Rail Bike Marvão

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Do Ramal de Cáceres brotou a fronteiriça Beirã. Por isso, é normal que o encerramento da ferrovia, em 2012, tenha arrastado a povoação para uma crescente desertificação, tão cara ao Alentejo profundo. Graças ao projecto Rail Bike Marvão, contudo, não foi preciso esperar muito para voltarmos a poder fazer uma boa porção da saudosa linha. E assim Beirã voltou a entrar nos eixos.
O que é o rail bike
O nome sugere quase tudo a quem arranha o inglês: trata-se de uma bicicleta ferroviária, por assim dizer. Só não podemos levar o termo bicicleta tão à letra porque, apesar de se mover à custa de pedais, o bicho tem quatro rodas em vez de duas. Ou seja, se quisermos entrar em derivas preciosistas, estaremos mais perto de um rail car do que de uma rail bike.
Cada carro pode encostar ao seu vizinho de trás e da frente, formando uma espécie de comboio, numa alusão ao ainda relembrado transporte que fez da terra o que se vê hoje. E cada carro tem dois bancos, dispostos paralelamente, com a possibilidade de se levar uma cadeira de criança entre eles. Pedalam, naturalmente, as duas pessoas que, lado a lado, se montam nos assentos, numa coordenação de esforço, resistência e força de pernas. A invenção lembra os antigos carrinhos que seguiam pelas linhas férreas com locomoção à manivela.
Ao contrário do que acontece numa caminhada, todo o percurso é aqui inalterável – seguimos o destino antes inventado para a linha férrea, nas descidas e subidas, nas curvas e contracurvas, tal e qual como águas fluviais escorregam num álveo. A única coisa que controlamos é a velocidade, conforme o bater do pé na tábua. Não temos de pensar, o que é bom, sobra-nos tempo para o resto. A pedalagem dá movimento a uma rota determinista, feita ao sabor da energia humana. Contas feitas, é como uma viagem de comboio, mas sublinhando a parte da viagem, porque viajar é olhar, e nunca um comboio nos deixaria ver tanto.

A ponte do regressso, no percurso mais curto do Rail Bike Marvão

Um dos muitos olhares do percurso, aqui pontuado de oliveiras e carvalhos
O percurso
O Rail Bike Marvão, em concreto, oferece dois trechos: um primeiro, mais curto, que começa na antiga estação de comboios de Marvão-Beirã e termina uns 8 quilómetros à frente, depois de atravessada uma bonita ponte, altura em que invertemos marcha; um segundo, que ocupa já uma manhã ou tarde inteira, e que ondeia pelo Parque Natural de São Mamede por cerca de 32 quilómetros, no total.
Confissão deste escriba: fiz apenas o troço mais pequeno por falta de tempo. De qualquer forma, seja lá qual for a opção escolhida, é sempre a partir da estação Marvão-Beirã, agora também transformada em café-bar, que a logística é gerida.
Toda a rota privilegia a natureza de um parque que funde as cores alentejanas com as beirãs. Há sobreiros e estevas e oliveiras do sul, mas também há carvalhos e castanheiros e urzes do norte – o Parque Natural de São Mamede é mesmo isso, um compêndio da flora portuguesa. Depois temos a fauna local, doméstica ou não, que deixamos à sorte a possibilidade de a encontrar.
E lá de cima vemos Marvão a espiar, sem descanso. É assim que conseguimos perceber como aquele castelo foi omnipresente para os povos circundantes. Um antigo guarda-fronteiras que viu a sua função guerreira mingar e que agora serve de referência geográfica de todo o parque natural, como se fosse o seu norte magnético, o sítio para onde toda a gente olha sem querer.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=39.4494; lon=-7.36874