Bruxas
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“Não creio em bruxas, mas que as há há”, esta conhecida frase idiomática que ouvimos desde crianças é reveladora da presença que a figura da bruxa marca no nosso imaginário popular, não só ao nível de histórias e lendas mas também ao nível de várias superstições. Quando pensamos em bruxas é fácil a nossa imaginação levar-nos à estereotípica velha com um nariz torto e uma verruga que cavalga os céus numa vassoura e que tem um caldeirão a fervilhar onde através de uma mistura de pernas de sapo e asas de morcego cria feitiços terríveis. Esta imagem da bruxa é no entanto um desenvolvimento que advém de tradições na cultura mainstream que vai desde as bruxas na peça de Shakespeare Macbeth até ao disfarce que a Rainha Má emprega para entregar uma maçã amaldiçoada à Branca de Neve em Snow White de Walt Disney, passando pela Bruxa Má do Oeste de The Wonderful Wizard of Oz, livro de Frank Baum que deu origem ao icónico filme de 1939. Esta imagem da bruxa foi progressivamente dando origem a bruxas que, embora mantendo certas características, passaram a ser menos horríveis para dar lugar a figuras femininas bonitas e frequentemente simpáticas como é o caso da bruxa da série de Bewitched (“Casei com uma feiticeira”) dos anos 60/70 ou mais recentemente a bruxa adolescente Sabrina.
Para além disso, os anos 50/60/70 e o advento do Neo-Paganismo e especialmente da doutrina neo-pagã da Wicca desenvolvida por Gerald Gardner, levaram ainda a outra imagem mais moderna da bruxa, como uma figura idealizada e até romântica. Esta é herdeira das antigas tradições pagãs, que pratica magia branca e benigna, descendente espiritual das mulheres que foram perseguidas durante a inquisição mas cujo legado está agora acessível a qualquer adolescente e dona de casa, que apenas precisa de um ano de iniciação nas artes da bruxaria e um “livro das sombras”. Este movimento esotérico também teve a sua influência na cultura pop, em filmes como The Craft, mas, tal como a figura anterior, e como iremos ver, estas bruxas são algo distantes da figura da bruxa que durante séculos perdurou e perdura no folclore tradicional, que a este nível só mais recentemente foi fielmente retratada no filme The Witch de 2015.
Algumas bruxas do folclore, nomeadamente do germânico, imiscuíram-se nestas caracterizações que definiram a imagem da bruxa na cultura de entretenimento, basta pensar na bruxa de Hänsel und Gretel recolhida pelos Irmãos Grimm. No entanto, as bruxas do folclore português são bastante diferentes e estão muito mais entrosadas nas sociedades rurais, e são muito mais obscuras em relação a estas bruxas da cultura pop, e isto inclui as bruxas na tradição popular portuguesa, das quais iremos falar. O desenvolvimento do folclore em volta das bruxas é particularmente peculiar, pois advém de acontecimentos históricos reais entre o séc. XV e XVIII relacionados com a caça às bruxas onde muitas das características que lhes são atribuídas se formaram, mas através da tradição oral foi-se desenvolvendo a partir das liberdades criativas que o tempo vai induzindo nos ditos e crenças do povo.
Efectivamente a bruxa cruza-se até com outras figuras da nossa tradição popular, não só com a do diabo, cuja associação é parte intrínseca do que define uma bruxa, mas também com outras como as do lobisomem e dos vampiros, sendo que as bruxas em muitas histórias demonstram características indubitavelmente em comum com estes. Há ainda que diferenciar as bruxas das benzelhoas ou benzedeiras, estas são bruxas “boas” em contraste com as “más”, pois são figuras que ajudam a esconjurar e a desmascarar bruxas de forma a mitigar os efeitos das suas bruxarias, e que são procuradas pelas vítimas ou familiares das vítimas de ditas bruxarias. Mas vamos lá conhecer melhor quem são as bruxas afinal.
As Reuniões das Bruxas
Provavelmente uma das, senão a característica mais prevalente das bruxas, é o seu Sabbat, a reunião das bruxas. Na tradição portuguesa o Sabbat consiste nas bruxas reunirem-se em volta de uma fogueira numa encruzilhada, e as reuniões dizem-se ocorrer entre as 24h e a 1h, sendo que em algumas aldeias até se evita sair a esta hora. O sabbat na tradição popular é frequentemente chamado de a dança ou o baile das bruxas, pois estas dedicam o tempo da reunião a dançar e bailar nuas em volta da fogueira, numa espécie de frenesim delirante onde se riem às gargalhadas e entoam estranhos cânticos, que em algumas variantes são associados ao Livro de São Cipriano. Estão normalmente acompanhadas nestes encontros pelo Diabo, na forma de um bode, ao qual têm de prestar vassalagem pois é o seu senhor, e a forma de o fazer é beijando-lhe o rabo, uma a uma. O Diabo por seu turno, é nestes bailes das bruxas que ensina a arte de fazer o unguento para voar, do qual falaremos adiante, e outras bruxarias.
É ainda no âmbito dos bailes das bruxas que estas fazem algumas das suas patifarias caso algum transeunte se depare com elas. Se se passar ao redor de um destes bailes, deve-se fazer figas, caso contrário as bruxas fazem um encantamento que leva a pessoa a perder-se. Quando apanham um homem no meio do seu baile, este é levado a “dançar” com elas até este estar esgotado, com todo um manancial de outras patifarias que é comum fazerem ao homem neste processo: por vezes batem-lhe, outras vezes levam-no a voar até estar estonteado e deixam-no no topo de algum local alto como o telhado de uma igreja ou uma grande árvore de onde não consigam descer. Numa grande parte dos casos, tiram-lhe as calças, para o levarem a “dançar” até não ter energia, o que implica claramente alguma analogia sexual.
Bruxa a beijar o diabo
As danças de bruxas e diabos
Bruxas casadas
As bruxas que participam dos bailes no entanto, não são as tais bruxas velhas e terríveis que são eremitas e marginais em relação à sociedade. Pelo contrário, as bruxas do folclore são mulheres plenamente inseridas na comunidade rural, de aspecto normal, das quais ninguém suspeita até haver alguma situação onde se consiga identificá-las. Na realidade, são normalmente mulheres casadas e nem os próprios maridos sabem que elas são bruxas. Para conseguirem ir aos bailes e fazer as suas bruxarias, têm um encantamento próprio que utilizam para os maridos dormirem e nunca desconfiarem, nomeadamente o comportamento bizarro de se colocarem de cócoras com o rabo nú por cima da cabeça do marido enquanto este dorme e entoarem uma fórmula, a qual tem variantes como estas:
“Eu te benzo, belbezu, Com as fraldas do meu cu. Enquanto eu não vier, Não acordes tu!”;
“Eu te benzo meu banzebu com a fraldinha do meu cú, se acordares não me faças mal nenhum”;
“Eu te benzo benzaú Com as barbas do meu cu, Tu durmas e acordes E não tenhas mal nenhum!”
“Eu te benzo belaú Com as barbas do meu cu, Que eu vá e volte E não tenha mal nenhum!”
Como se pode verificar, claramente a mesma fórmula em diversas variantes. Há um determinado foco no rabo das bruxas na tradição popular. Em alguns casos, o rabo de uma bruxa emite uma luz durante a noite, sendo que quando estas bailam, quem vir à distância vê um espetáculo de luzes a bailarem e a esvoaçarem, pois estão nuas então revelam as luzes. Diz-se ainda que as bruxas vão “esfregar” os rabos durante os seus encontros, e vêm de volta com o mesmo queimado após o encontro.
Por vezes alguém avisa os maridos no entanto que a mulher é possivelmente uma bruxa, e este toma providências para resistir ao encantamento, nomeadamente o uso de alho escondido algures no corpo quando vai dormir. Quando assim o é, o marido não adormece, descobre a bruxa, e diz ele também uma fórmula que tal como a anterior tem variantes como “Eu vos benzo minhas porcas rapadas com o rabo desta enxada” ou “Eu te benzo minha porca Com a tranca da porta!”, o que é seguido normalmente pelo marido a dar uma sova à bruxa.
O unguento das bruxas
Outra das características mais recorrentes das bruxas é, claro, a sua habilidade para voar. Mas não se pense que voam como as bruxas da cultura pop na icónica vassoura. A maior parte das bruxas da nossa tradição popular não precisa de tal coisa. O que utilizam para voar é um misterioso unguento, cuja natureza e origem é obscura, por vezes diz-se ser de cor amarelada e aspecto oleoso como o azeite, e que provém do sangue de crianças ou do cadáver das mesmas. Este unguento é normalmente guardado numa panela ou no típico pote de ferro muito comum nos nossos meios rurais para fazer chanfana. A sua utilização pelas bruxas consiste em despirem-se e untarem todo o corpo com o unguento, e de seguida declamarem uma das seguintes fórmulas e depois baterem os braços:
“Por cima de silvaredos e por baixo de carvalhedos”.
“Por cima de silvais e por baixo de carvalhais.”
“Avoa avoa por cima de toda a folha”
Caso a bruxa por acaso se engane e troque os “por cima” e “por baixo” das fórmulas, acabará por voar a arrastar-se por silvas e mato, aparecendo no dia seguinte toda arranhada, permitindo à comunidade identificar que é bruxa. A habilidade de voar não é no entanto a única propriedade deste unguento, também permite às bruxas que se transformem numa espécie de fumo que passa pelos buracos das fechaduras.
Bruxas voadoras
Bruxas oferecem crianças ao Diabo
As maldades das bruxas
Para além das patifarias que fazem aos homens quando os apanham nos seus bailes, as bruxas fazem muitas outras maldades. A mais conhecida e alvo de superstição é talvez o uso de mau olhado, que tem o efeito de provocar depressão, perda de apetite, doença e até morte na pessoa visada. O mau olhado pode ser apenas por encantamento da bruxa ou por algum bruxedo que a bruxa elabora, sendo muito comum o uso de sapos para esse efeito. Diz-se que as bruxas espetam um alfinete na cabeça e no peito de um sapo, e que escondem esse sapo algures onde a vitima visada dorme, debaixo da cama ou na mesa de cabeceira por exemplo, e a pessoa vai sentir o sofrimento do animal e acaba por perecer. Se alguém retirar os alfinetes essa pessoa fica ela própria embruxada. Só uma bruxa os pode retirar e nesse caso a própria rebenta. Outra variante do uso de sapos é a bruxa conseguir obter restos de comida da vítima e metê-los na boca de um sapo e cozer-lhe a boca, escondendo o mesmo, tal como na variante anterior. Neste caso a pessoa vai ficando cada vez mais débil e doente até falecer se o sapo não for encontrado e a boca descosida, pois à medida que o sapo vai morrendo, a alma da pessoa vai deixando o corpo.
O mau olhado das bruxas estende-se ainda aos animais, sejam vacas, ovelhas, porcos ou cabras, que começam a adoecer e a falecer para maldição dos seus donos e pastores. Quando tal sucede, deve-se queimar o cadáver de um dos animais mortos num ponto alto da serra, o que levará a bruxa que lançou o mau olhado a queimar-se, e poderá assim ser identificada. Curiosamente é na associação com animais que encontramos outra característica das bruxas, uma que se cruza com a dos lobisomens. Se uma bruxa colocar o pé direito depois do pôr do sol na pegada de um animal, poderá transformar-se nesse animal. São recorrentes as histórias de bruxas transformadas em galinhas, porcos ou cabras a pregar todo o tipo de partidas.
Outra característica que nos remete para outra figura do folclore é a natureza vampira das bruxas. São conhecidas por tentar entrar pelos buracos das fechaduras das casas e sugar o sangue às pessoas. Quando assim o é normalmente são primeiro ouvidas a andarem de forma frenética pelos telhados das casas, enquanto miam como os gatos. Se uma pessoa acorda com manchas negras no corpo, e anda a emagrecer sem explicação, é um sinal de que as bruxas lhe andam a sugar o sangue à noite. Embora qualquer pessoa possa ser visada, as bruxas têm no entanto alvos favoritos: bebés e crianças. Se a criança ainda por cima não for baptizada, é dito e certo que as bruxas lhe vão chupar o sangue. O efeito na criança é o de ficar com o cabelo áspero e perder o apetite, além das ditas manchas negras. Em algumas lendas mais chocantes, diz-se até que elas comem as crianças, ou as oferecem ao diabo.
Uma patifaria muito peculiar ainda das nossas bruxas, é que estas são bruxas bêbadas, que adoram ir roubar vinho e bebê-lo às adegas, fazendo um grande chinfrim e criando desarrumação e caos na mesma. Bruxas portuguesas sem dúvida! O mesmo fazem com o pão, mas neste caso é por desdém para o estragar, pois o se pão é abençoado então as bruxas não gostam.
Como identificar as bruxas e lidar com elas
Apesar de em geral as bruxas estarem escondidas à vista de todos na sociedade, parecendo pessoas normais, há formas de as identificar, que normalmente implicam algum tipo de pequeno ritual. Muitos podem-se fazer nas igrejas: se no fim de uma missa o padre deixar o missal aberto na página dos Santos/Início do Cânon, onde está uma cruz de cristo, as bruxas não podem deixar a igreja até o missal ser fechado. De forma semelhante, se forem colocadas moedas brancas com a cara para cima nas pias de água benta da igreja, ou nove feijões, as bruxas não podem sair da igreja até ou as moedas ou os feijões serem retirados. Se os portões da igreja tiverem um alho metido na fechadura, bom, adivinhem, quem for bruxa não consegue sair. Mas também há formas de as descobrir fora da Igreja: se se colocar uma agulha num caminho e alguém quando for picado pela mesma voltar para trás, é bruxa. Se se colocar uma vassoura virada ao contrário atrás da porta de casa quando se tem visitas e alguma das visitas não conseguir sair, é bruxa.
Muito curiosa no entanto, é a forma de lidar com bruxas utilizando várias formas de grãos, pois as bruxas têm uma espécie de comportamento obsessivo-compulsivo no que toca aos mesmos, tendo de os apanhar um a um obcessivamente caso estes estejam derramados no chão ou outra superfície. E isto sucede com arroz, milho, trigo, pedrinhas de sal, ervilhas etc. Por este motivo é comum preparar armadilhas para bruxas, como por exemplo colocar um frasco aberto com alguns destes grãos atrás de uma porta. O frasco derramará caso as bruxas entrem e elas ficarão presas a apanhar os grãos ao invés de praticar as suas malvadezas. Colocar pedrinhas de sal nos telhados também é prática comum devido a esta superstição. As bruxas sentem-se assim obrigadas a apanhar as pedrinhas de sal todas e não entram para sugar o sangue às crianças.
No caso de se deparar com bruxas também há formas de escapar. Uma consiste em dizer as palavras “Quem está está, quem vai vai!”, o que levará as bruxas a afastarem-se para longe. Outra também consiste na seguinte fórmula: “Santo Eroto Dominoto Pera Barata Areate esteca”, mas neste caso apenas se impede que as bruxas deixem o local onde se encontram, e fiquem presas, podendo ser libertadas apenas dizendo as palavras de forma inversa.
Cuidado no entanto ao desafiar as bruxas com formas para as identificar ou prender seja com grãos ou fórmulas! Elas são rancorosas e vingativas. E curiosamente, não gostam que duvidem da sua existência, e quem o fizer também será alvo das suas patifarias.
O fadário das bruxas e formas de as desencantar
Há várias formas de uma bruxa se tornar bruxa, mas normalmente é por fadário e não por escolha, ou seja, alguém lhe passou o “novelo” ou a “peneira” de bruxa por altura da sua morte, sendo pouco claro no que isto consiste. Quando uma bruxa está prestes a morrer, pega na mão de alguém e passa-lhe o dito “novelo”, e a pessoa tornar-se-á bruxa e seguirá o mesmo fadário. Em algumas histórias antes de morrerem, elas gritam “deixo deixo” até alguém perguntar o quê, para que herdem o seu poder. Quando não conseguem, até a objectos podem passar o poder, que passam a voar descontroladamente.
Há no entanto formas de salvar as bruxas deste fadário, e que normalmente consistem em picá-las até fazer sangue, mas isto num determinado contexto. Em muitas histórias o desencantamento das bruxas ocorre porque um namorado quer casar com a namorada, e esta acaba por revelar que não pode porque tem o fadário de bruxa, mas ensina ao namorado como a desencantar. A forma de o fazer é esconder-se quando for uma reunião de bruxas, e quando estas estiverem a chegar uma a uma, a namorada deixa-se ficar para trás de forma a ser a última, e quando assim for o namorado ou amante terá de rapidamente lhe picar o rabo (ou em algumas variantes a tal luzinha no rabo), e cobri-la com um capote ou casaco largo. Caso falhe, será morto pelas outras bruxas. Em todo o caso, após o desencantamento, terá de levar a ex-bruxa às costas até casa, e isto é mesmo uma obrigação para terminar o processo.
Bruxas do mar
Há um grupo de narrativas tradicionais das nossas bruxas que são particularmente insólitas e interessantes, nomeadamente o facto destas por vezes roubarem barcos para irem a locais exóticos como o Brazil, o Rio de Janeiro, a Índia ou o Egipto. E conseguem fazê-lo e voltar apenas numa noite. As histórias em geral começam com um pescador ou marinheiro a perceber que o seu barco nunca está onde o deixou no dia anterior e parece ter sido usado recentemente. Esconde-se então numa noite para perceber o que se está a passar, e eis que bruxas se apoderam do seu barco, e através de bruxaria levam o barco a voar sobre as ondas, chegando rapidamente a estes destinos. O objectivo das bruxas é irem bailar e para a farra, embora nunca seja muito concreto o que isto significa.
Isto parece insólito, mas tem porventura uma explicação, nomeadamente a consideração do mar como um portal de entrada para um Outro Mundo, algo que vem de tempos pré-cristãos mas é muito visível na Idade Média através das Immrama irlandesas e de histórias de santos navegadores como é o caso de São Brandão.
Através da tradição popular, facilmente este “Outro Mundo” passou a ser explicado/interpretado na mente do povo rural e iletrado como podendo ser referente a destinos exóticos que estão ligados à nossa história enquanto navegantes e colonialistas, nomeadamente a ex-colónia do Brasil e a Índia devido à célebre viagem de Vasco da Gama. Tornou-se assim então natural que destinos tão exóticos e facilmente interpretados como “outras” terras tenham sido associados à figura da bruxa, entidade sobrenatural capaz de comunicar possivelmente com estes outros mundos.
Origens da figura da Bruxa
A figura da bruxa é recorrente em várias culturas do mundo, e não é só na europeia que esta tem expressão. Por cá no entanto têm características particulares como as referidas, e outras que se diferenciam em cada país da Europa, embora muitas sejam comuns a toda a cultura europeia. É possível que originalmente, o que se veio a considerar bruxa por acção do cristianismo fosse nada mais nada menos do que pessoas que ainda praticavam as antigas religiões pagãs, e que detinham o antigo conhecimento ligado à terra e ao uso de ervas. Com o tempo esse conhecimento veio a ser condenado pelo Igreja.
No entanto, a figura da bruxa que hoje em dia se encontra no folclore popular parece ter uma grande influência dos atributos que se consideraram ser o das bruxas no período entre o século XV e XVIII, graças a tratados anti-bruxa como é o caso do Malleus Maleficarum de 1487 nos quais eram descritos os rituais e comportamentos das bruxas. Este foi um período negro no entanto, onde milhares de pessoas inocentes, na sua maioria mulheres, foram torturadas e queimadas vivas ou enforcadas pela Inquisição ou até mesmo em linchamentos populares, tendo como justificação apenas a perseguição e histeria religiosa. Esta histeria chegou a atravessar o atlântico para o Novo Mundo, como o comprovam os famosos julgamentos de Salem. Aqui perto no país vizinho, nomeadamente no País Basco, a perseguição às bruxas no século XVII levou ao julgamento de milhares de pessoas e centenas de execuções. Cá, não escapámos à histeria, mas, como país brando que somos, não fomos o pior exemplo. Talvez por isso as nossas bruxas tenham a hipótese de ser desencantadas no nosso imaginário popular.