Castelo da Póvoa
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Estranho seria se a Póvoa, paradigma da cidade piscatória, não tivesse um forte que protegesse a sua barra. Ao bastião os livros deram o nome de Fortaleza da Póvoa ou Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, em homenagem à padroeira da terra. Contudo, o que ficou foi o seu nome popular, o Castelo da Póvoa, talvez porque na Póvoa não há castelos e, para a orgulhosa gente que lá morava, isso é que não podia ser.
Pela defesa do reino, das naus, das pescas
É de perder a conta a quantidade de fortes marítimos de defesa aos principais portos do país.
A Póvoa, conhecida historicamente como estaleiro naval de apoio à empresa das Descobertas e como casa de prestigiados pescadores que quase sabiam melhor remar do que andar, lá teve a sua fortaleza no Bairro Sul, aquele que mais ligado à faina está, uma cortesia de um rei (D. Pedro II, que não o acabou) e de outro (D. João V, filho de D. Pedro II, que o terminou).
Sabemos, contudo, que antes do actual Castelo da Póvoa ser levantado, um outro existia, certamente mais pequeno, possivelmente patrocinado por D. João I, numa altura em que Portugal tremia enquanto nação independente e a defesa da costa se revelava fundamental – contra eventuais ataques do nosso vizinho ibérico ou contra raides da pirataria e do corso sarracenos. A esse apelidaram de Forte de Torrão. Viria a arruinar-se e dos escombros nasceu o corrente bastião, este do início do século XVIII, coincidente com a Guerra da Sucessão em Espanha e com outra época alta de ofensivas de piratas e corsários, então com D. Pedro II como monarca.
É fundamental perceber-se o contexto em que o Castelo da Póvoa nasceu: um tempo particularmente movimentado neste burgo, em que a Póvoa se afirmava como o grande centro piscatório de todo o Norte português. E mesmo assim, demorou cerca de quarenta anos a ser construído, não exactamente pela complexidade da obra mas porque as verbas para a sua conclusão finaram ainda na primeira década setecentista, sendo dada prioridade a outras unidades de salvaguarda do rio Douro. Foi preciso um novo reinado para recuperar e acabar o que D. Pedro tinha começado.
Certo é que, passada uma centúria sobre a sua abertura, a função militar do Castelo da Póvoa desvaneceu. Bom sinal, pensarão alguns, como indício de que os tempos de paz haviam chegado. A verdade é que depois disso a fortaleza andou esquecida por quase todo o poder público. Quem aproveitou o desprezo a que foi votado foi a comunidade do Bairro Sul poveiro – vulgo, os pescadores, que dele se serviram como armazém de apetrechos.
Lá se tentou dar-lhe uma funcionalidade municipal depois disso, com espectáculos de cavalos e de toiros para alegrar uma nova vaga de visitantes que aqui procuravam os novos e cobiçados banhos de mar. No final do século XIX e princípio do século XX, enfim, entregou-se o castelo aos burocratas da fiscalidade, primeiro como base de apoio à Alfândega, depois à Guarda Fiscal. Nesses termos ficou durante praticamente cem anos, abrindo anualmente as portas ao povo no mês de Dezembro, aquando das comemorações da Senhora da Conceição, que daqui partia em romaria pelas ruas e ruelas da Póvoa até retornar ao ponto de partida – procissão ainda hoje realizada e de grande importância na religiosidade dos homens do mar.
Portada interior da Fortaleza da Póvoa
Felizmente, na viragem para o século XXI, a Câmara Municipal chegou-se à frente e passou ela a administrar o monumento. Em 2015, depois de obras de requalificação dirigidas por Rui Bianchi que restituíram, em grande parte, o seu formato original, a Fortaleza da Póvoa abriu portas ao povo, que passou a partir desse momento a poder visitá-la sempre que queria. Há, presentemente, dois restaurantes dentro do Castelo da Póvoa a sublinhar um novo cosmopolitismo que tomou conta do velho forte: o restaurante de origem portuense éLeBê, com uma esplanada num dos baluartes com ampla vista para a praia, para o casino, e para o Bairro Sul; e o Velvet, de cozinha japonesa.
O forte abaluartado
O seu aspecto não foge ao de outros fortes seus contemporâneos, sendo de assinalar, ainda assim, a capela interior, dedicada à patrona da Póvoa, a Senhora da Conceição (também ela dá o nome à Igreja Matriz), construída poucos anos depois de estar finalizada a fortaleza.
Fora isso, vemos hoje no Castelo da Póvoa os habituais baluartes em todos os vértices da sua planta pentagonal, excepto num – o que está virado para o mar. Registam-se guaritas na junção dos muros de cada baluarte. É sempre bom notar que os baluartes, nas fortificações a bordejar a linha costeira, foram uma das mais relevantes inovações da arquitectura militar, sobretudo pelo ângulo de visão e de disparo que permitiam.
Num pano amuralhado virado a nascente encontramos um mata-cães para responder a ataques de curto alcance, um elemento que não é, de todo, evidente neste tipo de construções. Ao lado, na muralha seguinte, virada a norte, rasga-se a portada. O acesso era feito pelo lado oposto ao mar, como é costume, e através de uma ponte levadiça que funcionava como último recurso para o caso de incursão inimiga. A portada tem no seu topo o brasão dos Souzas, dado ter sido D. Diogo de Souza o homem que, por ordem de D. João V, terminou a obra, seguia o ano de 1740.
A Capela da Senhora da Conceição no interior da Fortaleza da Póvoa guarda imagem da padroeira da cidade
O mata-cães do Castelo da Póvoa
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Coordenadas de GPS: lat=41.44409 ; lon=-8.77427