Cavalos de Fão
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Um bloco de rochas submersas vem cá acima, na maré baixa, espreitar a terra. Os fangueiros atribuíram-lhe várias lendas, e todas convergem para um animal, o cavalo – daí o seu nome popular, os Cavalos de Fão.
As rochas negras do mar de Fão
No mar, defronte da bela Praia de Ofir na vila de Fão, inserida no Parque Natural do Litoral Norte, uma mancha negra, como uma nódoa, vislumbra-se de quem tem altitude suficiente para a espreitar da costa.
Debaixo de um mar não raras vezes zangado, dois alinhamentos rochosos, paralelos entre si e escurecidos pelo Atlântico, esperam pelo recuo do oceano para aparecerem ao público. Mesmo aí, quando a maré vaza e eles mostram as suas cristas, não deixam de esconder toda a sua enorme base. Aos Cavalos de Fão podemos, portanto, aplicar a lógica dos icebergs – só conhecemos uma pequena parte da história, estando a restante apenas ao alcance dos corajosos que decidirem lá mergulhar. Pois é essa face profunda e desconhecida dos blocos que lhes dá a fama de serem contadores de naufrágios. Dos muitos naufrágios que esta costa testemunhou, não só nos Cavalos de Fão mas também noutros recifes próximos. Tantos que já apelidaram a faixa como Costa Negra, algo que lembra a também tenebrosa Costa da Morte galega.
Os Cavalos de Fão são o oposto do que se vê na costa. Uma face lunar de uma estância balnear conhecida pela vibrante vida nocturna, pela imensa oferta de hotelaria e restauração, pelos veraneantes que se concentram na zona central do areal, pelos surfistas que buscam a onda do dia na ponta sul. Se os turistas nem sequer dão por eles, os pescadores dali lembram-nos todos os dias – não é de estranhar, algures no tempo, é bem possível que um antepassado seu tenha lá ficado, sem sequer ter direito a enterro. Não surpreende, assim, que deles tenham contado lendas e histórias fantásticas. Como se só o transcendente pudesse explicar tal coisa maldita.
Lenda dos Cavalos de Fão
São várias as versões que se contam acerca das rochas submersas de Ofir. Em todas, há uma coisa que as une: a ideia de que aquele conjunto resulta da petrificação de cavalos. Relatarei duas, por as considerar as mais completas, sacrificando algumas pequenas variantes que não alteram substancialmente a narrativa.
Primeira lenda
Conta-se que o Rei Salomão, na tentativa de construir o seu Templo, vinha à actual Ofir portuguesa carregar ouro para o efeito. Barcos fenícios ali chegavam e transportavam o precioso metal atravessando todo o Mediterrâneo até Israel.
Foram tantas as viagens, e tanto o ouro, que um dia o Rei Salomão decidiu compensar o povo de Ofir. Encheu vários barcos com alguns dos seus melhores cavalos – estes seriam a melhor retribuição que poderia dar àquelas gentes que nem sequer conheceu.
A jornada aconteceu mesmo e esteve a uma unha negra de chegar ao destino. Mas as águas traiçoeiras daquela costa reviraram a frota. Os cavalos foram projectados para o Atlântico, e alguns Duendes que viviam nas imediações da costa, por capricho, transformaram-nos em pedra, assim ficando até hoje.
Segunda lenda
Um avantajado barco navegava pelo noroeste ibérico, vindo do norte. Apesar da tempestade, o desembarque aconteceu junto a uma terra de boa fama – uma Ofir de madeiras e de ouro.
O povo de Ofir, em desvantagem numérica mas jogando em casa e conhecendo as armadilhas da costa, arranjou maneira de empurrar os fortes homens invasores de volta para o oceano. A eles e aos seus corcéis. E quando tal aconteceu, Deuses protectores petrificaram os equídeos, e uma barreira natural, escondida pela água e forte como ferro, para sempre ali ficou, a afastar quem pretendia extorquir aquele povo pescador.
Significado das lendas
Antes de aprofundarmos o significado das duas lendas descritas acima, dei com esta terceira versão. A lenda que se conta mistura alguns pontos já mencionados e acrescenta ainda uma sereia que em certos dias solta cantos de aviso aos pescadores que se aproximam dos Cavalos de Fão. É uma variante interessante, que combina elementos do folclore nacional com outros de fora, parecendo-me mais uma adaptação da autora do que uma transcrição de algum relato recente.
Quanto às duas lendas versadas, há uma diferença óbvia entre elas. Na primeira não existe qualquer menção bélica quando os fenícios são mencionados, estando no mar a culpa do desastre de uma frota inteira; na segunda há um forte sentido de defesa da terra face ao invasor, e mais rapidamente vemos a muralha de cavalos pétreos que se alinha, por intervenção divina, paralelamente à costa, como uma bênção do que como uma maldição. Mesmo sendo lendas, poderemos extrair daqui a forma como o povo esposedense vê os fenícios, por um lado, e o tal povo nórdico, eventualmente viking, que atraca na Praia de Ofir, por outro? Poderão estas duas versões revelar um maior temor aos bárbaros do norte, tidos como mais violentos, quando comparados às incursões fenícias, essencialmente comerciais?
De resto, no que toca à transversal referência aos cavalos submersos, não podemos deixar de lembrar Neptuno, Deus do Mar e indissociável dos cavalos com a ajuda dos quais sulcava as vagas. Segundo a mitologia helénica, Poseidon (o equivalente de Neptuno) deu o primeiro cavalo ao homem. Virá daí a ideia de que naquele fundo guarda Neptuno (ou Poseidon) os seus equídeos? A imagem do cavalo – em especial, o cavalo negro – como símbolo ctónico, emergente do seio da terra ou das vísceras do mar, é antiga. A sua conotação como animal destruidor também é conhecida – até na Bíblia, veja-se o episódio dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse.
Diz Chevalier que os cavalos da morte, ou pressagiadores da morte, abundam desde a Antiguidade Grega até à Idade Média, e estendem-se a todo o folclore europeu – os Cavalos de Fão são isso mesmo, pressagiadores (ou mesmo causadores) da morte de muitos homens do mar. Poderá ter sido por isso que os pescadores de Esposende sempre associaram aqueles rochedos ao cavalo?
Esposende – o que fazer, onde comer, onde dormir
Esposende não se consegue desvincular da sua condição de destino de praia, e é normal que assim seja - o que seria se não se aproveitassem as dádivas que são o descanso da Praia da Ramalha, a Praia da Apúlia e os seus moinhos de vento, a Praia de Ofir e os seus lendários Cavalos de Fão, ou a Praia de São Bartolomeu do Mar, esta última com os seus anuais Banhos Santos, carregados de paganismo.
Mas que por isso não se perca o resto. Numa revisita histórica, é fundamental conhecer o Portugal castrejo representado no recuperado Castro de São Lourenço. Já o Polvo da Pedra típico do concelho, os vinhos verdes carregados de sal e flora, as Clarinhas de Fão à base de ovo, são alguns realces na gastronomia. Na cidade, é conhecido o restaurante O Buraco, para comida de mar e não só.
Para dormir, recomenda-se o Sense of Ofir ou a Villa dos Corcéis, ambos muito perto da Praia da Bonança.
Outras ofertas e promoções para dormir em Esposende podem ser vistas em baixo:
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.52472 ; lon=-8.79861