Castelo de Belver
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O Castelo de Belver ainda nos consegue mostrar qual foi a razão da sua existência, apesar de já não exercer. Ali se mantém como um dos guarda-costas do Tejo.
Uma torre na linha de defesa do Tejo
D. Afonso Henriques foi um rei de conquista. Avançou muito para sul, tanto que algumas zonas ficaram por colonizar, sobretudo no actual Alentejo, sendo assim potencialmente recuperáveis por parte dos sarracenos num eventual contragolpe, como se veio a verificar no início do reinado do seu filho Sancho.
D. Sancho I estava a par das possíveis ameaças e dos assaltos de que várias povoações fronteiriças eram alvo. As linhas cristãs viram-se mesmo obrigadas a recuar até ao Tejo. Nas ditas terras de Guidintesta, que açambarcavam o território entre o Zêzere e a bacia do Tejo, foram inúmeros os castelos construídos ou recuperados para servir de tampão às investidas vindas do sul. O medo de um recrudescimento da força militar sarracena levou a que muitos outeiros, escolhidos a dedo conforme a sua posição estratégica, servissem de base para várias fortalezas alcantiladas à beira rio.
E é neste contexto que surge a decisão de se elevar uma fortificação numa colina sobranceira ao Tejo, doando-se para isso estes domínios à Ordem dos Hospitalários – Belver foi o primeiro castelo português pertencente à Ordem e foi também, durante muito tempo, o seu mais importante bastião.
A nova aqui é a escolha da Ordem, que ao contrário do que vinha sendo habitual, não recaiu nos Templários – talvez por isso mesmo, pela posição dominante que os Cavaleiros do Templo detinham na zona centro, D. Sancho I resolveu diversificar (a máxima dividir para reinar tem barbas).
Se serviu bem o seu propósito de guarda-Tejo no período da Reconquista, prolongou os serviços ao longo de vários tormentos da história portuguesa. A transição da I para a II dinastia foi, como se sabe, problemática, pairando a ameaça da anexação do reino português ao castelhano – o Castelo de Belver levou uma boa dose de músculo neste período, tarefa patrocinada por Nun’Álvares Pereira logo a seguir à Batalha de Aljubarrota. Tornou a estar no meio do conflito luso-castelhano por altura Filipina – tomou o lado do Prior do Crato, D. António, e sofreu por isso. E depois foi, como quase todos os castelos medievos europeus, perdendo protagonismo, e consequentemente, deixado à sua sorte – a velhice tornou-se visível dada a pouca manutenção que tinha. Quando a terra tremeu, primeiro em 1755 com o Terramoto de Lisboa, depois em 1909 com o Sismo de Benavente, passou de degradado a decadente.
Do século XVII ao início do século XX teve uma vida desolada, servindo apenas como cemitério da vila que entretanto foi crescendo. A viragem deu-se na década de 40 do século XX, quando foi quase todo ele restaurado e ganhou o semblante próximo do actual.
Características
Uma das coisas que fica quando visitamos o Castelo de Belver com um olho treinado para a arquitectura militar é que este se pode definir como pequeno mas bom, um pouco à semelhança do que acontece com um primo seu – o Castelo de Almourol.
Se a sua cerca ovalada (ou pentagonal de ângulos pouco vincados, conforme alguns o descrevem) e a torre de menagem interior não oferecem grandes surpresas, há detalhes que devem ser realçados: a forma como joga com o relevo do terreno quando dá menos protecção ao flanco do desfiladeiro; a torre que encobre o portão principal para confundir invasores que cheguem à sua entrada; a curva em cotovelo que existe antes de se chegar ao topo do outeiro que obriga o pelotão atacante a fazer fila; o adarve que acompanha toda a muralha e que reforça a sua amplitude de visão. Algumas destas características foram inovadoras à época e replicadas séculos depois.
No interior há também uma capela, erigida no século XVI, de feição simples mas com retábulo nobre e renascentista – aqui se encontravam as relíquias trazidas da Palestina que fundamentam a lenda de que é alvo.
Tudo leva a crer que o Castelo de Belver foi construído como reduto defensivo e não como castelo-residência. A sua pequenez foi, mais do que uma necessidade, uma opção.
Lenda do Castelo de Belver
É antiga a crença de que Belver se transformou num baú de diversas e cobiçadas relíquias – a maioria delas trazida da Terra Santa. Conta-se que, entre muitas outras, lá se encontravam cabelos de Nossa Senhora, um anel e um dedo de São Brás, palhas da manjedoura de Jesus nascido, e parte de uma capa de São Domingos.
Por isso mesmo, o Castelo de Belver era destino de devoção. Mas havia quem pensasse que tal riqueza não podia estar ali – ou porque merecia outro palco, ou porque o castelo era uma possível vítima das razias árabes. E assim, certo dia, um cavaleiro de Malta entendeu que todo aquele tesouro deveria ser levado e apreciado em Lisboa. Lá foram as relíquias para terras alfacinhas mas nem houve tempo para as expor à fidalguia – misteriosamente, os objectos rumaram numa barca Tejo acima, até pararem no sopé do cabeço de Belver. E ali ficou a barquinha, a meio do leito, fixa como um menir enraizado em terra, sem ninguém a conseguir mexer.
O pároco, ouvindo falar do milagre, organizou uma procissão à barca. Quando se aproximou desta, ela navegou finalmente até às margens. As relíquias foram retiradas e guardadas novamente no castelo, para de lá nunca mais saírem.
Alexandre Parafita cita Frei Vicente Salgado e afirma que havia no forte de Belver uma estátua de Gualdim. Falaria de Gualdim Pais, o nosso mais conhecido Mestre da Ordem Templária, e que os olhos da escultura apontavam para um sítio onde se dizia estar um tesouro – curioso relato para um castelo que esteve sob égide Hospitalar (terá sido um lapso de Frei Vicente Salgado, confundindo Gualdim Pais, o Templário, com Afonso Pais, o Hospitalário?). Continua ainda, conforme relato do frade mencionado, que depois de escavações no lugar se encontraram várias moedas antigas…
Castelo e vila de Belver
Gavião – o que fazer, onde comer, onde dormir
No concelho de Gavião é Belver que desponta. Toda a vila, do casario ao castelo, é merecedora de visita atenta, ajudando a isso a curiosidade de ser uma das pouquíssimas populações alentejanas que está a norte do Tejo, numa contradição óbvia do sentido das palavras - resumindo, é uma terra aquém Tejo que é considerada além Tejo. A Praia Fluvial do Alamal, a jusante de Belver e na outra margem do Tejo, é uma excelente praia fluvial abastecida de areia.
Para dormir, a Quinta do Belo-Ver é boa opção para quem queira estar perto do rio. No eixo sul do concelho, a Herdade da Maxuqueira torna-se um oásis tendo em conta a pouquíssima oferta hoteleira que existe.
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=39.4938; lon=-7.96095