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A dança do Minho, sem mais nenhuma outra que lhe faça frente, tão vibrante que de lá fez malas e viajou até outras províncias portuguesas, a começar pelo Douro Litoral, tendo na chula duriense a sua parceira a sul, com a qual é muitas vezes misturada, até à Estremadura e ao Ribatejo, alinhada com outros famosos pés de dança como é o caso do fandango.

E virou!

Chama-se Vira porque há uma viragem de corpos que lhe é característica, fazendo com que a saia da mulher que a dança comece a formar uma espécie de sino distorcido – “ó rosa arredonda a saia”, como se costuma cantar. É de assinalar, a esse propósito, repetição da palavra virou em determinadas partes das músicas que servem a coreografia, marcando determinada passagem melódica ou de passo.

De facto, indo agora à alma deste baile, o Vira acaba por funcionar como espelho musical do que é o espírito minhoto – conta com uma felicidade tão garrida como os Lenços de Viana, uma alegria tão popular quanto a do som de uma concertina, uma adesão tão massiva quanto a de uma Senhora da Agonia. É assim o Vira e é assim o Minho. Sempre jovem e sempre verde. São casos como o do Vira que metem o Minho como a região portuguesa que maior afinidade tem com a irreverência brasileira, passe o paradoxo de ser igualmente a província mais nebulosa do país.

Esta forma de estar (e de dançar) minhota foi exportada para o resto do país, muito por culpa de uma tentativa de uniformização do folclore português, levada a cabo pelo Estado Novo, tendo os ranchos como veículo principal. Daí que terras afastadas do Norte, como a Nazaré, tenham adoptado o Vira como seu.

Variantes, há às mil. Cada canto português conta com a sua pequena versão do Vira, arranjando outros nomes para ele, ou simplesmente acrescentando o sítio de onde provém. De resto, e permitindo-se uma generalização, baila-se em parelhas que se dispõem em roda ou em fila, e com recorrente troca de par à medida que a canção vai seguindo. Os corpos seguem a norma de quase todas as danças europeias: pose púdica no que respeita ao toque no companheiro, postura hirta e de alguma compostura, como se vê nos braços que se levantam acima dos ombros.

Quem, como já vi acontecer, relega tal desgarrada à categoria de brejeirice, pouco ou nada sabe disto. Mais do que um tema certo no cancioneiro de um rancho popular, e mais do que uma inspiração a alguma música portuguesa de gosto duvidoso (vulgo, pimba), o Vira é uma forma, talvez a mais eficaz, de trazer a festa para o meio da comunidade, ao som da concertina e acompanhado pela estridente voz da mulher minhota. Seja no palco ou seja na eira ou seja no adro da igreja, Portugal ficaria mais combalido sem este bailado de festa grossa.

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