Fonte da Sereia
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Tondela tem na Fonte da Sereia, ou Chafariz da Sereia, um monumento basilar do concelho e uma revelação da sua história lendária ao mesmo tempo.
História da Fonte da Sereia
Desenhado no fim do século XVIII mas apenas concluído nos idos oitocentistas, o chafariz foi criado por pedido do povo a D. Maria I, a Louca, também motivadora de uma outra aqui falada, a Fonte das Bicas de Borba.
Tondela, que viu a sua importância crescer no Portugal medieval, teve até há poucos séculos um problema de fornecimento de água, não só para a sua população como também para o seu gado, muito dele passageiro, que por aqui passava a caminho da Feira de Viseu – e foi no sentido de colmatar esta falha que se engendrou a Fonte da Sereia (paga por imposto pelas freguesias locais) e o aqueduto a que estava anexada.
Hoje está posicionada noutro sítio, na Avenida Tomaz Ribeiro, em pleno casco antigo da cidade.
Desenho da Fonte da Sereia
Das figuras mitológicas que avançam do espaldar, ao brasão régio mais acima, até ao píncaro dominado por uma mulher que segura uma trompa, a Fonte da Sereia é um regalo para os olhos.
Trata-se de uma peça de uma simetria rigorosa, com uma estética pouco vulgar, ainda mais quando tomamos as fontes comuns do Portugal de então, havendo uma clara tendência do Mestre para se dar à exposição de simbologia marítima e obscura.
Feita na pedra mais conotada com o norte e centro-norte do país, o granito, o chafariz faz alusão à sereia, um dos seres mitológicos mais caros a Portugal (embora se deva fazer notar que tal devoção seja mais comum a Oeste, na faixa costeira). Mas não a sereia tradicional, conforme retratada no imaginário popular, antes uma sereia de dupla cauda que parece controlar dois tritões, um de cada lado, e que dispõe à cintura uma vieira, possível alusão à concha do Caminho de Santiago. Poderia o seu autor, António de Sousa Leitão, enunciar Melusina, habitualmente imaginada com uma cauda que bifurcava em duas?
Certo é que o ser aqui esculpido simboliza a união entre dois elementos, a água (pelo cauda de peixe) e a terra (pelo tronco humano), algo que é conivente com as virtudes de um chafariz, que não é mais do que uma nascente de água em terra. E a sublinhar encontram-se os dois Tritões laterais, também eles uma fusão dos mesmo elementos.
Mesmo o brasão de armas real que se encontra um pouco acima é rodeado de motivos vegetalistas remetendo novamente para a água que eleva as sementes à condição de plantas.
A encimar o espaldar, encontramos por fim uma mulher, esculpida em traços clássicos, que segura uma trompa nas mãos – Inês Conceição Carmo Borges vê no instrumento uma anunciação do sopro enquanto paralelismo a um outro elemento: o ar. Há, além deste possível significado, um outro bem mais óbvio, o da lenda de Tondela.
Melusina – ser mitológico que funde terra e água
Lenda de Tondela
A célebre lenda que deu nome a Tondela versa que aqui havia uma mulher, durante as batalhas da Reconquista (há outras versões que mencionam cenários de guerra mas não falam exactamente em mouros nem em cristãos), que usava uma trompa quando, do cume de um morro, avistava o inimigo. E que ao tom dela (cuja contracção forma Tondela) toda a povoação se juntava para afrontar as tropas adversárias.
Trata-se de uma lenda que poderá estar inspirada em factos reais (teria existido mesmo tal mulher?). De qualquer forma, a mais provável justificação para o topónimo é através do uso do diminutivo – Tondela seria uma pequena terra, à altura, quando comparada com Tonda.
O que é certo é que o que ficou foi essa história de uma heroína que com o seu bafo fez Tondela resistir – sabe-se lá a quem. E que já é tradição, quando lá chegados, procurar essa tal Fonte da Sereia, cujo topo tem a mulher da trompa esculpida, tal e qual como do topo de um monte ela vigiava as suas fronteiras.
A parte superior da Fonte da Sereia invoca a lenda de Tondela
Fontes:
“Actas do IV Congresso Histórico de Guimarães. Do Absolutismo ao Liberalismo.” 25 a 28 de Outubro de 2006, Guimarães, Câmara Municipal de Guimarães.
BORGES, Inês da Conceição do Carmo – “A Fonte da Sereia em Tondela, a Temporalidade Efémera da sua Funcionalidade.”
A autora recebeu o 1.º Prémio Aurélio Soares Calçada em 2006, com o trabalho “A Fonte da Sereia em Tondela, a Temporalidade Efémera da sua Funcionalidade”.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=40.51821; lon=-8.07903