Ponte Romana de Vizela

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Não é grande novidade que a Ponte Romana que se encontra junto às Termas de Vizela já não é uma construção romana. Trata-se de um monumento de origem medieva, levantado já uns bons tempos depois do império de Roma cair no ocidente. Não obstante, é muito elucidativo que Vizela tenha decidido manter um nome primitivo sobre o qual pouca correspondência há com a actualidade, porque entre louvar um passado medieval ou louvar um passado romano, Vizela irá sempre optar pelo segundo.
A Ponte Velha de Vizela
Por vezes tratada como Ponte Velha, por oposição à Ponte Nova que está uns trezentos metros a montante, é o único Monumento Nacional no concelho de Vizela. Veio substituir uma antiga ponte, essa sim, romana, que integrava uma via iniciada em Compostela, com paragem em Braga, Guimarães, Tongóbriga, Viseu, e ia por aí abaixo até Mérida. Ponte Velha é, portanto, uma designação posterior, que só fez sentido usar a partir do momento em que uma mais recente nasceu a seu lado.
Com rigor, é difícil saber se a travessia montada por ordem de Roma estava exactamente no mesmo lugar da que agora vemos. Metro para aqui, metro para ali, não deve ter havido grande diferença, sendo possível o lugar coincidir ao centímetro, e até que, em parte, tenha sido reaproveitada a pedra da ponte antiga para o levantamento da medieval.
Cronologias à parte, o que lhe dá graça, mais do que o enganoso – mas justo – nome, é a desordem do seu perfil. Quando a vemos das margens do Vizela topamos uma certa amotinação estrutural. São três os arcos onde assenta: um, o central, tem sempre os pés dentro do rio; um outro, mais ou menos do mesmo tamanho, parece indeciso entre o mergulho ou a toalha; e o terceiro, com menos de metade do tamanho dos anteriores e encostado à margem esquerda, só mesmo em tempo de cheias conhece o sabor da água doce. Há ainda um quarto arco, a que alguns chamarão de olhal, sobreposto ao talha-mar, também de dimensões reduzidas, cuja função é de recurso: ajudar no escoamento do Vizela sempre que este engorda em dias de cheia.
Certo é que, mesmo atabalhoada, a Ponte Romana continua com jovialidade suficiente para receber visitas – as de duas patas e as de quatro rodas -, numa boa metáfora à resiliência das gentes de Vizela. Só é pena que o rio seja tão maltratado. Há esforços para o despoluir, com alguns resultados, mas o peso das fábricas nesta pólis industrial é demasiado para se contrariar só com boas intenções.

Rio Vizela à passagem pela Ponte Romana

Travessia do Vizela pela Ponte Romana
Os três Williams de Vizela
Aproveito estar a versar sobre a Ponte Romana para chegar a outros assuntos não muito distantes.
Na margem direita do Vizela, junto à entrada da ponte, há uma placa de homenagem a William Wilby, o senhor do chalet inglês. A sua casa de veraneio – ou por outra, o seu chalet – situava-se nesta encosta, e chegou a ser fotografada por um outro William, de apelido Flower, numa altura em que a fotografia dava os seus primeiros passos. William Wilby e William Flower tinham em comum a sua paixão pelas ribas do Vizela e o seu gosto por Vinho do Porto, de que ambos chegaram a ser comerciantes.
Flower chegou a viver no Porto. A meio do século XIX fez vários trabalhos fotográficos, alguns dos quais essenciais como testemunhos históricos de determinada região e de determinada época, como aconteceu com algumas imagens de Vizela. O trabalho de Flower foi usado para exposições mais de um século depois da sua publicação.
Wilby, por sua vez, era tido como um homem liberal que aproveitava o estio para descansar em Vizela. Na Guerra Civil, apesar do seu pendor, chegou a receber absolutistas no seu chalet. Há um relato acerca de um escocês apoiante de D. Miguel, o General MacDonnell, que numa incursão por Caldas de Vizela, ao reparar estar em terreno inimigo (os vizelenses simpatizavam com a causa liberal), pediu asilo a William Wilby. O inglês acedeu. MacDonnell pensou ter encontrado um camarada pró-miguelista. Conta-se que nessa noite, por ocasião de um brinde, MacDonnell levantou o copo ao seu hospedeiro em agradecimento, acrescentando que desejava “longa vida e sucesso nas armas para o nobre Senhor D. Miguel”. William Wilby, em resposta, não querendo desfazer o General, mas recusando-se a brindar a quem não apoiava, disse: “a minha mulher e eu beberemos com prazer a uma vida longa e à boa fortuna do Senhor General”.
Li o episódio acima descrito num texto de Maria José Pacheco. O que me leva ao terceiro William. Maria José Pacheco não se chama William. Não se chama sequer Guilherme, a tradução portuguesa de William. Mas a sua incansável luta pela autonomia de Vizela, tão forte que podemos assumir que foi o seu grande propósito de vida, lembra-me a valentia de um William Wallace em guerra pela independência escocesa. Wallace fazia-o pela espada, Maria José Pacheco pela pena. Um desígnio que se concluiu em 1998, com a elevação de Vizela a sede de concelho.

A Ponte Romana e o Chalet do Inglês no século XIX, fotografia de William Flower

Placa em memória de William Wilby, o Senhor do Chalet Inglês
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.37313; lon=-8.31165