Santuário de Panóias
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O Santuário de Panóias, também chamado de Fragas de Panóias, é um dos maiores e mais bem preservados dos santuários rupestres da Península Ibérica, sendo constituído por um conjunto de três afloramentos graníticos nos quais foram esculpidas as características comuns a estes santuários como escadas talhadas na pedra, pias sacrificiais e outras cavidades de dimensão substancial, assim como inscrições em latim que nos revelam a liturgia associada. O santuário está localizado no Vale de Nogueiras em Vila Real e foi claramente romanizado, sendo a sua construção ou remodelação de acordo com o auspício romano atribuída a C. Gaius Calpurnius Rufinus, um senador romano que é referido nas inscrições e que terá introduzido na região o culto ao deus grego/egípcio Serápis, provavelmente sob a forma de uma religião de Mistérios, tendo adaptado o santuário de Panóias para a sua veneração, mas mantido em simultâneo o culto a deuses indígenas identificados nas inscrições como os Lapitae.
O Santuário de Panóias é provavelmente o santuário rupestre com base em pias sacrificiais e escadas talhadas na pedra com maior monumentalidade da Península Ibérica
A sua datação está situada algures no período de finais de séc. II ou durante o séc. III d. C, mas esta datação refere-se unicamente à romanização, pois de acordo com investigadores como Maria Correia Santos, Rodríguez Colmenero e Armando da Silva, uma análise das estruturas talhadas na pedra e comparação com outros santuários rupestres permite compreender sem dúvida nenhuma, que o santuário é pré-romano, sendo no entanto difícil conseguir determinar a sua verdadeira data de origem. Parece assim enquadrar-se na mesma cultura indígena que originou o Santuário de Rocha da Mina, assim como o Altar de Pena Escrita, o Castelo de Mau Vizinho, o Castro de Mogueira ou as Pias de Mouros e também santuários na vizinha Espanha como o Santuário de Ulaca localizado no castro do mesmo nome na região de Ávila ou o Santuário de Pena Furada na Galiza, entre outros que se situam na península. A maioria destes santuários foram romanizados, sendo associados a inscrições rupestres em latim que nos revelam os deuses aos quais o santuário se dedicava assim como detalhes referentes aos rituais que neles se praticavam. O Santuário de Panóias não foge à regra no que toca a estas características, pelo contrário, é um dos que mais inscrições contém e que melhor detalha como era a prática ritualista e sacrificial nestes santuários. O número de inscrições de Panóias, assim como a monumentalidade das três fragas graníticas, cujo número chegou a ascender a sete, segundo relatos do séc. XVIII de Rodrigues de Aguiar e Contador de Argotedo, leva a que este santuário se distinga dos outros no seu nível de complexidade e sofisticação, não obstante o seu carácter rupestre e sacrificial.
Inscrições e Ritual Sacrificial
Como foi referido, existem inscrições espalhadas pelas três fragas do santuário, das quais aqui se transcrevem algumas traduções do latim efectuadas pelo historiador húngaro Geza Alföldy:
Aos Deuses e Deusas deste recinto sagrado. As vítimas sacrificam-se, matam-se neste lugar. As vísceras queimam-se nas cavidades quadradas em frente. O sangue verte-se aqui ao lado para as pequenas cavidades. Estabeleceu Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial.
G. C. Calpurnius Rufinus consagrou dentro do templo sagrado, uma aedes, um santuário, dedicado aos Deuses Severos.
Aos Deuses e Deusas e também a todas as divindades dos Lapitaes, Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial, consagrou com este recinto sagrado para sempre uma cavidade, na qual se queimam as vítimas segundo o rito.
Ao altíssimo Serápis, com o Destino e os Mistérios, G. C. Calpurnius Rufinus, claríssimo.
Aos deuses, G. C. Calpurnius Rufinus, claríssimo, com este (templo) oferece também uma cavidade para se proceder à mistura.
Com base nas inscrições e na investigação efectuada por académicos, foi possível discernir qual a natureza do santuário como templo religioso e ter uma ideia da liturgia associada. O santuário teria uma índole tanto sacrificial como iniciática, e as três fragas todas tinham um papel distinto, correspondente a três níveis de iniciação. Os sacrifícios seriam de vítimas animais, as quais eram colocadas em postes, que seriam colocados em pequenos orifícios talhados na pedra, e posteriormente cortava-se ritualmente a garganta ao animal, posteriormente o animal era esquartejado e o seu sangue seria escorrido para as pias sacrificiais, as vísceras dos animais por outro lado seriam então retiradas e incineradas nas cavidades rectangulares em honra dos deuses, e o resto da carne era assada, e posteriormente consumida em comunhão com as divindades. Os sacrifícios não seriam a única função do santuário, apesar de muitas das cavidades no mesmo servirem para esse propósito, e seria também um local de culto aos deuses no geral. Uma outra função mais associada ao referido carácter iniciático do santuário é a incubatio, uma forma de culto que partilha características de iniciação assim como de oráculo, e está especialmente associada às cavidades rectangulares de maiores dimensões das quais o melhor exemplo são as cavidades na terceira fraga do santuário, a qual é a mais alta. Estas cavidades remetem-nos para comparações com as “sepulturas antropomórficas” que se encontram em diversos pontos do país. No contexto de Panóias eram utilizadas para a referida incubatio, a qual também seria prática nos santuários dedicados a Endovélico como Rocha da Mina, e que consiste na morte simbólica do iniciado, que ao adormecer toda a noite nas “sepulturas” receberia as visões e oráculos dos deuses aos quais se presta culto no local, e renasceria simbolicamente ao acordar, com uma nova revelação oferecida pelos deuses.
Perante o carácter violento da religiosidade associada ao santuário, tendo como uma das bases o sacrifício de animais, o Santuário de Panóias pode ferir alguma susceptibilidade e criar algum desconforto psicológico ao imaginar os autênticos festivais sangrentos que no local poderão em tempos passados ter ocorrido. No entanto, este santuário é uma das chaves para ajudar a compreender a natureza da vida espiritual nas culturas da Península Ibérica em tempos ancestrais, tempos esses nos quais a morte, a violência e a miséria podiam atacar a qualquer momento, e se tentava garantir a sobrevivência e a boa fortuna ao apaziguar a ira dos deuses e ganhar o seu conselho e apoio através do sacrifício.
Lendas do Poço de Panóias
Tendo em conta a atmosfera insólita e a aura ancestral e misteriosa do local, pode-se facilmente adivinhar que a tradição oral popular criou diversas lendas associadas ao santuário com base noutros elementos típicos do registo folclórico nacional. Uma grande parte dessas lendas é em volta de um suposto poço, possivelmente uma associação às pias e cavidades que se encontram no santuário. Diz-se que nas fragas do santuário há um buraco que leva a um poço muito fundo, o qual cria grande medo e terror nos habitantes da zona, que dizem que há algo de terrível no fundo do poço, e que quem cair no mesmo já não sai de lá vivo. Os mais anciões dizem que o poço é uma das passagens para o Inferno, e que de noite o Diabo sai do poço a guinchar. Contam que uma vez um homem da aldeia foi lá ensinar um cão a caçar, e atirou para dentro do buraco que leva ao poço uma pele de coelho para o cão a ir buscar, e o cão assim o fez, mas nunca mais regressou, após oito dias e oito noites foi encontrado na aldeia de S. Cibrão, a três quilómetros do santuário, completamente queimado pelo fogo do Inferno, e de seguida morreu. Outros contam outra história, e dizem que o poço vai dar a uma mina que termina num local onde vive uma Moura Encantada, local esse chamado de Fonte do Poço. Lendas e mitos do imaginário popular, que acrescentam mais magia e atmosfera a um local ancestral que por si só já nos faz dar largas à imaginação.
Vila Real – o que fazer, onde comer, onde dormir
Vila Real vive da sua posição à beira do Douro. É a sua personalidade vinhateira que, misturada com os ares da serra (o Marão está logo ali à espreita), a tornam idiossincrática.
É imperativa uma visita ao relaxante Parque do Corgo, à Casa de Mateus e ao Santuário de Panóias. Conhecer os dois lados da Festa do Pito, que acontecem em dois momentos diferentes do ano, serve de introdução aos curiosos costumes vila-realenses, bem como assistir à criação do ímpar Barro Preto de Bisalhães, vendido posteriormente na parte norte da cidade ou na secular Feira dos Pucarinhos, no dia de São Pedro.
Para dormir, as quintas são um regalo. Há muita escolha. Ficamo-nos por fazer notar a Quinta da Corujeira (que nos integra em tarefas comunitárias da região - seja a vindima, o varejar da azeitona, a desfolhada ou a matança do porco) e a Casa da Quinta de São Martinho (moradia em pedra, seiscentista - contempla ainda, caso não exista a hipótese de ficar na casa principal, a hipótese de estadia em duas outras casas). Não se assumindo no título como uma quinta, embora o seja, é para nós um dever mencionar a Casa Agrícola da Levada Eco Village, já famosa e com todo o mérito.
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.282987 ; lon=-7.682307