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Os rabelos do século XXI existem para nos lembrarmos dos rabelos dos séculos anteriores, nesse período onde não havia caminho de ferro nem estrada que chegasse até às videiras durienses.

Foram pastores do Douro, correndo-o rio acima e rio abaixo, arrastando consigo rebanhos, que, num sentido literal, seriam barris de carvalho francês com vinho lá dentro – frequentemente Vinho do Porto. Nos anos recentes, o rabelo transformou-se em objecto de exposição. Mas não o tiraram do seu berço, e felizmente ainda os podemos ver a nadar nesse poderoso rio que deu nome à região vinícola. Pousam para fotografias de turistas que vagueiam na Ribeira e servem de transporte como novos cruzeiros que navegam para montante. No dia 24 de Junho, no São João portuense, algumas Caves apresentam os seus rabelos numa regata anual, forma de agradecimento aos barcos que fizeram das suas casas o que agora são.

Douro e rabelo, como irmãos

O rabelo e o Douro são, diga-se, indissociáveis, já que o primeiro foi construído à medida do segundo. Fosse o Douro diferente, e o rabelo o seria também.

O seu desenho serve dois propósitos. Um relacionado com a eficiência do seu transporte – o máximo de pipas no mínimo espaço possível -, e outro relacionado com o feitio das águas – as viagens que se faziam desde a zona demarcada até Gaia contavam dezenas de armadilhas que o rio lhes deixava. Este barco era construído sabendo-se que um dia acabaria destruído. Por muito bons que os seus marinheiros – chamados de arrais – fossem, nunca se punha de lado a favorável hipótese de um rabelo ser engolido pelo Douro.

À peça original iam fazendo remendos atrás de remendos, até que mais nenhum remendo servisse para o recuperar e outros rabelos o substituíssem. Era tão provável que um dia sofresse um acidente, que normalmente as pipas eram enchidas apenas até metade, de forma a garantir que os barris boiassem e não se perdessem lá no fundo. E acrescente-se que a mercadoria não se fazia só de vinhos – havia azeite, mobília, comida, e claro, pessoas.

Mas se o caminho no sentido da foz era perigoso, sobretudo nos rápidos com que o Douro, por vezes, surpreendia (isto antes das actuais barragens o acalmarem), pior seria fazer a viagem para montante, em contracorrente e, normalmente, sem vento suficiente para empurrar os barcos para cima. Esta jornada, que se fazia em autêntica contramão, era processada à sirga: atavam-se cordas ao barco e, das margens, dezenas de homens ou uma parelha de bois puxavam-no rio acima, num esforço que Hércules aplaudiria. Nos casos em que a sirga não fosse hipótese, e no Douro escarpado há vários exemplos desse tipo, ia a remos, penoso esforço, tendo a força do caudal a chocar contra a proa.

Eram construídos fora daquela que é a região do vinho Douro, sobretudo em localidades mais chegadas ao litoral, como Castelo de Paiva. Até deixarem de ter valia. Chegou o caminho de ferro, mais seguro. Depois os acessos por estrada, mais flexíveis. E os barcos rabelos perderam o seu fado. Voltaram à carga nos últimos anos, quando os gestores de imagem turística perceberam que usá-los dariam um bom cartão de visita à zona – de resto, o mesmo se passa com os moliceiros no Vouga ou as faluas no Tejo. Tinham razão.

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