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Haverá planta mais falada neste país do que o rosmaninho?

Uma alfazema que, por cá, cresce porque sim. É famosa pela frequência, porque existe. E existe em quase todo o lado. Impera nos campos, nas canções populares, na poesia, nos rituais cíclicos…

Para os campos temos o perfumado chão do Alto Alentejo, do Baixo Alentejo, e do Algarve – mas não querendo ser injusto para as restantes províncias, que aqui e ali os vêem nascer do nada. Nas canções ouvimo-lo no fado e no cancioneiro popular, passando ainda por fenómenos menos convencionais como a brilhante colagem que o já falecido João Aguardela gravou no seu projecto Megafone, dedicada ao rosmaninho já em flor. Na poesia, pontua versos bucólicos sem parar, de Miguel Torga a Fernando Pessoa. E nos rituais cíclicos, conseguimos vê-los nas fogueiras de Santo António, a arder nas antigas e pagãs Queimas da Alcachofra ou como cobertura do chão de procissões católicas.

O período em flor é de alguns meses, e compensatório em beleza. Em Março, ou mesmo antes, solta-se um chapéu de gala roxo das suas pontas. Tinge as planuras de abriladas e só é tirado lá para o meio do Verão ou mesmo quando este já vai no seu último mês. Isto mais no sul, claro, seja o sul português ou espanhol. Importa dizer que tem várias caras, que várias espécies de rosmaninho se passeiam pela península e num ou noutro caso a cor que salta não é roxeada mas o verde ou o branco.

Fora dos campos, quando já nas mãos de quem o colheu, o rosmaninho dará bom mel e bom azeite. A flor condimenta bem, salpicada em pratos mediterrânicos. E para a saúde serve de remédio para dores de cabeça ou de elixir para a asma, ou óleo que sara e alivia. Até como produto substituto do meu Guronsan, que me salvou de algumas más ressacas, dá. Um uso comum que se faz dele, mais no campo do que na cidade, é o de ambientador natural. São pequenas porções apertadas em saquetas rendilhadas e depois é só deixar que o aroma invada gavetas, armários ou casas inteiras.

Calor e pouca água chegam-lhe. E é por isso uma das mais delicadas omnipresenças dos solos portugueses mais pobres.

Post Scriptum

A Mãe deste escriba partiu em Abril de 2018.

O último presente que lhe dei, já na fase final da doença, foi um vaso carregado com o lilás do rosmaninho a deitar o cheiro que ela sempre gostou de ter nas mãos. Será, a partir de agora, relembrado neste espaço todos os anos, no Dia da Mãe.

À minha Mãe, o meu rosmaninho, com incurável saudade.

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