Igreja Matriz de Ponte da Barca

by | 5 Fev, 2025 | Lugares, Minho, Monumentos, Províncias, Religiosos

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A Igreja Matriz de Ponte da Barca, cujo orago é atribuído a São João Baptista, é um dos elementos que reconhecemos quando miramos a foto da praxe da vila – aquela que se tira do lado norte, junto à ponte quatrocentista. Montada num suave outeiro, eleva-se acima do casario do Jardim dos Poetas e da principal avenida do burgo, a Rua Conselheiro Rocha Peixoto.

A igreja das velhas famílias barquenses

Esta igreja que agora se vê é um produto do século XVIII. Contudo, por aqui existia já uma outra, de berço quinhentista. A antiga seguiu um plano de construção intermitente, bastante dependente das doações individuais das antigas famílias barquenses que disputavam a tutelagem das capelas adossadas ao templo. Com efeito, as capelas obradas pela nobreza serviriam, como era costume, enquanto câmara funerária dos seus financiadores. Uma sala fúnebre dentro da casa de Deus era uma forma de estar mais perto do Criador, condição que facilitava acesso à vida no paraíso após a morte. Este tipo de construções colaterais foram tradição na Idade Média e até depois disso. Claro que, sendo o espaço limitado e a procura muita, quem mais podia comprar tal privilégio eram as fatias superiores da organização social medieva: a nobreza e o clero.

Dotado de várias capelas laterais patrocinadas pelas mais importantes famílias de Ponte da Barca, o velho templo recebeu apoio dos Magalhães (ligados a Fernão de Magalhães) e dos Pimentas (ligados aos irmãos e poetas Diogo Gonçalves e Frei Agostinho da Cruz), tal como os Costas e os Araújos e os Taveiras, que aqui garantiam dormitório eterno.

Do lado de fora, as longas peças correspondentes às capelas da fidalguia de Ponte da Barca são perfeitamente visíveis, destacando-se todas elas do eixo medular do edifício. No interior, entendemos a sua articulação com a nave, e, apesar das requalificações sofridas, notamos que algumas delas ainda apresentam sinais das famílias que as alçaram. É o caso da primeira capela da esquerda (a do lado do Evangelho), dedicada a São Bento, que nos cantos superiores da parede de fundo mostra dois brasões similares, tendo o da direita a data de 1657.

Por outro lado, desviando o olhar para a cabeceira da igreja, a capela-mor denota toda a influência do século XVIII pela nítida escolha do Estilo Nacional, presente no exagero barroco do trabalho da talha e na grandeza do par de anjos que protegem, como seguranças, a moldura retabular. É um trabalho de Miguel Coelho, artista de Barcelos e gabado entalhador que deixou muita obra por apreciar em distintas capelas e igrejas do Entre-Douro-e-Minho.

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O século XVIII transformou o templo primitivo, que na verdade já se encontrava em débil estado para a prática eucarística depois de parcialmente destruído pelo tempo e pelo exército espanhol nas longas Guerras da Restauração. Depois de alguns pára-arranca, o arcebispo de Braga declarou a reconstrução da nova matriz de Ponte da Barca como uma prioridade, e foi pouca a demora até ao novo monumento chegar pelo traço do arquitecto Manuel Pinto Villalobos, um homem estimado da vila, da qual era natural.

A reforma foi de tal modo profunda que alguns estudiosos afirmam que, mais do que uma renovação, a Igreja Matriz de Ponte da Barca foi vítima de uma substituição, ficando as capelas laterais e alguns detalhes da fachada, minimamente salvaguardados, como os únicos pontos de conexão com o templo original.

Capelas laterais do lado do Evangelho vistas pelo lado exterior

A profundidade das capelas laterais vista pelo lado exterior

Arcanjo São Miguel em pintura alusiva às almas

Capela lateral dedicada ao Espírito Santo e patrocinada por Isabel Gonçalves da Costa

São Bento enquadrado entre dois brasões da fidalguia barquense

Os brasões nos cantos superiores da Capela de São Bento

No que toca à fachada, como seria de esperar, apontam-se as duas representações alusivas ao orago da igreja, São João Baptista, que tanto se apresenta no nicho sobreposto ao portal, em estátua, como por cima, no medalhão que ilustra o baptismo de Jesus Cristo no rio Jordão que, a julgar pela simplificação estética, diria ter sido aproveitado de outros tempos.

E por fim não posso não falar da aparente desarmonia quando lemos toda a frontaria do templo barquense. De facto, olhando para a Igreja Matriz de Ponte da Barca cá de baixo, antes de lhe subirmos as escadas de acesso ao adro, reparamos que alguma coisa não está bem. Fixando a torre da esquerda vemos, do lado oposto, à direita, uma meia equivalência – ou seja, vemos as fundações de uma outra torre, simétrica, que deveria fechar a matemática de um e do outro lado. Problema: a torre da direita está amputada. Ao que se pensa, terá sido um raio, em 1776, que rachou o seu topo, deixando a igreja com um evidente desequilíbrio geométrico. Uma deformidade que só lhe dá mais cor. Defeitos que vêm por bem…

O belo púlpito barroco no interior da Igreja Matriz de Ponte da Barca

O púlpito barroco

Representação de São João Baptista a baptizar Jesus Cristo

O baptismo de São João Baptista a Jesus Cristo na fachada

A beleza barroca do retábulo da Igreja Matriz de Ponte da Barca

Capela-mor e o seu retábulo de Miguel Coelho

Os bonitos tectos e coro-alto da Igreja Matriz de Ponte da Barca

Tecto, coro-alto e órgão

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Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.808 ; lon=-8.41967

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