Pateira de Fermentelos

by | 24 Fev, 2020 | Beira Litoral, Lugares, Natureza, Províncias, Rios e Ribeiras

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É discutível a catalogação da Pateira de Fermentelos como o maior lago natural da Península Ibérica. Há vários que lhe fazem frente.

Isso não invalida, de qualquer forma, que estejamos perante uma imponente lagoa, certamente uma das maiores da península e a maior de Portugal se descontarmos as artificiais (nesse campo, nunca poderemos esquecer o monumental Alqueva).

Como tal, e dada a sua dimensão, é evidente a influência que tem na região do Baixo-Vouga, pela forma como consegue moldar o clima, pela ordem que impõe às povoações locais (que a tinham como recurso para a agricultura, utilizando não só a sua água mas também o seu moliço, recolhido pelos célebres moliceiros aveirenses) e pela maneira como preserva um ninho de biodiversidade muito particular.

O lago de Fermentelos

É conhecida por Pateira de Fermentelos, Pateira de Espinhel, ou muito simplesmente Pateira para quem é de lá perto. Por isso importa irmos à etimologia. Pateira é um termo arcaico para designar uma lagoa e também um termo que designa um espaço com abundância de patos – quer num caso, quer no outro, a Pateira de Fermentelos cumpre.

Tratava-se, antes, de uma reentrância que o Atlântico afiou no Continente. Nessa altura eram três os rios que lá finalizavam o seu percurso: Vouga, Águeda, Cértima. Actualmente a realidade é bem diferente: a foz do Cértima passou a ser o Águeda, e a foz do Águeda passou a ser o Vouga. E é na primeira destas etapas, quando o Cértima, vindo do Buçaco, decide desaguar no Águeda, que, por assoreamento, se forma a Pateira de Fermentelos, uma criação que já deve vir desde a Idade Média (diz-se que D. Manuel I pisava estes terrenos nas suas caçadas – falamos portanto do final do século XV ou início do século XVI). Além do Cértima a oriente, abastece-se com a corrente da Ribeira do Pano do lado poente e com alguns lençóis de água debaixo do solo.

Ocupa três concelhos da Beira Litoral: o município de Águeda, o de Oliveira do Bairro, e o de Aveiro. Águeda é, de longe, o que mais área tem sobre seu domínio.

Tem, como se pode ver no mapa em baixo, a forma de uma bota, tal e qual como acontece na península itálica – o próprio posicionamento lembra Itália, a descair de noroeste para sudeste. É circundada por pequenas elevações, nunca acima dos cem metros de altitude, sendo a ponta do lado nascente, junto a Espinhel, a que se eleva mais alto – aproximadamente oitenta metros.

É considerada parte da Rede Natura 2000 e Zona Húmida de Importância Internacional.

Bateira repousa nas águas calmas da Pateira

Vegetação da Pateira

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A flora e o jacinto-de-água

A lagoa é dominada por vegetação típica de sítios húmidos: canas, nenúfares, bunhos vão aparecendo ao longo do seu perímetro. Nas árvores e arbustos que a cercam, salientam-se os sabugueiros, os freixos, os amieiros, os choupos. Os eucaliptos, como andam por todo o lado, crescem também aqui.

De resto, uma das espécies que, pelas piores razões, não conseguimos dissociar da Pateira, é o jacinto-de-água. Uma planta invasora, originária do Brasil, e que se torna um lobo em pele de cordeiro com comprovada facilidade de reprodução – já chegou a ocupar metade da área total do lago. À primeira vista, mormente no período em que se encontra em flor, só temos razões para dizer bem dele. Traz uma cor encantadora, cobrindo a superfície da Pateira com um tapete verde e lilás. O problema é que, ao fazê-lo, esconde o sol de toda a fauna que está por baixo de si, comprometendo por completo o ecossistema. Ao mesmo tempo, canais de água usados para a agricultura ficam bloqueados pela sua disseminação, e a área inavegável da lagoa estende-se a zonas impensáveis. A grande luta que os municípios encarregados da requalificação da Pateira têm tido nas últimas décadas é exactamente contra o jacinto-de-água (também contra a pinheirinha-d’água, embora em menor grau) – combate que tem sido mais eficiente nos últimos anos através do uso de uma máquina que serve esse propósito, apelidada de pato-bravo.

 

Bateiras encostadas na margem da Pateira

Bateiras atracadas às margens da Pateira

A fauna

O pato, sobretudo o pato-real, é por direito a primeira espécie a ser mencionada, já que parece estar na origem do seu nome – pateira. E continuando na avifauna, muitos outros há a listar: garças e garçotes, petinhas, borrelhos e alfaiates, águias e milhafres, guarda-rios, pernas-longas, maçaricos e galinhas-de-água.

Nos mamíferos, os lugares mais recônditos guardam espaço para as lontras. Também toupeiras-de-água e rãs ibéricas pontuam no espelho de água. Em áreas mais terrenas, isto é, nas margens, caminham javalis, coelhos, raposas e ouriços.

Por fim, e por estarmos a falar de um lago, não podemos deixar de referir alguns dos habitantes que estão abaixo da linha de água. Peixes de água doce como o pimpão, a perca, o bordalo, o achigã, a boga, o sável e o barbo-do-norte atraem pescadores a certos pontos estratégicos conhecidos de quem lá mora perto. Enguias também se conseguem encontrar e outras espécies lacustres como certas tainhas ou carpas ou anodontas.

Mais do que um lago

Seguir os percursos já delineados (sugere-se o Trilho dos Poços e o da Pateira ao Águeda) dá-nos uma boa visão de toda a dimensão da Pateira de Fermentelos, além de nos entreter com extras que merecem ser passados pela vista.

As bateiras são um deles. Lanchas tradicionais achatadas que dispersam por vários pontos do lago, antes usadas como veículo principal de deslocação, e muitas delas agora ao abandono, tomadas pela vegetação. Algumas, porém, estão aptas a ser usadas para travessias pelos visitantes. Em alternativa, existem também bicicletas aquáticas (as bacas), transporte muito semelhante à gaivota que nos habituámos a ver na praia. Ainda em tema náutico, a canoagem e a vela são actividades em prática. Para quem quiser ficar mais longe da água, passeios a cavalo ou de bicicleta, especialmente nos fins de tarde, tornam-se absorventes.

Destaca-se igualmente o Parque de Espinhel, onde encontramos os dois coretos com posições privilegiadas sobre o lago, mirantes a convidar ao uso de binóculos, e de onde se tiram a maior parte das fotografias que encontramos agora espalhadas nas redes sociais. Óis da Ribeira, no lado norte do lago, vale uma visita rápida, até pela sua igreja matriz, de bonita fachada.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=40.57561; lon=-8.5172

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