Chãs
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Chãs, um adjectivo feminino, denuncia bem a morfologia plana e lisa, de um planalto seco de campos e baldios. Em tempos, seria conhecida por Torre, indício de uma eventual vigia medieval, entretanto perdida.
A meio caminho de dois dos núcleos principais da arte rupestre do Côa, Santa Comba e Erva-Moira, partilha com freguesias vizinhas uma história semelhante. A ocupação paleolítica daquilo que em tempos seria uma estepe, progrediu na sucessão natural de povos e culturas, permanecendo ainda hoje o pastoreio, a agricultura de subsistência e sobretudo a vinha, trazida pelos romanos.
O povoamento de Chãs terá sido sempre disperso pelas denominadas Quintas, dispersão esta agravada com a migração, resultando no abandono de inúmeros pequenos aglomerados (Abrolho, Vale Cheiroso, etc).
Mas um local à partida tão desprovido de atractivos e de terra tão gasta em incêndios e campanhas de trigo intensivas, esconde um ex-libris extraordinário, ignorado por todos, menos pelos nativos e uns quantos curiosos.
Um Stonehenge Português
A cerca de 700 metros da povoação, o planalto cede sobre o vale de Longroiva, prova visual da falha tectónica de Vilariça. Sobre esta varanda, de vistas esplendorosas (sobretudo no entardecer e amanhecer), existem inúmeros rochedos de granito, pululando os matos raquíticos e secos da encosta. Mas é precisamente nestes penedos que surgem formas misteriosas, que à primeira vista suscitam curiosidade e que, quando vistoriados, denunciam um santuário rupestre de grande devoção local.
A Nossa Senhora, personificada em pequenas imagens aninhadas em buracos nas rochas, protege Chãs e as suas gentes, como padroeira. Mas o seu culto parece indicar origens pré-cristãs ou instintos religiosos mais animistas e politeístas.
A Pedra da Cabeleira, o mais chamativo dos penedos, tem uma forma arredondada por cima e um semi-arco por baixo, rente ao chão, com cerca dos 4,5 metros de comprimento e largura suficiente para passar uma pessoa de um lado ao outro. Nesse túnel coberto de nervuras rochosas, encontra-se uma mancha escura que dá o nome à Pedra, e que segundo o povo seria a Cabeleira da Nossa Senhora local. É nesse preciso corredor que ocorre um fenómeno todos os anos, no equinócio da Primavera.
Quando o dia iguala a noite, o Sol nasce centrado no buraco, atravessando o rochedo com os seus raios. Poderá portanto, tratar-se ou de uma coincidência astronómica ou de um recinto megalítico de culto ancestral e/ou moderno.
Sem provas ainda da sua veracidade, por muito que visitantes mais esotéricos e místicos se esforcem, não podemos afirmar com total confiança que se trata de um altar sacrificial rupestre orientado de propósito no sentido nascente-poente.
No entanto, no mesmo afloramento granítico (Quebradas-Tambores), encontramos pistas que podem corroborar essa hipótese. Perto, encontra-se a Pedra do Sol, que aponta ao ocaso no solstício de Verão (com vestígios de altares rupestres para libações) e um pouco mais perto de Chãs, encontra-se o Castro do Curral da Pedra (também chamado de Castelo Velho), onde foram encontrados vestígios de machados, cerâmicas e um punhal.
Teorias mais rebuscadas, indicam outros penedos com orientações astronómicas (como um monólito que apontaria o Solstício de Inverno e uma pedra com sete fossetes que identificariam a Ursa Maior) e até cultos com consumos de cogumelos nativos psico-activos. Certo é que o local possui potencial para achados, veja-se a descoberta no fundo do vale da Estela-Menir de Longroiva, com um figurativo de um guerreiro da idade do Bronze.
O seu carácter enigmático e a especulação que instintivamente forma nos visitantes peca, no entanto, pelo anonimato imerecido, o que ainda acrescenta uma áurea mais misteriosa a todo o achado, tão bizarra é a sua ausência nos compêndios e roteiros de aventureiros, afadigados a explorar o estrelato das vizinhas Foz Côa e Freixo de Numão.
É pois quase incompreensível que ainda não tenham sido feitas abordagens sérias por historiadores, arqueólogos e antropólogos que comprovem ou desmintam, de uma vez por todas, as hipóteses que formigam à flor da pele das pessoas que visitam o local e se perguntam, melancólicas e curiosas, se naquela varanda sobre o Vale de Longroiva, terá existido em tempos um outro Stonehenge, autêntico calendário ritualista e sagrado, quiçá, observatório do cosmos e ordenador dos ciclos agrícolas e da transumância.
O sol centrado na Pedra da Cabeleira
Entre Longroiva e Foz-Côa
Para visitar o local, que não se encontra assinalado, poderá fazê-lo no solstício de Verão, ocasião que junta pessoas tentando simular rituais celtas, com toques de tambores e recitais de poesia.
Noutros dias, poderá ser mais difícil encontrar todos os pontos merecedores de visita, pelo que é recomendável procurar a ajuda de um nativo.
O senhor Carlos Manuel Sousa é o melhor cicerone do local, a troco de umas minis no tasco mais próximo (embora não as cobre, é um sinal justo de apreço).
O caminho faz-se a pé e o senhor é uma simpatia e pronto mostrará os rituais adequados (como tirar o chapéu e benzer-se perante as imagens de Nossa Senhora ou o sentido em que deve ser obrigatoriamente atravessado o arco) e partilhará estórias deliciosas – incluindo as de um professor erudito que ia à noite tocar tambores para o local até ser escorraçado a tiros para o ar, pelos quinteiros chateados com os cães inquietos; ou aquelas que versam sobre as vezes em que, ostracizado e gozado pelos conterrâneos, decidiu ir dormir debaixo da Pedra da Cabeleira, onde se costumar abrigar inclusivamente da chuva.
Vila Nova de Foz Côa – o que fazer, onde comer, onde dormir
Um depósito de arqueologia nas ribas do Douro, assim se sintetiza, da maneira possível, as terras de Foz Côa. Da Pedra da Cabeleira de Chãs à Igreja Matriz da sede de concelho, passando pelas Ruínas do Prazo, um vento de mistério desvaira por aqui.
Mas também há tempo para a preguiça. A magnífica Casa do Rio - Vallado, a Este da cidade, camuflada pelo verde seco que encosta ao Douro, oferece tudo o que pode pedir. É uma quinta vinhateira com mais de trezentos anos de vida, antes posse de Dona Antónia Adelaide Ferreira - vulgo Ferreirinha - e agora nas mãos da sua descendência.
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