Sereias
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O Portugal interior tem lendas e crenças e superstições com seres misteriosos da terra, com os homens-lobo, conhecidos por lobisomens, à cabeça, como já aqui demos exemplos. O Portugal litoral, por outro lado, tem lendas e crenças e superstições com seres misteriosos das águas atlânticas, e de todos eles, nenhum é tão falado por marinheiros de alto mar quanto as sereias.
A Sereia, um ser fantástico dos mares portugueses
Não se pense que isto é coisa de desenhos animados e cinema hollywoodesco. As sereias, e falo das de inspiração helénica às quais Ulisses conseguiu sobreviver (onde, por acaso, até começaram por ser mulheres-pássaro, sendo o aspecto actual uma reescrita da idade média), são forte presença do lendário e do folclore português.
Não é assim tão raro ouvir pescadores falar sobre a sua existência – e falam delas enquanto animais, não enquanto seres imaginários – e dos seus encantamentos. Mais ainda nas duas regiões autónomas, Madeira e Açores, onde quase tudo o que é relato dos perigos que os homens da faina atravessam inclui silhuetas destas mulheres de cauda escamada.
A sereia, para as gentes que vivem do Atlântico, é um ser perigoso: encanta os pescadores até ao mar revolto
Tal como as nossas Moiras Encantadas, seres galaico-portugueses ainda bem presentes no story-telling nacional que estão igualmente ligadas à água, ou as Tágides camonianas, ambas já faladas no Portugal Num Mapa, as sereias dividem a sua aparência entre o belo e o malévolo – contrariando, aliás, as versões cinematográficas a que vamos assistindo, onde são quase sempre apresentadas como ingénuas e inocentes. Reminiscência do que foi trazido das crenças gregas, a visão lusitana das sereias começou a entrar no lendário popular quando o país se abriu ao Atlântico, e até hoje ficaram. Desses tempos até aos de hoje, nunca deixaram de ser figuras hipnóticas, que com a beleza do seu corpo e a harmonia da sua voz encantavam os homens do mar, fazendo-os cair dos barcos e desaparecerem nesse mistério que é o fundo do oceano. Há relatos de outros pescadores que dizem que elas não encantam ninguém – os homens é que, numa tentativa de as ver melhor, caem borda fora. Outros contam que sabem de uns que foram mesmo puxados para o mar por cantos de sereias.
As Lendas de Sereias
Falando de sítios em concreto, é conhecida a lenda da Praia da Rocha, que versa acerca da disputa de uma sereia por parte de dois inimigos: a terra e o mar. Cascais, por exemplo, tem uma estátua que homenageia este ser, numa escultura onde lhe tiram a metade de si que imaginamos como peixe. Em Peniche acredita-se que a Gruta do Cabo guarda uma sereia que enfurece ou acalma os mares conforme o seu humor. Ao lado de Aveiro, na terra das casas às riscas da Costa Nova, um pescador apaixonou-se por um sereia e fez tudo para a voltar a ver.
Ou seja, se o mito existe, elas existem, mesmo que nunca as consigamos ver.