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A habituação a pedi-la em final de refeição é tanta que nos acostumámos a encurtar a aguardente de medronho para o sucinto medronho.

Naturalidade da Aguardente de Medronho

Haverá muito bom sítio a fermentar tal fruto no país, mas o Algarve é, por tradição, a região da Aguardente de Medronho, e a haver segundo lugar e terceiro lugar, teremos de ir para o Baixo Alentejo e Alto Alentejo, respectivamente. Isto porque o medronheiro, a árvore que frutifica a matéria-prima desta aguardente, é uma espécie mediterrânea, abundando bem mais a sul do que a norte, e atingindo máxima concentração nas elevações do encalorado interior algarvio, como acontece na Serra do Caldeirão e na Serra de Monchique.

Aquilo que enternece no fabrico deste autêntico combustível do corpo (conta com uma escala que varia entre os 40% e os 55% de teor alcoólico, se feita a nível amador pode até ir acima disso) é que ainda consegue ser, em certos casos, dos poucos processos artesanais em Portugal. Apesar de ser oficialmente proibida a produção caseira para venda, ainda há quem feche um pouco os olhos e deixe os pequenos comerciantes fazê-la por si – isto não querendo desvalorizar as vantagens da legalização de destilarias, que trouxeram melhorias na parte qualitativa, homogeneizando o produto e puxando-o para cima no que toca à comercialização de uma marca. No entanto, é ainda frequente, em alguns restaurantes algarvios que não tenham sido afectados pela maré do turismo saxónico – e ainda os há! -, termos a garrafa de aguardente sem rótulo, quase sempre vinda do medronho, pronta a abrir no final das refeições a clientes que peçam pela da casa.

Fazer Aguardente de Medronho

Diz quem sabe da coisa que um bom néctar faz-se na parte da colheita do medronho. Nos últimos três meses do ano, a apanha deve ser rigorosa, seleccionando apenas o fruto quando maduro, isto é, quando já está avermelhado, e sempre retirado da árvore, nunca do chão.

A fermentação acontece nos meses seguintes, após transformação do fruto em mosto, e depois vem o que finaliza a cadeia, a destilação, naqueles alambiques feitos de cobre que nos lembramos em recordações dos nossos avós. O fornilho serve então como carburador da destilação, aquecendo a massa de medronho que descansa dentro de uma panela, e empurrando-a para o processo de arrefecimento que acontecerá na serpentina resfriada a água, devolvendo o líquido, agora com o grau de álcool a bater ferros.

Quase pronto a consumir, falta só retirar ao resultado final as suas pontas: o topo (ou cabeça) e o fundo (ou pé, que será reutilizado em novas destilações). No meio destes está a virtude, que é o que aquece a goela quando a arriscamos o trago. Podemos engarrafá-la directamente ou envelhecê-la em madeira – dependendo disto, terá uma cor mais transparente ou mais amarelada.

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