Ilha da Morraceira
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A Ilha da Morraceira aparece com surpresa, quase no ponto em que o Mondego se deixa abraçar pelo Oceano Atlântico, imediatamente a sul da Figueira da Foz.
Uma ilha na Figueira da Foz
A coisa não é original – o fenómeno repete-se noutros pontos do país, embora com ilhéus de corpo habitualmente mais pequeno. Neste caso, o aluvião que se criou de areia e terra por actividade de duas correntes de rio (a norte e a sul) foi engordando até criar um salobro pedaço de lama, prado e junco.
E morraça, já agora, porque Morraceira, ao que tudo indica, advém daí – uma planta que gosta dos ares marítimos e com preferência por pisos que, de tempos a tempos, são submersos. Os sapais do Estuário do Mondego revelaram-se, portanto, favoráveis ao crescimento da morraça, o que determinou o nome desta ilha que ainda é fluvial, e de dimensões surpreendentes tendo em conta o espaço onde se encontra (tem sensivelmente sete quilómetros de extensão e 600 hectares de área sendo bem visível num amplificado mapa de Portugal).
Na Morraceira, separação de terra faz-se por dois corredores de rio – um a norte, dito Braço Norte, outro a sul, naturalmente chamado Braço Sul. A água que corre a norte vem no seguimento natural do curso do Mondego, sendo aqui a torrente mais funda e movimentada. Do outro lado, o curso fluvial que acompanha a linha meridional da Morraceira mistura o Rio Pranto e um pequeno membro que se desvia do Mondego – nesse caudal, as águas estagnam e geram-se algumas áreas de lodeiros e lamaçais.
Esta ilha figueirense foi durante anos disputada entre famílias e entidades privadas e públicas, sendo até hoje discutidas as suas fronteiras e a sua pertença municipal. Contudo, actualmente, é votada a algum esquecimento, não só dos veraneantes que aqui passam as suas férias invariavelmente balneares, mas também dos locais, que, provavelmente por hábito, vêem a Ilha da Morraceira como apenas mais uma peça da paisagem litorânea. Uma pena, atendendo ao ecossistema particular de que goza. Aguarda-se o dia em que as pessoas virem, de quando em vez, as costas às praias da Figueira e saibam apreciar o seu encantador Salgado.
A avifauna é o grande atractivo turístico da Ilha da Morraceira, na Figueira da Foz
A economia na Morraceira
A Ilha da Morraceira, mormente o seu território que se encontra a Leste da Ponte Edgar Cardoso, foi palco de variadíssimas actividades, naturalmente relacionadas com o seu posicionamento geográfico, ou seja, com a proximidade que tem do mar. A pesca, claro, é secular. Mas há outras a destacar, algumas pouco óbvias.
Desde a seca do bacalhau à construção naval, passando pelo fabrico de vidro, pela indústria do sal, e pela aquacultura, a localização da Morraceira ajudou a empurrar a economia local, ao mesmo tempo que viu, na sua história, diversos episódios de lutas legais acerca da sua exploração.
Hoje em dia, a aquacultura e a exploração do sal ocupam a maior parte da labuta da ilha, embora ambas estejam em franco declínio.
No caso da aquacultura, ela é feita de forma extensiva e artesanal, com maior enfoque na zona norte, onde a água bate mais.
A exploração do sal, dando uso às várias salinas que se dispersam pelo território (e que, infelizmente, perderam uma boa fatia do seu negócio respeitante à conservação de alimentos, entretanto modernizado por outros métodos), ocupa boa parte da actividade da Morraceira. A esse propósito, caminhando pelas poucas estradas que se cruzam e se alinham habilmente entre os esteiros, encontramos as famosas casas de madeira apropriadas para o armazenamento de sal (e já faladas a respeito das Salinas da Fonte da Bica).
Recentemente, têm vindo à tona apurados estudos que visam empurrar a Ilha da Morraceira para o turismo, ideia que não é de todo dispensável, até pela diversificação que tal acção poderá trazer à carteira de turistas que procuram a Figueira da Foz nas férias, nos dias que correm à procura de pouco mais do que areia, sol, e mar.
Fauna da Ilha da Morraceira
Adiantemos um dado que diz mais do que muitas palavras: a Morraceira, enquanto parte do Estuário do Mondego, é considerada zona RAMSAR, isto é, zona húmida de interesse internacional. A sua posição estuarina, nas imediações do oceano, vítima do sal Atlântico, coloca-a como um palanque natural para vários tipos de aves.
Com efeito, o birdwatching é mesmo um dos passatempos mais comuns para os poucos que se deslocam à Morraceira em lazer. Lá pousam aves que fazem do lodo o seu chão predilecto, como pernilongos, borrelhos e pilritos-de-peito-preto. Dessas podemos esperar encontrar com relativa facilidade. Mas há mais, como guinchos e chilretas e o já imponente tartaranhão-ruivo-dos-pauis ou até a águia pesqueira.
Sazonalmente, com o aproximar do Inverno, avistam-se manchas rosas esvoaçantes que aqui descansam. São os flamingos que procuram a foz do Mondego, tal e qual como acontece noutros estuários mais a sul.
Onde ficar
Na margem direita do Mondego, ou seja, na Figueira da Foz propriamente dita, há oferta mais do que suficiente e para todos os gostos. O Hostel 402, logo ao lado da praia, é muito recomendável para quem não tem aversão a casas de banho partilhadas. O Fonte da Foz é também digno de menção, uma espécie de boutique hotel num prédio restaurado (e bem, com azulejos na fachada de muito bom gosto) e onde a sustentabilidade é mote.
Já na margem esquerda do rio, as opções baixam drasticamente. Mas temos sempre a Casa na Areia, um sítio obrigatório para quem gosta de férias balneares. Difícil mesmo é conseguir reservar – está quase sempre ocupada, especialmente nos meses de Verão.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=40.13404; lon=-8.83152