Igreja de Santa Cruz de Braga

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A Igreja de Santa Cruz, em Braga, é vulgarmente conhecida como a Igreja dos Galos. Há uma curiosa explicação para isso. A seu tempo.
Até à fundação
Como o nome sugere, a Igreja de Santa Cruz deve o seu nome a um cruzeiro, objecto que pulula pelo país, sobretudo no centro e no norte, marcando os lugares com uma dimensão sagrada – podemos vê-los frequentemente em zonas onde a natureza, de tão bela, se torna Divina, ou em encruzilhadas de caminhos, isto é, pontos geográficos onde existe uma certa noção de bifurcação de destinos. O cruzeiro de Braga que esteve na origem da igreja aqui descrita encaixa nesta última categoria.
Encontrava-se no cruzamento entre a Rua do Anjo e o Campo dos Remédios e era cultuado por uma confraria bracarense, a do Jesus da Vera Cruz, mais tarde fundida à Irmandade do Bom Jesus dos Passos e reconhecida pela coroa como Real, tornando-se, a partir daí, numa das confrarias de referência da cidade minhota.
O crescimento do culto e dos seus membros, que significava, no fundo, o crescimento da confraria, associados aos obsoletos espaços onde se encontravam, obrigaram a repensar a eventual edificação de um novo templo. E aqui entra a Igreja de Santa Cruz, designação natural tendo em conta que o cruzeiro inicialmente idolatrado era, no fundo, um cruzeiro sacro, ou seja, uma santa cruz. Se dúvidas houvesse quanto à origem do templo residir no tal cruzeiro idolatrado, dissiparam-se quando se decidiu construir a igreja exactamente no mesmo sítio onde este estava.
E o que foi feito da cruz? Foi então transferida para a Rua dos Pelames e posteriormente para o Jardim de Santa Bárbara.
História do monumento
Os primeiros vestígios do que viria a ser a Igreja de Santa Cruz aconteceram em 1624, ano que marcou o início da obra, e, portanto, quando Portugal ainda se encontrava sob a mão dos Filipes de Espanha. Treze anos depois estava a modos que concluída, embora com ausências hoje difíceis de imaginar – não tinha as imponentes torres, por exemplo, que surgiram apenas no final do século XVII.
Contudo, cem anos após o início da sua construção, executaram-se obras de manutenção que viriam a mudar o interior do templo, entregando-lhe o estilo barroco que identificamos hoje. Fora desta requalificação esteve a fachada, mantendo-se, assim, de inspiração pré-barroca.
Mais ornamentações e requalificações surgiram nos finais do século XVIII e XIX.
Recentemente, a Irmandade de Santa Cruz comunicou que se iriam proceder novas intervenções ao longo de três fases – uma primeira que visa a recuperação dos altares laterais, uma segunda que pretende restaurar o telhado, uma terceira que prevê a manutenção da fachada e do altar-mor. Boas notícias para um monumento que, infelizmente, ainda não se vê formalmente reconhecido.

Fachada da Igreja de Santa Cruz de Braga
O interior e o exterior
De dentro para fora, a Igreja de Santa Cruz muda significativamente, o que não será de espantar tendo em conta que as reestruturações de que o templo foi objecto se ficaram sempre por certas partes do espaço.
Se na fachada impera o granito talhado em jeito maneirista, onde o barroco é apenas uma sugestão (mas ele lá anda, sobretudo nas torres), assim que entramos na nave o barroco larga a timidez e assume-se como a voz da frente.
Contudo, se estilisticamente as diferenças entre interior e exterior são observáveis até para olhos menos treinados, uma coisa une ambas as dimensões: o seu simbolismo, dedicado, quase exclusivamente, ao episódio da Paixão de Cristo, numa continuação natural da adoração à cruz de antes.
Com efeito, associamos à crucificação de Cristo as três capelas que se encontram na lateral da igreja que, segundo estudiosos, fazem toda a narrativa da Paixão em crescendo, à medida que seguimos em direcção ao altar-mor – muito em linha com o calvário que é replicado quando se faz o caminho do Bom Jesus do Monte. Na frontaria há, também, a inevitável cruz e uma escultura de Santa Helena, a quem se atribui a descoberta da cruz de Cristo trezentos anos depois da sua morte. Ainda na fachada observamos os doze elementos da Paixão num friso horizontal. E agora faça-se uma pausa para nos concentrarmos em dois pormenores. Nos extremos do friso encontramos dois galos que servem de base a um indecifrável enigma da cidade de Braga. A ver.
Igreja dos Galos
Há quem nunca tenha tratado a Igreja de Santa Cruz pelo seu nome. Isto porque, muito simplesmente, a apelidam de Igreja dos Galos, em honra ao insólito fenómeno que pode ser observado diariamente nas mulheres que lá vão à caça de casamento.
A tradição diz que a fachada que nos encara expõe três galos, e que uma mulher só terá casamento se os encontrar a todos. Dois deles são fáceis de apontar, até porque estão simétricos, ou dito de outra forma, quem alcança um, alcança o outro. O problema é que o ditado não há duas sem três não funciona aqui. O terceiro é mesmo difícil de avistar. Tão difícil que eu ainda não lhe pus olho e as pessoas de Braga com quem falei tampouco. Ao ponto de pôr a hipótese do último galo ser apenas lendário, um gambuzino bracarense disposto a pôr mulheres em desespero.
Conheço um ritual semelhante feito em Salamanca, cidade estudantil, onde se diz que quem não encontra o sapo na fachada não termina o curso. A parte positiva é que o sapo, sei eu porque já o vi, existe. Poderemos dizer o mesmo do terceiro galo na Igreja de Santa Cruz? Talvez não.
Por isso munam-se de paciência, amplifiquem as vistas, e tentam chegar onde eu não cheguei – já agora, antes que se achem vencedores, o catavento não tem qualquer galo, trata-se de um ganso.
Braga – o que fazer, onde comer, onde dormir
Braga é uma cidade onde o clero deixou história. As igrejas sem fim que aqui andam garantem que a visita pode ser demorada. A Sé, a Igreja de Santa Cruz, a Capela de São Frutuoso, o Bom Jesus, a escondida Capela Árvore da Vida são apenas alguns dos templos óbvios. Mas pondo a religião de fora, os marcos culturais bracarenses pedem para ser conhecidos, da Viola Braguesa ao Natal do Bananeiro.
As camas mais recomendáveis e poupadas para ficar uns dias são a Sé Guesthouse (bem no centro), o Domus 26 Guesthouse (também no centro e a poucos metros de distância da primeira). Adiante-se, ainda assim, que a escolha é muita. Se o dinheiro não é um problema e procura um sítio histórico e de charme onde pousar as malas, então opte-se pelo Vila Galé Collection Braga, um antigo hospital com barbas de cinco séculos.
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.54932; lon=-8.42418