Vinhas de Colares – Entrevista a Jorge Rosa Santos

by | 26 Jan, 2015 | Estremadura, Gastronómicas, Províncias, Tradições

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Típico da Estremadura, o vinho de Colares nasce de vinhas mais velhas que as restantes que encontramos no país. Culpa da filoxera, que matou uva que baste, de norte a sul de Portugal. São poucos, mas ainda é possível prová-los, ali na zona oeste de Sintra. O Portugal Num Mapa abreviou esta curiosidade em conversa com o enólogo Jorge Rosa Santos, a quem estamos desde já agradecidos.

Por que razão, histórica ou cultural, são as uvas de Colares uma particularidade nos vinhos portugueses?

No final do século XIX, apareceu uma praga, a filoxera, vinda da América do Norte, que matou praticamente todas as vinhas na Europa. Resistiram muitos hectares na região de Colares sem na altura se perceber bem porquê. Era prática na altura as vinhas de Colares serem plantadas entre dois a quatro metros de profundidade onde se encontrava a camada de argila, que continha a água necessária para a videira, e depois de aí plantadas, cobria-se a cova com a areia das camadas superiores – muitos homens perderam a vida neste método de plantação, quando a areia retirada os subterrava. Era por isso mesmo que abriam as covas com cestos na cabeça, para lhes darem cerca de um minuto de oxigénio antes de serem socorridos.

Resumindo, as vinhas de Colares estão plantadas em dunas pré-históricas e enraizadas a 2/4m de profundidade na camada de argila; como a filoxera atacava sobretudo as raízes da videira, apenas as de Colares subsistiram, é por isso que encontramos na região vinhas com mais de 150 anos.

Falamos das vinhas de Colares, e sabemos que habitam na zona de Sintra, mas qual a dimensão desta região?

Pelo défice de área de vinha em Portugal e na Europa, o vinho de Colares era muito bem sucedido, fornecendo Lisboa e capitais Europeias. Quando se encontrou a solução para a doença, através da utilização de porta-enxertos provenientes da América do Norte, a área de vinha na Europa voltou a crescer e Colares entrou em lento declínio. No século XX, por pressão urbanística e pouca procura, a cultura foi abandonada. Hoje não existem em Colares mais de 15ha de vinhas aptas a produzir vinho com Denominação de Origem Colares.

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Jorge Rosa Santos em momento de prova

não existem em Colares mais de 15ha de vinhas aptas a produzir vinho com Denominação de Origem Colares

Quais os efeitos provocados por essa singularidade quando provamos um vinho de Colares?

O vinho de Colares provém de duas castas.

Nos tintos o Ramisco, semelhante ao Pinot Noir, em delicadeza e cor, mas muito mais rústico nos taninos, resinoso, e com muitos frutos secos resultado do envelhecimento em tonéis muito antigos de madeira proveniente do Brasil mogno.

O vinho branco é feito a partir da Malvasia de Colares. Tradicionalmente tem aroma de flores brancas, mel, soja, tem um carácter salino e bastante acidez.

Ambos são vinhos que envelhecem muito bem em garrafa, pois têm a acidez vibrante típica de regiões de clima frio. É um contrasenso dizer que em Portugal existe uma região com características de clima frio, mas passo a explicar: Colares e as suas vinhas têm a particularidade de estar muito próximas do Atlântico e a Leste têm a Serra de Sintra que impede a passagem da humidade e da maresia, trazida pelos ventos norte do Atlântico. É um fenómeno agrometeorológico que se dá pelo nome de efeito de Foehn. Esta conjuntura de factores faz com que Colares tenha sempre manhãs e tardes de névoa e poucas horas de sol, e daqui resultam vinhos mais ácidos e com notas salinas. Os locais costumam dizer que Colares é onde o Inverno vem passar as férias de Verão.

Qual a reputação que este vinho tem internacionalmente?

Na última década, temos observado um fenómeno de regresso ao autêntico, ao genuíno, as pessoas querem deixar de consumir global. E por isso a procura por vinhos de Colares tem crescido, muito a reboque da imprensa e especialistas estrangeiros nos Estados Unidos e no Reino Unido, que descobriram em Colares um vinho genuíno. Um vinho é genuíno e tem qualidade quando tem sense of place, isto é, quando conseguimos, através das suas características únicas, ao cheirá-lo e prová-lo, sentir a sua origem, o seu terroir, as suas gentes a sua cultura.

Sintra – o que fazer, onde comer, onde dormir

O concelho de Sintra é dos poucos em Portugal onde temos uma colectânea de quase todas as paisagens possíveis do país - há campo (como em Colares e as suas particulares vinhas), há vilas históricas (como a própria vila de Sintra), há praias (e tantas são elas, como a Praia Grande, a da Ursa, a das Maçãs, a da Adraga, a do Magoito, a de São Julião ou a das Azenhas do Mar, entre muitas outras), há promontórios (como esquecer o mítico Cabo da Roca?), há serra (com todos os seus altos, da Peninha ao cume sintrense do Castelo dos Mouros), e há urbe (já entrando nos pólos suburbanos de Lisboa, como Mem Martins).

As dormidas que se recomendam dependem, por isso, de qual o objectivo da visita. Sendo também evidente que por se escolher um sítio perto da costa não significa de todo que não se possa ter um passeio cultural ou uma caminhada serrana - está tudo ali à mão.

Ainda assim, e por partes: para estarmos perto do centro histórico da vila, recomenda-se a Casa da Estefânea Boutique Bed and Breakfast e o Sintra Bliss Hotel (colada à Estação de Comboios de Sintra); para um registo mais bucólico, temos a Eugaria Country House by Lost Lisbon e a aristocrática Quinta de São Tadeu; para destino balnear, salientam-se algumas casas que podem ser alugadas, como a Sintra Maçãs Beach House (com dois quartos e junto à praia homónima) e o belo chalet O Amorzinho Sintra Praia.

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Mapa

Coordenadas de GPS: lat=38.806072 ; lon=-9.4502

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