Bonecas de Constância

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De um solidário gesto de querer dar bonecas de brincar às meninas pobres nasceram as Bonecas de Constância, também conhecidas por Monas ou, de forma mais designativa, Bonecas de Pernas de Cana.
Podem ser compradas em certas lojas de artesanato da vila de Constância e também no posto de turismo.
Origem
Voltamos à conversa de sempre. A arte popular sofreu, ao longo da história, de um anonimato previsível, tendo em conta que não era registada e os artesãos raramente sabiam escrever. Servimo-nos assim de testemunhos, sabendo que esses não cobrem tudo. E por isso é difícil situar a origem das Bonecas de Constância.
Uma teoria enquadra-as no final do século XIX, baseando-se nos trajes comuns com que as bonecas são vestidas, com claras alusões aos vestidos da Belle Époque. Que essa relação existe, não parece haver dúvida, e bastará pegar numa Mona vestida com roupa aburguesada e olharmos para qualquer retrato parisiense dos finais oitocentistas para acusarmos as semelhanças.
Contudo, e face à falta de documentação existente, podemos especular que as bonecas já existiriam antes, pelo menos o seu esqueleto, e que as roupagens alusivas à Belle Époque são apenas uma readaptação destas a uma nova realidade, mais optimista e, sem dúvida, mais pomposa.
Aquilo que se conhece actualmente é o contexto em que começaram a ser criadas. Numa altura em que Constância era uma vila cujo trabalho estava quase sempre ligado ao rio e às pescas, as mulheres dos homens da faina tentavam alargar a mensalidade da família construindo pequenas peças que, depois, seriam distribuídas e vendidas a preço baixo para miúdas de famílias de parco rendimento. Sempre se mantiveram, desde aí, bonecas de mulheres feitas por mulheres, muito ao jeito do que acontece com as Marafonas da aldeia de Monsanto.
Amas e damas
Há duas grandes categorias na catalogação das Bonecas de Estremoz: as representativas das classes altas e, por oposição, as que personificam modos de vida singelos e humildes, quase sempre com figurações da vida de trabalho das mulheres de Constância.
As primeiras distinguem-se pelo decoro dos seus vestidos em pele ou em veludo e, sobretudo, pela elaboração dos chapéus, muitas vezes recorrendo-se ao uso de penas. A este conjunto convencionou-se dar o nome de senhoras ou damas.
As segundas, apelidadas de amas, são representadas por funções quotidianas – retratam camponesas, lavadeiras, costureiras, entre outras. São as antigas saloias de Lisboa em versão brinquedo. Usam-se para sua vestimenta tecidos mundanos, por vezes cortados de lençóis já velhos ou de camisas rasgadas.

Belle Époque como influência das Bonecas de Constância
Fazer uma Mona
As Monas de Constância são construídas por partes. Dizem as artesãs que chegam a dedicar um dia a cada parte do corpo – isto é, num dia preparam apenas as cabeças, noutro os corpos, e num outro ocupam-se de lhes dar roupagem.
Tomaremos o método das suas criadoras e vamos descrever o que é feito em cada uma destas tarefas separadamente.
Começando pelas pernas, o próprio nome indica. Chamam-nas Bonecas de Pernas de Cana por alguma razão. São realmente duas canas, retiradas aos canaviais locais (tal como se faz, também no Ribatejo, com a Cana Rachada) que, em paralelo e enroladas em nastro, passarão a membros inferiores.
O corpo ocupa a parte de cima das canas acima mencionadas. Enche-se o tronco com o uso de algodão. De lado, afuniladas cartolinas irão formar os braços, cosidos às canas e forrados de tecido.
Na moldagem da cabeça, manipula-se um pedaço de papel, por vezes um postal rasgado. Junta-se algodão para insuflar e cose-se. Por esta altura, teremos já uma cabeça, mas não um rosto. Começa-se então a rosar as faces com um lápis ou uma pétala e a bordar a expressão à boneca – borda-se o nariz, a boca, as sobrancelhas e os olhos. O cabelo leva lã, normalmente tingida de castanho se não houver lã preta original. Completado o trabalho, cose-se a cabeça ao resto do corpo.
Por fim, dá-se a vez ao guarda-fato. Esta parece ser a parte mais apetecível para as artesãs. Vestir a Boneca de Constância é dar-lhe carácter. A personalidade de cada uma está toda no traje que veste, já que por dentro todas parecem iguais. A escolha da cor é importante. Mais ainda é a indumentária, burguesa ou popular, definindo a categoria onde para sempre ficará.
Recentemente, um disco de madeira é colocado por baixo de cada boneca para que estas se possam apresentar em pé – trata-se do único elemento que pode ser feito pelas mãos de um homem. A inovação prende-se com o destino das peças, que antes serviam para brincar e que por isso dispensavam o suporte (chegavam a ser penduradas pelo pescoço, nas feiras, quando estavam à venda), e que agora servem acima de tudo o propósito de decoração ou colecção.
Constância – o que fazer, onde comer, onde dormir
Constância, terra do Zêzere e do Tejo, vivida por poetas e liberais, tem na Festa da Senhora da Boa Viagem uma das suas grandes festividades, com celebração principal na segunda-feira de Páscoa. Se pretender pernoitar, o que é aconselhável, procure-se a Casa da Praia do Ribatejo, com vista para o rio.
Uma vez no concelho, aproveite-se para visitar a Casa-Memória de Camões (que segundo discurso popular por aqui terá cumprido pena), para passear pelo Jardim-Horto (desenhado por Gonçalo Ribeiro Teles) e para comprar um par de Bonecas de Constância, que são bem bonitas além de garantirem também o sustento de poucas mas habilidosas mulheres constancienses. A Quinta de Santa Bárbara, a norte da vila, é agora um bom exemplo de como transformar em espaço comercial (hotelaria e restauração) um edifício histórico que foi pertença do governador de Goa e depois entregue aos Jesuítas.
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