Concertina
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Mais um folião minhoto a juntar à biblioteca de instrumentos musicais deste espaço. Agora versamos a concertina, companheira individual ou colectiva – mais a segunda do que a primeira – dos tempos profanos do Minho.
A Concertina Portuguesa – sim, há muitas mais que a nossa – tem uma província fetiche: o vivo e verde Minho
A Concertina e o Minho
Apesar de Portugal inteiro, maioritariamente nos meios rurais, gostar de lhe pegar, o verdadeiro namoro entre este instrumento e o povo está no norte. Mais ainda na faixa atlântica do norte.
Aí, o caldinho resultou tão bem que quem a tocava começou a substituir gente mais dada a outras lides musicais. Com efeito, a Concertina acabou por ocupar o lugar de certos cordofones, como a Viola Braguesa e o Cavaquinho, e mesmo de outros foles, como a Gaita-de-Fole Galega, ultimamente mais em voga.
A história de amor entre os minhotos e este aerofone tem já uma boa centena de anos.
Nas rusgas e arraiais, é o som que toda a gente quer ouvir. E havendo tocadores para isso, que se ouça em coro, junto com palmas e garraiadas e a estridente desafinação da mulher do Minho. Não há feira ou romaria no noroeste que não peça o som harmónico da Concertina, simples e galhofeiro, a convidar ao baile e ao bitaite cantarolado. Seja na Senhora da Agonia, na Feira de Ponte de Lima, nas muitas Feiras dos Vinhos Verdes, não se festeja sem esta popular banda sonora.
Há que lembrar que já são muitos os acordeões que, com um clique, conseguem incorporar o som da Concertina nos seus botões. Um dois-em-um que acaba por desvirtuar um pouco a ingenuidade que esta última tem. Porque tocar Concertina é isso mesmo, um certo descomplicar da composição, cada vez mais raro e saudoso.
Mesmo assim, com ou sem remendos, é o confetti da província mais verde do país continental.
História e evolução da Concertina
Há quem atribua a primeira ideia que viria a desembocar na Concertina ao oriente, mais concretamente à China.
Parece, contudo, que o produto mais aproximado ao modelo actual já foi feito na Europa, na Alemanha, a quem se chapa a origem do primeiro acordeão.
O acordeão, à altura, era um instrumento invulgar: duas extremidades, normalmente em madeira, eram ligadas através de um fole. E o fole era o garante do som, complementado com uma metalizada palheta livre.
Mais tarde, em Inglaterra, pegou-se nesse conceito do acordeão e reformulou-se a sua estética e a sua sonoridade. As extremidades ganharam desenho hexagonal. Mais uma vez, vamo-nos aproximando do arquétipo da Concertina original, ou pelo menos do modelo com que veio a ficar famosa na Europa setentrional.
No entanto, quer o fole fosse apertado (movimento para dentro), quer fosse solto (movimento para fora), a nota que de lá saía era sempre a mesma, ao contrário da Concertina actual.
Tornando à Europa central, houve então na Áustria a mudança que ainda hoje é a imagem de marca deste instrumento. O botão que antes tocava um só som, passava a ter dupla sonoridade, dependendo se o fole estava a ser fechado ou aberto.
Esse produto austríaco viajou depois para França onde se simplificou, e dos acordes fizeram-se singelas notas. Classificaram-no como acordeão diatónico – de acordo com alguns músicos, trata-se de uma classificação errónea – e é o genes daquele que hoje é tocado nas garraiadas do noroeste português.
Estávamos no final do século XIX. E no início do século XX começou a ser produzido em maior quantidade por essa grande máquina industrial chamada Alemanha, inevitavelmente.
Fica a questão: como veio da Europa Central até cá? Alguns sugerem ter sido através dos soldados portugueses que o viram e adoptaram como seu comparsa durante a I Guerra Mundial. Talvez. Verdade é que a emigração minhota, a meio do século XX, ajudou de certeza à concordância generalizada que o noroeste português ainda dá a tal instrumento.
Tocar a Concertina
Tocar bem Concertina tem o segredo de qualquer outro instrumento: prática e mais prática, até o que não saía comece a sair. O virtuosismo vem com isso. A parte mais difícil será a da coordenação entre a mão que toca os baixos (esquerda) e a mão que toca os botões de cada carreiro (direita). De outro modo, o lado direito desenha a melodia, nota a nota, e o lado esquerdo faz de tela, dando os acordes e os baixos.
O som, já se sabe, é feito pelo ar que vai sendo liberto ou sufocado pelo fole, sendo que, como já foi dito, no caso da Concertina a tonalidade muda consoante estivermos a fazer um ou outro.
De qualquer forma, é bom saber que mesmo dentro do mundo das concertinas, podemos ter vários modelos, uns mais complexos que outros. Para um principiante, uma Concertina com um carreiro e quatros baixos é um boa motivação para começar – até porque, enquanto instrumento de fole, é mais sensível à durabilidade. E evolui-se a partir daí, até que um dia se chega à Concertina de três carreiros e doze baixos.
Há vários cursos disponíveis de norte a sul do país, e bons tocadores para explicar a quem quer aprender não faltam. Há ainda algumas formações online que qualquer pesquisa as fará aparecer.