Jardim dos Poetas (Ponte da Barca)

by | 3 Fev, 2025 | Lugares, Minho, Natureza, Províncias, Quintas e Jardins

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Não há melhor postal de Ponte da Barca do que este que se vê quando entramos na vila pelo lado norte, ou seja, cruzando o Lima pela ponte tardo-medieval e com olhar inclinado para montante. É um belíssimo momento que convida à contemplação, fenómeno que escasseia no despacho da vida moderna. Daqui temos o burgo barquense resumido numa só gravura: a extensa e arborizada Praia Fluvial de Ponte da Barca, o casario em escalada com a torre da Igreja Matriz a cavalo, e o airoso Jardim dos Poetas mais o seu pelourinho e o seu antigo mercado. É ao jardim e seus atributos aquilo a que a escrita hoje se dedica, com a promessa de que os restantes elementos deste feérico quadro, a praia e a igreja, terão também o seu espaço por cá.

Que poetas são estes?

O Jardim dos Poetas de Ponte da Barca, é justo que se diga, tem pouco de jardim. Há uns canteiros, sim, mas mais depressa o temos como largo. Se há exagero descritivo ao classificá-lo como jardim, a parte dos poetas explica-se melhor. No limite nascente da praça vemos um monolito em pedra alusivo a dois irmãos barquenses de reconhecida poesia: Agostinho Pimenta, que mais tarde adoptou o nome de Frei Agostinho da Cruz quando ingressou na vida monástica; e Diogo Pimenta (mais conhecido por Diogo Bernardes), cavaleiro próximo de D. Sebastião.

Agostinho e Diogo, irmãos poetas, sempre se deram bem. Mesmo quando a vida os apartou, tinham o hábito de trocar correspondência. A vida de um e outro, contudo, apenas convergiu no amor às letras e à poesia. No resto, quase tudo os separou. Frei Agostinho da Cruz, depois de alguns anos a aturar o seu destino de rapaz privilegiado do qual não se denotava gostar muito, entregou a sua vida à consagração enquanto frade franciscano, sobretudo em Sintra e em Setúbal (onde acabou sepultado). Já Diogo Bernardes, ao contrário do irmão mais novo, não parece ter sido seduzido pela austeridade eremítica, e aproximou-se da esfera de influência régia, desenvolvendo relação familiar com o rei D. Sebastião, ao ponto de o seguir para as trágicas campanhas no norte de África e ter sido preso depois da derrota de Alcácer Quibir.

A obra poética de cada um deles tinha também poucos pontos de concordância. Frei Agostinho da Cruz versou sobre as agruras e angústias da condição humana, mas também sobre a redenção e a fé, a sua e a dos outros. Nos momentos mais doces da sua obra, elogiou a Serra da Arrábida que o recebeu, bem longe do seu berço nortenho. Diogo Bernardes, considerado o poeta do Lima, escreveu sonetos líricos à sua saudosa terra natal e a este rio, por vezes de amor, outros não se esquivando ao maldizer: “Num solitário vale, fresco e verde, / Onde com veia doce e vagarosa / O Vez, no Lima entrando, o nome perde” ou “Águas do claro Lima, que corria / Pera mim, noutro tempo, claro e puro, / Que correr vejo agora turvo, escuro, / Quem afogou em vós minha alegria?“.

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Vista para a ponte e o rio Lima do Jardim dos Poetas

Uma ponte, um rio, um jardim

Explicados que estão os poetas do jardim, registe-se agora a poesia do mesmo. A poesia na beleza minhota de uma praça de casas de traço medieval, uma das quais, diz-se, foi ocupada pelo rei D. Manuel I no regresso do seu Caminho de Santiago. A poesia na ponte que mudou a história da civitae barquense, assumindo-se a partir daí como uma das principais passagens sobre o Lima, em especial para quem jornadeava entre Braga e Monção. A poesia no rio Lima, que por este trecho começa a ter as primeiras horas de trégua depois da luta que travou nos vales de pedra entalados entre os espinhaços da Serra da Peneda e da Serra Amarela.

E depois o pelourinho, também ele relacionado, em estilo, com o rei D. Manuel, e que por aqui ganha o estatuto de Monumento Nacional. Movido para cá desde o Largo da Misericórdia, mostra ao hóspede entrante em Ponte da Barca pela margem direita do Lima, como eu, que está em sede municipal. E por fim este edifício paralelepipédico em jeito de galeria que antes dava refúgio a comerciantes e viajantes e barqueiros a que o povo chamou de Mercado Pombalino (Marquês de Pombal era, pela altura da construção do mercado, seguia o ano de 1752, já Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra) e onde ainda hoje, como antigamente acontecia com a feira franca, se fazem alguns dos principais eventos da concelhia.

Galeria do Mercado Pombalino em Ponte da Barca, junto ao rio Lima

Mercado Pombalino, antigo refúgio dos comerciantes

Mercado Pombalino e Pelourinho de Ponte da Barca vistos da ponte

A primeira vista de Ponte da Barca

Monólito que homenageia os poetas barquenses

Os poetas que nomearam o jardim

Promoções para dormidas em Ponte da Barca

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.80942​; lon=-8.41793

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