ruínas de um pequeno povoado irrompem como surpresa de um monte emantado de oliveiras.
As perguntas surgem com naturalidade: o que é isto, quem é que cá vivia, e porquê aqui? E as respostas, como em tudo o que é história distante, nem sempre são directas.
Ao longo de um espaço de sensivelmente três hectares, boa parte deles nada mais do que vegetação rasteira, aventuramos umas teses, baseadas, claro, na ajuda que historiadores e arqueólogos nos deram. É nessas deambulações que conseguimos uma possível resposta a uma das perguntas levantadas – porquê aqui? De facto, como foi dito, o ermo das Mesas do Castelinho não se pode considerar invejável. Mas parece haver nesta zona uma certa ligeireza na passagem das terras baixas sul alentejanas para a Serra do Caldeirão, acessibilidade essa que é pouco repetida noutras partes da fronteira entre Alentejo e Algarve.
Seria, assim, uma zona de passagem. De norte para o sul e vice-versa. Como uma portela. Ou uma porta para o mar meridional.
Os povos de Mesas do Castelinho
As gentes que construíram ou ocuparam o povoado de Mesas do Castelinho variam conforme o momento histórico. Escavações que se foram fazendo vão aproximando-nos da verdade. Parece já comprovada presença pré-romana, algures entre o século V ou IV a.C., mas quem eram esses homens ainda é uma interrogação.
Oferecem-se duas hipóteses: a primeira defende que seriam migrantes de outras aldeolas próximas, sobretudo das imediações do que são actualmente os concelhos de Almodôvar e de Castro Verde; a segunda conjectura uma migração longínqua, vinda de fora, eventualmente celta ou celtizada.
A este período pré-romano, ou indígena, se preferirmos, segue-se todo o tempo em que o povoado de Mesas do Castelinho foi ocupado e influenciado pelo poder de Roma, já integrado, a partir do século II a.C., na província da Lusitânia. Até ao século I a.C., a adaptação de Mesas do Castelinho a esta nova realidade não pareceu ser problema, sendo mesmo evidentes os sinais de tolerância e mesmo de prosperidade – foi até descoberto um bloco de xisto que combina palavras em latim com termos autóctones, o que nos leva a acreditar que existiu uma certa aceitação cultural de parte a parte.
Na passagem para a nossa era, talvez ligeiramente antes disso, Mesas do Castelinho começou a murchar, muito provavelmente pelo surgimento de novas urbes mais acarinhadas pela ordem política romana (veja-se Beja, por exemplo), pelas alternativas que as recentes estradas romanas ofereciam ao cruzamento do Caldeirão, e pelo despertar de actividades mais lucrativas que atraíram mão de obra para zonas antes desocupadas (como aconteceu com o trabalho mineiro). O destribar da povoação continuou até ao século I d.C., altura em que foi votada ao abandono, ou quase.
Apenas um milénio depois, com praticamente toda a península sob domínio sarraceno, se tornou a olhar para a fortificação, aproveitando-a como unidade defensiva.
Características
Especialistas não têm dúvida de que Mesas do Castelinho, enquanto fortificação, representa uma mudança marcante entre este povoado e os anteriores – enquanto Mesas do Castelinho se assemelha a uma aldeia-castelo, ou seja, uma concentração de moradias guardadas por uma cerca (muito semelhante aos castelos medievais que surgiriam um milénio depois), as anteriores aldeias não passavam de pequenas bolhas de casas, esparsas, e sem qualquer aparelho defensivo.
Fica assim mostrado como esta povoação marcou uma mudança comportamental na forma como o homem, numa época muito específica, perspectivou a urbanização. De pouca gente em muito sítio, passámos a ter muita gente em pouco sítio – uma lógica bastante actual, se fizermos o paralelo com os tempos modernos, diga-se.
No entanto, nem toda a fortificação foi utilizada de igual forma ao longo do tempo. Para isso, convém perceber que o conjunto pode ser dividido em dois sectores, ou duas plataformas: uma superior e outra inferior – as tais mesas que ajudaram a lhe atribuir nome (o povo chama ao patamar mais alto a mesa de cima, por oposição à mesa de baixo no patamar de cota mais baixa).
A plataforma superior, de forma mais ou menos arredondada, foi utilizada antes da chegada da influência de Roma, e retomada aquando do domínio sarraceno, com provável interrupção na época romana. A inferior levou com construções de todas as fases em que a povoação de Mesas do Castelinho esteve ocupada – a pré-romana e a islâmica, mas maioritariamente a romana. Os edifícios parecem ter sido levantados com a ajuda da terra, como é ainda costume no sul do país, através do uso de adobe. Paredes em taipa também foram usadas.
À Mesa de Cima, usando a designação popular, foi atribuído o papel de vigilância do povoado. Para a Mesa de Baixo, apesar de por lá serem também visíveis testemunhos de cariz bélico, reservou-se a implantação da vida, da urbe propriamente dita, muito embora seja difícil considerar-se Mesas do Castelinho como uma civita. É antes, e mais uma vez, uma divisão geográfica muito parecida com aquilo que voltaria a acontecer em centúrias medievas.
Paredes contíguas no povoado de Mesas do Castelinho
Almodôvar – o que fazer, onde comer, onde dormir
O concelho de Almodôvar encontra-se no sopé da Serra do Caldeirão. Marca a transição da planura aberta do Baixo Alentejo com o relevo atribulado que anuncia o Algarve serrano - o Pico do Mú, que regista um dos máximos de altitude do Caldeirão, chega aos 577 metros, ainda se encontra dentro dos limites do concelho almodovarense.
Da geografia setentrional para a meridional, tudo muda. O desmatamento que assimilamos na zona norte transforma-se em campos de esteva, rosmaninho, medronho e sobro na zona sul. Sensivelmente a meio, há a vila de Almodôvar, sede de concelho. Reconhecemo-la pelas esculturas em ferro velho que povoam rotundas e praças. Lá se visita o Museu da Escrita de Sudoeste, onde se expõem estelas monumentais encontradas dentro e fora do município. Lá escutamos veteranos a relatarem orgulhosamente a lenda da Vila Negra, tão boa de se conhecer. Lá nos aconchegamos nos canecos, nas migas, no medronho, e nas carnes suínas da Tasquinha do Medronho. Para quem queira dormir na vila ou lá perto, destacamos as casas de férias Cerca da Ponte e Corvos e Cadavais.
Fora da povoação, a Barragem do Monte Clérigo e a Ribeira do Morgadinho surgem como um oásis no deserto. Os Palheiros de Veio, de planta circular, aproximam Almodôvar de uma forma surpreendentemente castreja, típica do norte do país. E o povoado calcolítico das Mesas do Castelinho dá conta de um passado longínquo, revisitado por romanos e mouros. Para tudo isto, recomendamos o Monte Gois Country House e Spa como resguardo para descanso - uma casa rural de inspiração norte-africana instalada no Caldeirão.
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=37.48474 lon=-8.12538