Igreja de São Miguel (Lousada)

Tal como acontece com a vizinha Torre de Vilar, cuja construção o povo atribui, erroneamente, aos mouros, à Igreja de São Miguel, no concelho de Lousada, também é associado um passado islâmico.

Claro está, praticando-se a mesma lógica que aplicámos à Torre de Vilar, também aqui é impossível que o que hoje vemos tenha saído de mãos sarracenas, até porque a sua origem deverá andar pelo século XIII, isto é, na ponta final do período românico, num tempo em que a influência política moura se reduzia ao Algarve, e já muito ao de leve.

Não obstante, tendo em conta os vestígios arqueológicos cá encontrados (que foram muitos e de grande riqueza, a começar por uma laje eventualmente visigoda com a representação de um homem protegido pelo signo de Saimão), podemos assertar que a igreja medieva veio substituir uma outra anterior.

A igreja românica em falta

Lousada tem dois templos integrados na maravilhosa Rota do Românico que é promovida em vários concelhos do Norte português: a Igreja do Salvador de Aveleda e a Igreja de Santa Maria de Meinedo.

Talvez por já ter sido várias vezes requalificada – em especial nos trabalhos da fachada realizados no século XV ou XVI e da capela-mor no século XVIII – e, em consequência, ter perdido a composição que ligamos à arquitectura românica, a Igreja de São Miguel foi deixada de fora da colecção monumental integrada na rota. Valha a verdade que, recorrendo a uma avaliação macro do monumento, a entendemos como uma peça que já se consegue encaixar no estilo gótico, ou seja, num período pós-românico. 

Porém, sendo sincero, creio que a Igreja de São Miguel poderia perfeitamente figurar na selecção de património da Rota do Românico, em especial pelos cachorros que a igreja apresenta no pano virado a sul, que são uma relíquia, e que justificam, de acordo com Augusto Soares de Moura, a atribuição popular da feitura do monumento aos mouros: diz assim o povo que “foi construída pelos Mouros e que eles mesmos pintaram as tais figuras para assim zombarem dos cristãos que iam à missa”.

Mais do que isso, os cachorros (ou modilhões, como também, por vezes, se designam) são, para dizer o mínimo, estranhos. Lembram as gárgulas góticas mas aqui desenhadas com linhas algo infantilizadas, fruto de uma habilidade que tem muito de autodidata e produto de um sentimento com o seu quê de naif em quem as fez. Porque, ao contrário dos templos românicos executados nas cidades – normalmente com investimentos substanciais oriundos de uma nobreza com sede de exibir poder ou das recheadas e expansionistas bolsas de Cluny -, os templos românicos erigidos nos espaços rurais eram desenvolvidos por mestres com menor conhecimento técnico.

Algumas das lajes aqui encontradas

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