Dornes
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Dornes é um sítio diferente. Trata-se de um pequeníssimo lugarejo peninsular, feito diamante do Zêzere, na fronteira da Beira Baixa com o Ribatejo.
Dornes, em Ferreira do Zêzere, é como a Ibéria: um pedaço de terra cercado de água (mas doce, e não salgada). Vê-se em cerca de meia hora, mas há uma outra Dornes espiritual por descobrir.
Um filme chamado Dornes
Já foi vila, teve o seu pico de glória aquando do foral manuelino, mas passeando por Dornes nos tempos que correm dificilmente ainda a consideramos terra para tais patentes.
Habitada a nível permanente por pouco mais de duas dezenas de pessoas, Dornes é hoje um refúgio para citadinos que procuram curar os acessos de stress a que o caos urbano os leva – já que estamos no tema, e passe a publicidade, pela qual não recebo qualquer fiança, por cá está um acolhedor alojamento, de nome Art’Rio, que vale muito a pena.
A povoação faz-se da M251 (a estrada que traça uma demorada curva a anunciar a península) para baixo. Vindo de Leste, aparece-nos um cruzeiro numa estrada secundária, à esquerda. Daí para a frente, uma longa língua de terra que se afoga no rio dá espaço suficiente para se criar um cenário pouco esperável: uma torrão de poucas casas, uma torre, uma igreja, uma mini marina, uma praia fluvial, e um cemitério, tudo envolvido de serra e água.
Curiosamente, o cemitério é mesmo aquilo que mais espaço ocupa aqui. E mais, é o sítio mais privilegiado em termos de vista, servindo de antecâmara para uma pequena via que nos leva até à última pontinha de terra antes da corrente fluvial nos vir aos pés.
As pouco mais de três dúzias de casas dispõem-se ao largo de quatro ruelas que se cruzam num só ponto. Na zona mais alta da vila, encontra-se a Igreja de Nossa Senhora do Pranto que, segundo a lenda, protege uma imagem da Virgem, a pedido de Dona Isabel. Aí se dirige uma romaria no dia 15 de Agosto, o da Assunção.
Tudo certinho e a pouca distância, Dornes engole-se num instante. E a maneira mais óbvia de sublinhar o quão cinematográfica consegue ser, é lembrando que foi exactamente aqui que se rodou o filme “Dot.com”, uma comédia ligeira mas interessante onde habitantes de uma pitoresca aldeia entram em zaragata com Espanha por causa de um domínio online – e que, contudo, parecem tornar-se ainda mais indignados quando Lisboa se mete ao barulho, num divertido exercício do bairrismo rural português.
Uma península fluvial, apropriada pelos Templários
Reduto Templário
Em Dornes, aquilo que se esconde para lá dos sentidos é muito. Não querendo enveredar por grandes conversas esotéricas, é, contudo, imperativo falar daquilo que os Templários viram aqui, e o que levou Gualdim Pais, fundador de Tomar, a construir uma torre com cinco lados neste breve trecho de terra – crê-se que por cima de uma outra, mais antiga, tida como obra de Sertório.
Os Templários, para muitos investigadores vistos como o eixo guerreiro de um projecto político (e religioso) chamado Portugal, encontraram na zona centro do país um palco místico conivente com toda a sua filosofia.
De facto, há muito tempo que se fala de energias terrenas, que certos conhecedores das ciências mais ocultas consideram mágicas, e que num caso português se apresentam num triângulo que vai de Dornes a Tomar, passando por Fátima. Que a Ordem dos Templários partilhasse esta convicção não é nada de pôr de lado. E a Torre de Dornes (ver imagem em baixo), pentagonal, fazendo a ligação com o pentagrama existente na Igreja de Santa Maria do Olival (ver imagem ao lado), sede templária tomarense, está lá a comprová-lo.
A torre, incorporada na linha defensiva do Tejo por alturas da Reconquista, a par com o igualmente templário Castelo de Almourol, viria mais tarde a ser transformada em torre sineira da capela que lhe construíram ao lado, dedicada à Virgem.
O facto de, via uma lenda descrita em baixo, termos a Rainha Santa Isabel associada a uma lenda deste espaço (uma das quatro ruas de Dornes tem o seu nome) só volta a colocar Dornes em territórios que têm tanto de real como de mágico, talvez até mais do segundo do que do primeiro. E retoma o elo templário: Dona Isabel era casada com Dom Dinis, provavelmente o maior protector dos Templários, salvando-os, até, da morte.
Pentagrama na Igreja de Santa Maria do Olival, em Tomar
A estranha torre pentagonal, em Dornes, Ferreira do Zêzere
A lenda de Dornes
O nome Dornes, contam alguns, provém de uma lenda. Uma lenda muito antiga, que remonta aos tempos da Rainha portuguesa que mais aplicada é ao nosso lendário: Dona Isabel, a Rainha Santa, e milagreira.
Os terrenos do Zêzere eram domínios da rainha Isabel [nota: os terrenos de Dornes, que se saiba, nunca pertenceram a Dona Isabel, mas nenhuma lenda deve ser levada cem por cento à letra], casada com D. Dinis, provavelmente o melhor dos reis portugueses. Por lá deixou um rendeiro para administrar as suas terras, de nome Guilherme de Pavia – um homem que era, de certa maneira, um reflexo da própria monarca, pela fama milagreira que tinha.
Certo dia, passeava Guilherme de Pavia pelas serranias sobranceiras ao rio Zêzere, até que ouviu um gemido. Era um choro agudo, longo, que não parava. Procurou de onde vinha tal pranto, sem sucesso. No dia seguinte, caminhando pelos mesmos trilhos, o lamento persistiu, e o cavaleiro tornou a tentar encontrar a sua origem, novamente sem sucesso. O mesmo aconteceu nos seguintes dias, até que, farto da infrutífera procura, resolveu cavalgar em direcção a Coimbra e relatar os episódios com que se deparara diariamente a Dona Isabel.
Assim que chegou perto da rainha, ela disse-lhe que sabia ao que ele vinha, e sobrepôs-se na conversa dizendo que tinha sonhado com o mesmo gemido, e que em sonhos conseguiu perceber exactamente de onde ele vem. Surpreendido, Guilherme de Pavia pediu que lhe dissesse o esconderijo, e Dona Isabel respondeu-lhe, acrescentando que nesse mesmo sítio iria encontrar a imagem da Senhora com Cristo morto nos seus braços. O choro era, assim, o luto de Maria.
Lá voltou Guilherme de Pavia e, cavalgando pelas margens do Zêzere, ouviu o lamento de Nossa Senhora. Subiu a serra e observou a imagem da Virgem com Cristo morto nos braços, tal e qual como a rainha lhe tinha descrito. Guardou-a consigo e nunca mais a imagem tornou a chorar.
Um dia, a rainha, regressada a estes domínios, pediu que se construísse uma capela junto a uma estranha atalaia templária que por ali havia. A imagem, ordenou a mulher de Dom Dinis, deveria ficar por lá, protegida. E àquela terra, como homenagem ao pranto mariano, passaram a chamar a Vila das Dores, que mais tarde viria a transformar-se em Vila de Dornes. A capela virou igreja e foi para sempre marcada com o nome Igreja de Nossa Senhora do Pranto.
A lenda romanceia a origem do nome Dornes, que não parece vir de dor mas sim de dornas, isto é, recipientes de pisa da uva, que de resto é a antiga nomenclatura da povoação e que encruza com a ideia de que já por aqui, há muitos anos, se fazia vinho.
Onde ficar
Além do já mencionado Art’Rio, bem no centro de Dornes, há por perto uma acomodação chamada Casa da Eira com todo o material necessário para uma boa semana, mais uma piscina no lado de fora, aberta nos meses estivais.Para Leste, também junto ao rio Zêzere mas um pouco mais afastados da pequena península de Dornes, temos os apartamentos Chão da Lousa.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=39.77187 ; lon=-8.269465