Salinas da Fonte da Bica

by | 17 Ago, 2018 | Insólito, Lendas, Províncias, Ribatejo

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Um conjunto de casas a que alguns chamam de aldeia chegou a estar pertíssimo de ser condecorado como uma das maravilhas do país. As Salinas da Fonte da Bica apresentam-se no limite fronteiriço sul do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.

Uma nascente de fenómenos raros: queijos de sal, casas de madeira, um rio que tem sete vezes mais sal do que a água do mar

Origem das Salinas de Rio Maior

A curiosidade é o que mais leva as pessoas a ler sobre as Salinas da Fonte da Bica, também conhecidas como Salinas de Rio Maior ou Marinhas de Sal de Rio Maior, dada a proximidade (cerca de três quilómetros) da cidade ribatejana. E digo curiosidade porque daqui se tira sal estando o visitante relativamente longe do mar salgado, a cerca de três dezenas de quilómetros de distância. Mais surpresa há quando sabemos que as águas que aqui passam são de rio e não de mar.

A razão para tal exotismo é simples, pode ser explicada de forma não muito extensiva: há centenas de milhares de anos, o mar que aqui estava, por movimentos tectónicos, retraiu-se, criando neste lugar várias bolsas de água sujeitas às reacções que as circunstâncias naturais provocam, no caso, à evaporação. Ora, evaporando-se a água do mar, ficou o sal, ou o sal-gema, que não é mais do que sal em forma fóssil. Mais tarde, um curso de água doce subterrâneo com nascente na serra adjacente (estamos em terrenos calcários, onde os rios correm na sua grande parte abaixo do solo) ganhou forma e atravessou-se nestes depósitos, misturando o sal do sal-gema nas suas águas. E assim herdámos o estranho fenómeno de ter um riacho que consegue ser mais salgado do que o mar (é sete vezes mais, imagine-se).

Terá sido o trabalho da extracção de sal aquilo que levou a que este nico de terra tenha sido ocupado desde o paleolítico, como se comprova pelos achados em pedra que já se desterraram, continuando a ser habitado sem interrupção por todos os períodos da história humana no mundo, frisando a importância que o composto teve no desenvolvimento da civilização, nomeadamente no que toca à conservação dos alimentos.

É certo que, no papel, as Salinas da Fonte da Bica existem há aproximadamente oito séculos, mas isso é apenas uma formalidade de secretária. Por muito que a história dê atenção aos documentos – e deve dar, obviamente -, isso não nega o que está para trás: a prova de procura de sal nestas paragens revela-se de outras maneiras para além de pena e tinta. A busca tem milhares de anos. O que mudou foram os instrumentos de extracção… os picotes viraram bombas-eléctricas, os antigos rodos são agora pás. Mas a essência do processo mantém-se. O sal como produto final continua puro, livre de químicos, sofrendo os processos de transformação que a natureza ordena, pelo vento e pela água e pelo sol. É, segundo os que lá trabalham, o sal mais limpo do mundo!

Charcos de sal nas Salinas de Rio Maior

Pirâmides de sal em Rio Maior

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As casas de madeira de Rio Maior

Mas mais do que os tanques onde a água descansa e espera que o sal lhe seja extraído, e mais do que as pirâmides de pó branco que acumulam o composto em tábuas de madeira, e mais até do que todo o engenho orgânico que leva água fluvial a ter uma quantidade despropositada de sal, o que o comum dos mortais leva da Aldeia das Salinas é o casario inesperável que se aglomera ao longo dos campos de trabalho.

São pequenos casebres de piso térreo, todos eles de madeira, ternos e desengonçados. Muitos deles estão sustentados toscamente em troncos de oliveira.

Eram antigos armazéns de sal (daí a escolha da madeira como material de construção, que lhe evita a corrosão), por vezes casas para quem o produzia, que agora, depois de formada a cooperativa, ganharam um outro propósito – o comércio. Aqui se vendem agora têxteis da região, licores nacionais, bolos caseiros, e o produto rei, o sal – não esquecendo os curiosos Queijos de Sal.

A recuperação das casas de madeira de Rio Maior passou assim por uma transição da sua função original (como de resto se faz com palacetes ou castelos). Além de lojas, algumas tornaram-se restaurantes. Ainda assim, muitas mantiveram a genética: aqui trabalham agora os netos e bisnetos de gente que passou uma vida a sacar sal de um rio escondido debaixo do chão riomaiorense.

De destacar são também as trancas que encerram as portadas de cada um dos armazéns, desbloqueadas com chaves feitas também em madeira que são usadas com a ranhura virada para cima, ao contrário daquilo a que o quotidiano nos habituou.

Casas de madeira em Rio Maior

Antigos depósitos do sal mais puro do país – um casario de madeira ao lado de Rio Maior

Onde ficar

A Casa d’Aldeia, com piscina e uma excelente vista para o Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, tem o branco encanto das casas de campo associado à localização: bem ao lado das salinas de Rio Maior.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=39.36387; lon=-8.94399

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