Pedras Formosas
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Um dos símbolos maiores da Cultura Castreja, presente no norte português (e noroeste de Espanha), as Pedras Formosas são parte integrante da arquitectura de muitos castros. As mais famosas localizam-se no concelho de Guimarães, na famosa e recuperada Citânia de Briteiros.
Não são só pedras, nem são apenas formosas. São a entrada num mundo que tribos Galaicas tinham como purificante.
Um sinal do viver Galaico
As Pedras Formosas, se assim podemos chamar a todo este lote de pedras talhadas que se encontram em vários povoados castrejos, significam muito mais do que aquilo que o nome, com toda a justiça, indica: ou seja, são mais do que apenas composições bonitas, admitindo-se que constituem prova de uma cultura coerente, coesa, sólida e homogénea, perfeitamente enraizada nos povoados nortenhos.
Mais do que perceber a sua função – e já lá iremos -, é através da ornamentação que percebemos o quão sedimentada estava a cultura galaica nas formas artísticas e na linguagem dos símbolos.
Uma linguagem que, como já mencionado, vai, grosso modo, da Galiza e parte das Astúrias até ao Rio Douro. E que não é apenas bonita de se ver; tem, em primeiro lugar, um profundo significado espiritual, como a seguir veremos.
Função das Pedras Formosas
As Pedras Formosas, sabemos agora, eram parte integrante de um entranhado costume das tribos galaicas: os banhos de vapor.
Encontravam-se a meio de uma longa estrutura, escavada na orla dos castros, e parcialmente coberta. Tratava-se de um corredor feito de várias divisões, começando num forno, passando por uma câmara, uma ante-câmara, e por fim um átrio habitualmente já a descoberto, pelo menos nos meses de calor. A Pedra Formosa estaria posicionada entre a câmara e a ante-câmara, uma espécie de parede divisora entre ambas as salas (ver foto ao lado, com o átrio do lado esquerdo, a fornalha, do lado direito, e as câmaras unidas pela Pedra Formosa ao centro).
O forno, tapado, aquecia pedras onde a água passaria, transformando-se aí em vapor, pondo o espaço da câmara como uma autêntica sauna. A Pedra Formosa que fazia a fronteira com a ante-câmara era recortada em baixo por um orifício semi-circular, garantindo que o calor se mantivesse durante bastante tempo no espaço da câmara.
No entanto, parece haver mais do que apenas uma razão funcional para a existência das Pedras Formosas. O buraco que acabámos de falar e que parece ter como razão de existência a preservação do vapor no espaço fechado que se segue ao forno, sugere também uma função ritualística – o obstáculo de transição entre o átrio e a ante-câmara, de um lado, e a sauna, símbolo da purificação (pelo vapor).
Este lado iniciático é confirmado pelos adornos que vemos em várias Pedras Formosas, com decorações de estética céltica e onde se vislumbram alguns sinais de culto solar (mais uma vez, relacionando a arte das Pedras Formosas com o calor dos banhos de vapor).
Os banhos de vapor na Citânia de Breiteiros eram feitos em edifícios escavados na terra, conforme imagem
Monumento da Pedra Formosa da Citânia de Briteiros, actualmente exposta no Museu da Sociedade Martins Sarmento
As Pedras Formosas de Briteiros
Foram encontradas Pedras Formosas em vários castros portugueses: Santa Maria de Galegos, Sanfins, Monte da Saia ou Tongobriga. Contudo, nenhuma tem o mesmo encanto do que o par que se encontrou na Citânia de Briteiros, em Guimarães.
Estando uma a céu aberto e outra colocada no museu adjacente ao castro, o Museu da Sociedade Martins Sarmento, ambas contam com um nível de decoração deslumbrante.
A que se encontra no museu (foto em cima), revela uma figura antropomórfica, aparentemente uma mulher, estando a sua vagina representada entre as pernas, logo acima do orifício que dá entrada à câmara, ou seja, dando a entender que quem lá entra sai um novo homem, regenerado pelo fogo (ou vapor, no caso). Os desenhos que circundam a figura remontam a antigos símbolos célticos (e não só) associados ao conceito de regeneração e do eterno retorno.
Já a Pedra Formosa que pode ser vista da estrada que sobe até à bilheteira da Citânia (ver imagem principal, no topo), conseguimos descortinar, em baixo relevo, um trískel galaico, ornamento de cariz solar e que sublinha, uma vez mais, o carácter ritualista deste monumento balnear.