Queimada Galega
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O nome diz tudo, a Queimada Galega vem da Galiza. Mas não nos esquecemos que temos em Portugal, fazendo por baixo, duas províncias gémeas desta região espanhola: Minho (sobretudo Alto Minho) e Trás-os-Montes (nomeadamente a zona do Barroso, e é de lembrar as Sextas-Feiras 13 de Montalegre, onde a Queimada assume papel de destaque).
O facto de estar ligada a crenças que defendem que o seu consumo nos protege dos males da bruxaria e dos espíritos – algo muito típico na fé religiosa das gentes do norte, principalmente nas do interior -, faz com que a sua confecção obedeça a um ritual que tem tanto de estranho quanto de misterioso, mas já lá vamos.
Dado ser tida como uma bebida comunitária, feita para grupos grandes, é servida numa malga de barro de grandes dimensões, sempre acompanhada por pequenos copos que se dispõem à sua volta, também de barro.
Receita da Queimada Galega
Quanto à receita, comecemos pela base.
Uma Queimada tem de ter, obrigatoriamente, aguardente e açúcar e grãos café. Estes três são pilares e sem eles não há Queimada, ou há mas não se chama assim. Depois é ao gosto de quem a faz. Há quem lhe ponha café em estado líquido, ou mel, ou cascas e gomos de frutos (pêra, maçã, laranja), ou canela, ou tudo isto e alguma coisa mais que venha à telha de quem a serve.
Outro processo que lhe é característico, passe o pleonasmo, é a queimada da Queimada. Isto é, depois de postos os ingredientes na malga, adiciona-se aguardente (com alto teor alcoólico), deitamos-lhe fogo, e vamos mexendo, sendo habitual que as labaredas vão crepitando de quando em vez. Há quem a deixe apagar-se por si ou quem a sirva ainda em chamas – isto terá implicações no grau de álcool, já que quanto mais tempo arder, menos forte e mais doce ela fica.
O Conxuro da Queimada
A Queimada Galega deve ser feita de luzes apagadas, e normalmente durante a noite.
É daqueles fenómenos em que a forma, mais que o conteúdo, é fundamental. A parte ritualística que introduzimos acima é a do esconjuro (ou conxuro, em galego), um exorcismo verbalizado ao mesmo tempo que se vai aprimorando a receita dando voltas à aguardente. Há uma versão mais ou menos oficial, como existem outras, alternativas, umas em galego, outras em português.
Diz-se que o esconjuro afasta o mau olhado, e daí se percebe que este pequeno rito seja um momento solene antes da parte profana que é beber a alquimia aqui feita. Quem já a bebeu sabe: o cheiro dos vapores quando aproximamos o copo da nossa boca faz o favor de nos embriagar antes sequer de a bebermos. Depois, quando a deixamos escorregar, sentimos todo o avesso do peito a arder por dentro, como se de uma purificação se tratasse.
Se viverem longe do norte, há uma alternativa disponível em Lisboa: o Trobadores, na Baixa Pombalina. Aí, durante os meses frios, e apenas nessa altura do ano, a Queimada Galega é servida quando as noites estão de feição, sem data certa – o melhor será ir mirando a programação ou ligar directamente para lá.