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Se reconhecer determinadas espécies e subespécies de aves pode ser tarefa para profissionais, o Flamingo (ou Flamengo) não oferece dúvidas quando se avista: é literalmente inconfundível, e podemos apontá-lo a centenas de metros de distância.

Um animal que temos como uma extravagância de países quentes e húmidos mora, para a gente do litoral centro e sul, bem à sua porta. Da Ponte Vasco da Gama, em Lisboa, conseguimos contar dezenas e dezenas deles a partir do Outono.

Descrição do Flamingo

Como já foi dito, só mesmo não sabendo o que um Flamingo é explica não conseguirmos identificá-lo.

Procuram normalmente estuários, águas onde o sal condimenta a água que vem doce dos rios. Daí que se encontrem em certas lagoas próximas do oceano e até em salinas ou arrozais criados pelo Homem. O normal é que se fixem em zonas onde o nível da água não lhes ultrapasse a altura das pernas, ao pé de certos ilhéus e terras alagadiças que metam o pescoço fora dos cursos dos rios.

O que melhor caracteriza os Flamingos é, como toda a gente sabe, a sua cor, que depois de um primeiro ano de pelugem meio acinzentada passa para um cor de rosa que, especialmente nos machos, chega a ser estonteante. Os tons rosados ocupam-lhe quase todo o corpo, incluindo o bico, também ele de forma particular, adunca, e apenas quando em voo, esticada dos pés à cabeça, lhes descortinamos uma vasta mancha negra nas asas (ver imagem em baixo).

Outra singularidade é o seu pescoço. Inicialmente, diríamos que o mais invulgar é o seu comprimento, que é imenso ao ponto de se tornar absurdo. Depois damos conta que ainda mais impressionante é a forma como se desdobra, parecendo cera quente, moldável àquilo que bem entende fazer.

É igualmente bizarra a forma como se alimenta, momento em que conseguimos ver a sua cara quase virada contra o seu próprio corpo, com a cabeça parcial ou totalmente dentro de água, onde buscam moluscos ou pequenos peixes ou vegetais marítimos como algas.

Uma pequena curiosidade é a sua monogamia. Um Flamingo macho é homem de uma só mulher, e vice-versa. Nidificam na chegada da Primavera e raramente chocam mais do que um ou dois ovos.

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Grupo de Flamingos em voo baixo

Quem diria que uma ave tão exótica se poderia encontrar antes de entrarmos em Lisboa

O Flamingo em Portugal

Deve fazer-se notar que o comportamento do Flamingo é completamente errático. Ao contrário de certas aves que estão em constante movimento mas com rotas migratórias bem precisas, a sublinhar o determinismo da vida de certas espécies da avifauna, o Flamingo é comparativamente um animal bem mais livre. É por isso que os que cá encontramos podem ter chegado, há pouco tempo, do norte de África, como do sul de Espanha, como de certas ilhas do Mediterrâneo como a Sardenha ou a Sicília ou o Chipre

Apesar de o podermos avistar em diversas zonas fluviais coladas ao litoral, sobretudo no Inverno, é no centro e sul que surge com maior probabilidade, estando a sua grande concentração bem perto de Lisboa, normalmente na margem sul da Reserva Natural do Estuário do Rio Tejo, entre as províncias do Ribatejo e da Estremadura, quando o leito alarga para formar aquilo que conhecemos por Mar da Palha. E apesar de estarem mais frequentemente associados à Margem Sul (Montijo e Alcochete à cabeça), a verdade é que é bem possível que os vejamos do outro lado, paredes meias com a zona da Expo, no ponto onde o Rio Trancão desagua para o Tejo. Para quem não é de Lisboa, nem dos arredores, poderá encontrar na Quinta da Praia das Fontes uma cama com vista para a capital, ao mesmo tempo que se encontra no coração das fixações de Flamingos no estuário estremenho.

Fora esta particular área semi-urbana do país, ocorre noutros estuários onde o calor é mais frequente, ou seja, a sul do Tejo. No Sado, por exemplo, vê-se amiúde, quase tanto quanto no rio que limita Lisboa a sul. O Alto Alentejo tem-no em maior número na maior lagoa do alentejano costeiro: a Lagoa de Santo André. E no extremo sudeste, em Castro Marim, é uma presença constante do sapal com o nome da terra, um pouco antes do rio Guadiana chegar à sua foz, na pombalina Vila Real de Santo António – para dormidas aqui, recomendam-se os apartamentos da propriedade Sobral de Baixo.

Mais para norte poderá ser visto na lagoa de Óbidos, embora nem sempre se tenha essa sorte, e no estuário do Mondego, menos frequentemente. Acima da linha do Mondego, onde o clima de influência mediterrânea dá lugar ao clima atlântico, é que muito dificilmente o vislumbramos – excepção feita à Ria de Aveiro.

No entanto, parece que apesar de muitas vezes pairar e parar por cá, não costuma escolher Portugal como sítio de nidificação – algo que, de acordo com alguns olhos, pode mudar (foram vistas algumas nidificações de Flamingos na segunda década do novo milénio.

 

A inspiração da Fénix?

Provavelmente pela sua cor, vivamente rosada chegando quase a atingir o encarnado, conta-se que terá sido o Flamingo a inspiração da solar Fénix Renascida, a mítica ave grega que ressuscita das suas próprias cinzas, numa clara simbologia cíclica – própria de uma natureza onde tudo o que morre torna a renascer, como acontece na Primavera, a estação da ressurreição, à qual posteriormente se colou a imagem cristianizada de Jesus ressuscitado.

Duas justificações para a origem da palavra flamingo apontam nesse sentido: vindo do latim flamma (flama) ou do provençal flamenc (chama), ambas as hipóteses relacionam o animal com o fogo, elemento central da Fénix, que sofre uma purificação através deste elemento para ganhar uma nova vida.

Também a civilização egípcia tinha nestes animais uma tradução zoomórfica do Deus Ra, o Deus Solar, mais uma vez ligando esta ave flamejante ao astro que está na origem do fogo enquanto elemento.

Contudo, em Portugal, não tem a frequência simbólica que outras aves presentes em Portugal têm, como a coruja ou o corvo.

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