Igreja do Bom Jesus da Cruz

by | 2 Jan, 2019 | Lugares, Minho, Monumentos, Províncias, Religiosos

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Uma capela que, de tão importante ser, monumentalizou-se no que agora vemos: a Igreja do Bom Jesus da Cruz, uma magnífica obra do barroco português, pensada e desenhada por um homem em estado de graça.

O templo circular de Barcelos

Se quando se fala em Barcelos a primeira coisa que nos ocorre é a sua história lendária suportada pela iconografia do Galo de Barcelos, não podemos esquecer um exemplar do seu património enquanto visita obrigatória, andando ali perto.

Numa antiga eira onde agora está o Jardim da Avenida da Liberdade (comummente tido como o terreiro da Feira), um habilidoso arquitecto, o lisboeta João Antunes (obreiro da Igreja de Santa Engrácia, na capital), foi encarregado de projectar um templo que substituísse outra pequena ermida que ali se fixava. Em boa hora isso aconteceu.

A Igreja do Bom Jesus da Cruz goza de uma posição axial, e é a primeira coisa a chamar-nos a atenção quando subimos à Torre de Menagem barcelense. Puxa-nos a curiosidade pela forma, aparentemente circular – na verdade, é mais correcto dizer que se trata de uma planta octogonal, onde dois rectângulos se interceptam (formando quatro paredes rectas), ligados depois por muros convexos (formando as restantes quatro paredes).

Torna-se ainda mais bela pela envolvente desimpedida em que se encontra, parecendo que tudo à volta se rebaixou à sua preponderância.

O Senhor da Cruz

Lá dentro, nada defrauda. É uma continuação natural do que vemos por fora. Lá está, o interior foi, também ele, esquematizado por João Antunes, dando a coerência necessária a uma obra total imaginada pela mesma cabeça.

E lá se encontra o Bom Jesus da Cruz, num retábulo precioso de madeira de carvalho, em talha dourada. A sua construção, dizem-nos, é feita na Flandres, no século XVI, remetendo-nos para o milagre que justifica a célebre Festa das Cruzes e que reveste o chão da igreja com pétalas em Abril e Maio.

O trabalho feito em azulejo, obra de João Neto – também ele natural de Lisboa -, é setecentista, e revela-nos episódios da Paixão de Cristo.

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Imageme altar do Bom Jesus da Cruz

O milagroso Bom Jesus da Cruz, num precioso altar barroco

Lenda do Bom Senhor da Cruz

Havia, em Barcelos, dois homens muito diferentes que se odiavam. Digo diferentes por questões sociais – um era pobre sapateiro, chamado João Pires, o outro fidalgo, D. Pedro Martins. E se o primeiro era um homem entregue à humildade e ao valor do trabalho, o segundo tinha fama de mimado e mulherengo.

A razão do ódio era, principalmente, a filha do sapateiro, uma bela menina de nome Luísa, várias vezes alvo dos olhares do fidalgo.

Um dia estava Luísa junto a uma fonte a recolher água para carregar até casa e o fidalgo deu com ela. Fez o que sempre fazia: galanteou-a, mesmo sabendo que isso a deixava desconfortável. Luísa, depois de várias vezes ter pedido que ele a deixasse em paz, e de várias vezes Pedro Martins ter fingido que não ouvia, tentou escapar. Não conseguiu. A impedi-la estavam os braços do nobre, intransigente.

Apareceu então João Pires, o sapateiro, irado com a situação e pronto a acudir a sua filha. Puxou Luísa para si e avisou Pedro Martins:

– Tornas a tocar na minha filha e não quero saber dos teus títulos… deixo-te a tua cara marcada pela minha mão…

Pedro Martins, que pela condição que tinha se sentiu humilhado pela ameaça, retorquiu:

– Mas quem é que tu julgas que és? Não mais do que um reles de um sapateiro. Fica sabendo que a tua filha sempre se mostrou bem disponível, a mim e a outros…

E perante a afronta, João Pires, num acesso de cólera, esbofeteou o fidalgo, deixando-lhe uma enorme marca vermelha na face.

Pedro Martins virou alvo de gozo. Todos na terra troçavam dele e da sua cara. E por essa razão, não descansou enquanto não houve vingança à altura da sua condição.

Tempos passaram. E um dia, junto à costa, correu a notícia de que um barco vindo da Flandres teve um acidente, deixando muitos tesouros junto ao areal. Luísa, juntamente com algumas amigas, decidiu ver o que se aproveitava. Nas areias de Esposende acharam muitos objectos que nunca conseguiriam comprar. Contudo, estavam prestes a sair quando Luísa se apercebeu de algo que parecia a mão de alguém. Aproximando-se para ver o que era, reparou que se tratava apenas de um bocado de madeira, possivelmente parte de uma cruz entretanto destruída.

Luísa recolheu o que viu e apressou-se a mostrar ao seu pai. Para sua desilusão, ele pouco lhe ligou. Sugeriu, até, que o deveriam aproveitar para a fogueira nas noites frias. E assim fizeram.

Contudo, no fim de tarde em que decidiram dar uso ao madeiro, algo estranho aconteceu. Depois de lançado para as chamas, uma grande luz surgiu. E melhor, no chão apareceu a sombra de uma cruz, pintando a terra de negro… uma sombra de uma cruz que não se via. Daí para a frente, a casa de João Pires tornou-se alvo de devoção. Romarias lá chegavam. A palavra corria todo o Minho. Mas uma pessoa não se convencia. O velho inimigo, D. Pedro Martins achava-o um embuste, um vendido à bruxaria.

E assim o fidalgo resolveu organizar uma visita ao sítio onde o proclamado milagre se deu. Apoiado por outros que torciam o nariz às visões do sapateiro, e uma vez chegado ao local, disse bem alto:

– João Pires engana-vos a todos. É um charlatão. Invoco o nome de Deus para…

E soltas estas últimas palavras, irrompe no chão o desenho de uma cruz, exactamente onde a outra tinha sido vista – uma sombra na terra de uma cruz que não existia em lado nenhum. D. Pedro Martins, boquiaberto, pediu perdão a Deus por ter duvidado deste seu gesto. E como compensação prometeu usar as suas posses para ali construir uma ermida aonde uma romaria deveria chegar. A ermida existiu, sendo depois substituída pela Igreja do Bom Jesus da Cruz. A romaria, essa, ainda é feita, todos os anos, junto ao dia das Maias.

Barcelos – o que fazer, onde comer, onde dormir

Em Barcelos ou Barcelinhos (a margem sul de Barcelos), temos a In Barcelos Hostel & Guesthouse com excelente localização e, para os peregrinos do Caminho Português de Santiago, não podemos esquecer a Barcelos Way Guest House. Qualquer uma delas mostra-se o perfeito retiro para quem pretende conhecer a cidade do Galo mais conhecido do país.

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Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.53212; lon=-8.61927

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