Colchas de Castelo Branco

by | 3 Mar, 2021 | Beira Baixa, Culturais, Províncias, Tradições

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As Colchas de Castelo Branco confundem-se com o mais genérico Bordado de Castelo Branco porque este é a base da criação daquelas. O bordado da cidade acaba por ser usado noutros objectos – toalhas de mesa, napperons, almofadas, entre outros. Mas são as colchas a jóia da coroa, e é delas que partimos para as linhas que se seguem.

História

As primeiras peças – que viriam a inspirar as nossas -, poderão ter chegado das rotas comerciais mediterrâneas no século XVII e combinavam várias influências orientais, maioritariamente de origem indiana e chinesa. Por cá, misturou-se com a estética europeia e recebeu uma boa dose de intervenção lusa – os padrões dos azulejos nacionais, por exemplo, acabaram lá retratados também.

Após esta fase, digamos, de composição erudita das colchas, elas sofreram um franco declínio no século XIX. A revolução industrial e a automatização tiveram o seu impacto, como aconteceu a tantos mercados que tinham no labor manual o seu sustento.

Foi só no segundo quarto do século XX, sobretudo com o impulso da máquina de propaganda nacionalista do Estado Novo, que se voltou a olhar para elas, desta vez numa perspectiva popular. Integraram-nas nas actividades da Mocidade Portuguesa e foi neste período que se começou a fazer a sua associação à cidade de Castelo Branco já que seria nas suas imediações que a retoma se deu com maior força, ancorada no facto de ser nas proximidades desta cidade beirã que se produzia a seda necessária à sua criação.

Teoriza-se que eram então feitas por mães que, ternamente, queriam oferecer algo de uma riqueza ímpar às suas filhas quando o casamento as tirava de casa. E que essa será a principal razão para vermos tantas vezes imagens de parelhas na colcha – seja um casal de pássaros, de outro tipo de animais, ou mesmo de humanos. O etnólogo Luís Chaves, por exemplo, chegou mesmo a chamá-las de colchas de noivado. O amor estava entranhado nelas – o amor da mãe que a fazia, e o amor dos apaixonados recém-casados. Mesmo os motivos mais antigos, e por isso tidos como mais genuínos, como o da águia bicéfala, passaram a ser explicados por esta lente: a Águia Bicéfala representaria, segundo as bordadeiras, dois amores tão profundos que coabitavam num só corpo. Sabemos, contudo, que o real significado da Águia Bicéfala está longe de ser esse, mas daqui se retira que, durante o século XX, foi processada uma nova visão das Colchas de Castelo Branco, não invalidando, de qualquer forma, que pudessem de facto ter servido como presente de noivado.

Foi ao longo do século XX que o paradigma mudou. Trabalhar nas colchas tornou-se uma fuga a outras actividades menos desejáveis. Muitas mulheres escolheram pôr as mãos na linha para evitarem o trabalho de campo exigido pelos progenitores e acabaram por se apaixonar pelo bordado. São essas, em parte, as bordadoras de hoje. A oficina que as trabalha está actualmente instalada no Museu de Francisco Tavares Proença Júnior.

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O que distingue as Colchas de Castelo Branco

Os materiais usados são de fácil enumeração: tela de linha ou tela alinhada, e seda natural de origem quase sempre local. É isto. A complexidade vem depois. No ponto e no desenho.

As fases de criação podem ser separadas em cinco estágios.

Um primeiro que é comum a quase todos os bordados – o desenho. Não há padrão em tecido que não tenha um desenho-guia como premissa. Neste caso, há uma espécie de figurado central, que será a alma mater de todo o quadro porque de lá se parte para o resto. Popularmente chamam a este centro o bucho do bordado. Como já foi dito, as figuras escolhidas são normalmente animais, especialmente pássaros, em parelha. Também se vêem muitos objectos como vasos ou conchas. Talvez com menor frequência, até porque a escolha fica mais cara, mas ainda há quem procure os motivos primitivos ligados a conceitos mitológicos ou religiosos, como a Árvore da Vida ou a Águia Bicéfala. Deverão, depois, ser transpostas para papel de arquitecto ou papel vegetal.

Posteriormente, a ilustração deverá passar, por decalque, para o tecido escolhido para a colcha – que, como falado, pode ser de linho ou de seda.

De seguida, adaptamos a tela ao bastidor. Esticamos bem a peça de maneira a que o bordado possa entrar sem sobressalto.

Só na quarta etapa entra o ponto de Castelo Branco em campo, antes apelidado de bordado a frouxo ou ponto largo. Define-se sucintamente pelo adjectivo largo que lhe era antes inculcado – envolvendo uma passada maior e permitindo, assim, poupar na seda. Nesta fase, entregamos as horas de trabalho à concentração e paciência das bordadeiras. Dependendo da peça e do tamanho da mesma, pode levar dias, pode levar semanas, ou pode levar meses a finalizar. Em casos extremos, uma colcha pode levar com o trabalho de um ano inteiro.

Por fim, estando o bordado selado, acertam-se os limites cosendo as bordas dos quatro lados.

O seu valor dependerá, como é evidente, das horas de labuta e do número de bordadoras aplicado a cada peça. Pode chegar aos quarenta ou cinquenta mil euros.

A cultura e o protocolo

Símbolo maior da cidade albicastrense, podemos vê-la em várias outras representações culturais ou até quotidianas, como na calçada portuguesa ou na fachada de prédios que se apresentam em alguns pontos da sede de concelho. Já foram feitos desfiles pelas ruas da urbe, uma espécie de procissão de divulgação da arte onde cada ponta é agarrada por uma bordadeira, formando-se um pelotão de exemplares vaidosos a exibir-se aos conterrâneos. No fim do ano de 2019, um mural numa parede da escola foi pintado, aludindo mais uma vez aos bordados e às Colchas de Castelo Branco.

Para além da promoção nacional que tem vindo a ser lançada em exposições em vários e longínquos pontos do país, fala-se também da internacionalização do bordado de Castelo Branco, aproximando-o de outros mercados, como o da moda. Alguns passos foram dados nesse sentido. Por outro lado, como curiosidade, a Catedral de Manchester viu os seus altares decorados com estas peças, que para este efeito sofreram pequenas reinvenções ao nível das cores usadas.

É hoje apresentada com um orgulho ostensivo em qualquer evento de importância relevante dentro de Castelo Branco. Tornou-se, por assim dizer, um brasão. Com razão.

Castelo Branco – o que fazer, onde comer, onde dormir

Castelo Branco, tantas vezes nomeada capital da Beira Baixa, terra de Templários e da posterior Ordem de Cristo, tem na sua Sé, antiga Igreja de de São Miguel, um dos monumentos de visita certa. Mas há outros pequenos detalhes que por lá andam para olho atento, como o manuelino popular de alguns portados da cidade, o Paço Episcopal e seus jardins, o Santuário de Nossa Senhora de Mércoles, e os vários solares espalhados pelo concelho.

De Castelo Branco ouvimos também falar do célebre bordado e de uma das suas grandes consequências: as Colchas de Castelo Branco. Nesse sentido, é interessante uma passagem pelo Museu de Francisco Tavares Proença Júnior e pelo Museu da Seda para compreender a realidade têxtil albicastrense. Os queijos regionais, alguns deles portadores do selo de qualidade DOP, são obrigatórios para qualquer bom garfo. E não esquecer a Viola Beiroa, rejuvenescida nas últimas décadas, com um delicioso timbre, que até já deu origem a um outro instrumento, a Beiroinha, para as unhas dos gaiatos.

Quanto a natureza, há um óptimo passeio que se pode fazer de barco entre Portugal e Espanha - o ponto de partida é no Cais de Lentiscais, sendo a navegação feita até ao Cais de Cedillo.

Para dormir na cidade, o ideal é experimentar os apartamentos Casa 92. Para consultar outras ofertas e promoções, ver em baixo:

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