Estátua do Basto
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O Basto é uma escultura pré-romana que representa um antigo guerreiro galaico. Ninguém diria, porque ao contrário de outros que tais, este foi vítima de transformações relativamente recentes, estando hoje mais próximo de parecer um soldado napoleónico do início do século XIX.
O Basto primitivo e actual
O Basto encontra-se encostado ao posto de turismo de Cabeceiras de Basto, na Praça da República.
Trata-se, originalmente, de um guerreiro castrejo, muito possivelmente criado pelas tribos galaicas que se encontravam nesta zona do território antes da colonização romana. Quando encontrado, não dispunha de cabeça, tendo apenas a túnica, o saio, o punhal, o escudo, e os aros nos braços. Estes aros, também chamados virias, dão a entender que se tratava de um soldado líder, um comandante – da palavra viria surgiria o nome Viriato enquanto chefe militar.
Este tipo de escultura, encontrada maioritariamente no norte de Portugal (vejam-se os guerreiros do Castro de Boticas ou o de São Julião) e na vizinha Galiza, poderia servir de reconhecimento post-mortem dos grandes guerreiros tribais. É possível que estas estátuas fossem colocadas no topo das suas sepulturas.
Quase todas elas foram recentemente consideradas material museológico e é nesses espaços de exposição que devem ser miradas. Mas não o Basto. O Basto encontra-se fora de portas e não parece que vá sair de onde está. Foi adulterado como nenhum outro, transformando-se num objecto de devoção popular, como se se tratasse de um ídolo religioso, mas em versão bélica.
No início do século XVII o aditamento foi menos óbvio: uma inscrição no peito que se prolonga para o escudo a propósito da deslocação da estátua para perto da Ponte de São Miguel de Refojos. Mas no século XIX, os retoques foram tantos que os críticos chegaram a falar em perversão – houve também quem classificasse a transformação de desvario. De facto, o Basto mudou por completo: passou a ter cabeça, e logo uma com barretina; talharam-lhe umas botas; tonificaram-lhe as pernas; e, não chegando, pintaram-no para lhe vincar o vestuário.
Porém, a reinvenção do Basto, encomendada pela Câmara de Cabeceiras, tem uma explicação que refuta de alguma forma o mar de controvérsias que causou. Aqui vemos como um objecto histórico, que toda a ciência arqueológica defende que mal deve ser tocado e que não deveria sair das paredes de um qualquer museu municipal, passou para as mãos do vulgo, sofrendo com a sua inventividade pouco erudita. Não consigo não achar querençoso o que fizeram à peça. E pelos vistos não estou sozinho, porque de Cabeceiras de Basto é esta a memória principal que fica.
Lenda do Basto
Diz a lenda que um sarraceno de nome Tarik investia por terras visigodas nortenhas e que no Mosteiro de São Miguel de Refojos não se fez grande caso disso.
Mas quando Braga foi de vez conquistada pelas forças islâmicas, as terras a sul do Gerês aprontaram-se para a resistência.
D. Gelmiro organizou as suas tropas. Prepararam a defesa resguardando-se dentro do mosteiro. Ao avanço de Tarik, um dos visigodos, de nome Hermígio Romarigues, conhecido pelo seu porte avolumado e bravura infinita, clamou: “Até ali!, por São Miguel!, até ali basto eu!”
E assim foi. Sozinho, bastou ele. Saltou para a ponte que dava acesso ao templo, fustigando e matando dezenas de mouros. Os sarracenos que sobreviveram acabaram por virar costas ao mosteiro. Conta-se que Hermígio Romarigues migrou depois para as Astúrias, sendo um dos grandes heróis esquecidos da Reconquista.
A lenda, conforme contada em cima, pode ter sido adaptada de uma outra mais antiga – não será difícil imaginar exactamente a mesma narrativa mas tendo os romanos no lugar dos sarracenos, e as tribos galaicas no lugar dos visigodos.
Estátua do Basto
Simbolismo do Basto
O Basto é um génio tutelar, tal como os Berrões do nordeste português ou o Homem da Maça de Santa Cruz do Bispo, por exemplo, também o são. Trata-se, assim, de um totem, uma figura onde um grupo de pessoas, habitualmente com uma cultura homogénea comum, se revê, não só como ícone mas também, não raras vezes, como protector ou entidade divina.
A gente de Cabeceiras de Basto vê no seu Basto alguma coisa que não vê noutro lado. Não o limita à mera condição de bandeira regional, vai para lá disso.
Essa emoção transcendente, por vezes difícil de explicar tendo em conta a rudeza da peça, sente-se como uma intuição colectiva – não é por acaso que Martins Sarmento o tentou adquirir por verba avultada para a altura e a população bloqueou a compra. A razão do embargo é simples e intemporal: não se compra a identidade. O Basto é identidade. Define tanto aquelas paragens que se tornou seu epónimo. E nem a sua pitoresca transformação, que de certa forma o infantilizou, lhe retirou essa aura superior. Apesar das repuxadas bigodaças e da estilização das suas roupas, o Basto continua a merecer o respeito de um Viriato, porque uma espécie de Viriato foi.
Cabeceiras de Basto – o que fazer, onde comer, onde dormir
Cabeceiras de Basto será conhecida por todo o palco natural que apresenta aos visitantes. Com a Serra da Cabreira em destaque, percorrida pelo lendário ribeiro de Levada da Víbora e povoada com os belos Moinhos de Rei, percursos para trilhar não faltam.
Na sede de concelho é imperial a ida ao Mosteiro de São Miguel de Refojos, bem como arranjar um curto encontro com a Estátua do Basto, única no país, não só pela origem que tem como, sobretudo, pelo que lhe fizeram depois. Em Setembro festeja-se por cá a Feira de São Miguel.
Uma das várias Festas das Papas do país acontece nas aldeias de Gondiães e Samão (revezam-se anualmente). Outras pequenas povoações merecem passagem como a das Torrinheiras ou a de Moscoso.
Para dormir, sugerimos a quinta rural Casa de Carcavelos, a Quinta do Rapozinho na base da Serra da Cabreira, ou a Casa de Santa Comba imediatamente a oriente de Cabeceiras de Basto.
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.51438; lon=-7.99515