Urze
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Há várias urzes, no mundo e em Portugal, cada uma delas com feitio acomodável a determinado tipo de clima e de solo. Contudo, focar-nos-emos na espécie Calluna vulgaris por agora (também conhecida por Urze de Mato), por ser aquela que goza de maior reconhecimento por parte do público que sabe identificar a urze quando a vê, e à qual a língua inglesa dá o famoso nome heather.
A urze mais comum é dona dos campos no Outono. Resiste à neve, ao vento, ao frio. É preciso o solo carregar na acidez para ela se dar mal.
Para lá do calcário
Desde que me conheço que passo férias no meu lado materno, na Serra de Aire, e nunca me habituei à ideia de ter urze à minha volta. Ao meu lado paterno, que se fixava bem mais a norte, ia menos, mas quando acontecia lembro-me bem de uns tufos de arbustos roxos e rosas, muito raramente brancos, por vezes até cobertos por neve.
Soube recentemente que a urze não é compatível com rochas calcárias, o que explica a ausência parcial da urze dos relevos cársicos das Serras de Aire e Candeeiros. Ou seja, para a tornar a ver, teria de ir sempre um pouco mais acima ou, em alternativa, mais para o interior.
É esta fuga ao calcário característica da urze que resulta numa distribuição nacional vasta, mas com clareiras aqui e ali – nomeadamente na parte da Estremadura onde o calcário impera e no interior alentejano (por ser demasiado seco). É frequente vê-la na margem norte do Tejo quando este faz a separação entre o Alto Alentejo e a Beira Baixa, e nas terras férteis do Minho não há como não a mirar.
Lá fora, nas desafiantes terras do eixo Atlântico europeu, da Escócia (onde é acarinhada como se fosse humana) à Galiza, a urze é a cor mais quente a vir do chão. De resto, onde mais me apraz ver urzes a saltar é na Serra do Gerês – precisamente a província portuguesa mais atlântica que existe (ou pelo menos de Portugal Continental) -, indiferentes ao frio e às violentas descargas de vento, chuva e gelo.
Floração da Urze
Como acontece com a vastíssima maioria das plantas, é na época da floração que as atenções recaem sobre ela.
Sobretudo quando, ao contrário do que acontece normalmente, as flores desabrocham tarde – a partir do mês de Setembro, indo em crescendo até Outubro. Essa será, talvez, a magia da urze, uma filha do Outono, que dá cores primaveris ao campo quando a terra está a acastanhar.
Não desprezando a arte que a jardinagem faz com esta planta, é sempre no meio da natureza selvagem, sem efeito da mão do homem, que eu as prefiro ver, arrebitadas e rosadas, oásis coloridos numa paisagem onde a natureza, já em pré Inverno, começa a adormecer.
As urzes são, no fundo, boas notícias numa época em que a flora caminha para a sua temporária morte. Cheiros improváveis que chegam antes das neves e chuvas serranas.
A urze que colora o Outono
Utilizações da urze em Portugal
Os ramos dos arbustos da urze, quando secos, são frequentemente usados para dar viço às lareiras do interior. Daí poderá ter surgido, muito provavelmente, o nome da banda Urze de Lume – bem recomendável, diga-se, para quem gosta de folclore brumoso.
A rigidez das raízes que se agarram à terra que nem árvores permite que dali resultem carvão e até objectos mais artísticos, como instrumentos de sopro.
É igualmente famosa por proporcionar bom mel, e com uso apropriado tem fama de curar doenças reumatológicas e problemas respiratórios.