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Acaso o leitor tenha seguido o Caminho de Poldras dos últimos posts por mim escritos, saberá logo de imediato do que se irá falar neste momento.

Para quem não saiba, convém lembrar que os anteriores textos (um sobre o Casulo de Figueiró dos Vinhos, o outro sobre a Casa dos Açores de Minde) eram baseados num roteiro imaginado entre três terras (a terceira é tratada no presente texto), únicas pela profusão de arte associada a grandes nomes do panorama nacional e que encontram refúgios em povoações não tão badaladas ou cosmopolitas mas que nem por isso, ou precisamente por isso, se tornaram tugúrios perfeitos da melhor produção artística portuguesa da viragem do século XIX-XX.

O leitor atento procurará mais semelhanças com as pedras anteriormente pisadas em Figueiró dos Vinhos e em Minde. E nesta nova terra, a saber, nas Caldas da Rainha, encontrará várias: o tamanho da localidade (ainda assim, a maior das três), o equilíbrio entre campo e urbe, a tendência para se diferenciar na região onde se insere, para não falar da profusão de arte espalhada pelas ruas (amiúde dos graffitis execráveis de amadores sem talento ou vocação honesta). Quanto a diferenças, a principal reside na ausência de um cluster têxtil, embora não falte indústria na zona.

Mas tardamos em ir ao cerne da questão que aqui nos trouxe e, portanto, ignorando todos os outros incríveis chamarizes que a cidade tem, curvamos para um dos pulmões verdes da cidade. O parque D. Carlos I é naturalmente um ex-líbris. Não só pela história que carrega sobre os ombros de árvores imensas, em volume e número, mas também por gravitarem à sua volta os principais
pontos de interesse para qualquer veraneante na zona.

É deixar-se descansar nas esplanadas e admirar a fauna em sossego, perspectivar futuros melhores para os pavilhões infelizmente em ruínas, e até reviver os locais da recente série portuguesa Causa Própria, bastante boa por sinal. E que dizer das estátuas, polvilhadas pelo jardim, poiso de pavões, gansos e folhas outonais?
São nada mais do que sinais do centro gravítico do parque, e o nosso principal objectivo.

Um museu e pêras

Fosse mais a sul e faria o trocadilho parvo com a Pêra Rocha, mas não o vou fazer.

A entrada do Museu José Malhoa é ao mesmo tempo monumental e discreta, o que revela bastante do carácter da sua exposição permanente. De facto, a colecção exposta é simultaneamente humilde e grandiosa. Como assim, perguntais?

Bom, quem passe a correr pelo museu, facilmente o classificará como interessante, mas longe da fasquia de um MNAC ou British Museum. Mas quem estiver atento repara no valor do seu espólio, no carácter único e exclusivo que tem, o que eleva o Museu para um patamar bastante superior.

O seu nicho de arte, tanto em pintura, cerâmica e escultura, garante-lhe uma expressividade e relevância enorme. Sim, percebestes bem. Três tipos de arte, cada uma especializada num género. Mas vamos por partes.

Seguindo as pisadas dos naturalistas dos museus referidos nos posts anteriores, lancemo-nos então nas galerias de quadros, ora do tamanho de uma caixa de sapatos, ou de uma parede inteira. Estão aqui exemplares maiores do naturalismo português (um dos quais já foi visto na publicação do Casulo de Figueiró-dos-Vinhos). Aliás, quem queira admirar e perceber a pintura portuguesa da viragem do século, tem de se dirigir precisamente aqui. Da magistralidade do próprio Malhoa, à simplicidade de Marques de Oliveira, passando pela melancolia de Columbano ou a tranquilidade de Souza Pinto.

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Retrato da Menina Laura Sauvinet, ao meio, no Museu José Malhoa

Ao meio, quadro do Retrato da Menina Laura Sauvinet

A riqueza e diversidade

A simplicidade dos traços – que ao perto parecem abstractos e propositadamente mal delineados -, criam ao longe formas compostas e formosas, ainda que meio vibrantes e emotivas. Cada quadro é uma perdição, uma janela para outro Cosmos. Não é pois de admirar que se propicie mais do que uma visita ao Museu.

E como se a pintura não bastasse, deste espólio parte-se para a história da cerâmica das Caldas da Rainha, ela própria merecedora de um artigo só seu. Famosa hoje em dia, felizmente, tornou-se num must, num produto típico Made in Portugal, o que só acontecia há uns anos com o Vinho do Porto. Percorrendo a sua evolução, com uma origem mais antiga do que se possa pensar, chega-se à secção de Medalhística e Desenho como mais um acepipe artístico.

No final, chega um “mimo”. A última galeria guarda gigantes de pedra, prontos para surpreender o incauto. A estatuária enorme é ela própria pequena, por sinal, uma vez que serviu de protótipo de outros exemplares mais colossais.

Com tanto encher de olho e alma, um visitante, quando for já desterrado para o exterior, até ficará azamboado. O melhor será percorrer um dos inúmeros caminhos do parque para desmoer a
overdose de arte e enfim parar num qualquer café para saborear uma cavaca ou no outro pulmão da cidade, a Mata da Rainha D. Leonor.

E com este último texto, termina assim o terceiro e derradeiro passo de um percurso sugerido pelo Portugal desconhecido.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=39.40079 ; lon=-9.13396

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