Canja de Cornos
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A Canja de Cornos (ou para outros, a Sopa de Cornos) não é exactamente um prato típico de determinada província ou concelho mas sim um prato típico de um só restaurante. A verdade é que se tornou tão famoso que outras casas de pasto começaram a replicá-lo, transformando-o num activo à escala regional. E para isso temos de agradecer ao seu inventor: o Restaurante Zé Nabeiro, no Soito, Beira Alta.
Importa saber que a Canja de Cornos está apta a consumo no Zé Nabeiro mas apenas às Quartas-Feiras e aos Sábados. Dias sagrados no Soito, à beira da fronteira com Espanha.
Uma canja diferente
É uma sopa, mas de outra ordem.
A lembrar que vem da família das canjas vem o caldo e a massa, em forma de estrelinha. Depois há o resto da conversa, e é até mais essa que importa.
Consta-se por estes lados que José Manuel Fogeiro, nos bons tempos em que os matadouros eram também de pessoas e não apenas de empresas (no caso, na década de setenta), convidava compadres para comezainas à séria, à base de vitelas que criava por conta própria. Ora, da vitela aproveitava-se quase tudo, mas para o quase desaparecer era preciso dar um propósito à cabeça do animal.
Vai daí passaram igualmente a cozer a cabeça da vitela e os seus miolos, e o caldo que daí resultava tinha sabor maior, demasiado bom para ir fora.
A seguir ao prato estar inventado surgiu o nome, de certeza que meio em tom de brincadeira e, obviamente, fazendo a associação dos cornos à tal cabeça que ia para o tacho. A verdade é que a canja tem apelido sonante, dando fama a um caldo que, ao contrário de outros, também tem proveito.
E assim de come a Canja de Cornos, logo acompanhada de outras carnes dispostas em separado (que se baseiam, além da vitela, na carne de porco ou de borrego).
Receita da Canja de Cornos
Ora aqui vai o segredo que me deram sobre esta afamada sopa beirã: nenhum.
Não faço a mínima ideia de qual o truque ligado à Canja de Cornos. Sei que leva vitela, criadas na região, e que se coze a carne com lareira caseira. Sei que leva as massas normais de qualquer canja convencional. Sei que o caldo vem, como já foi falado, da cozedura da cabeça da vitela. Sei que os ingredientes da praxe lá param também: cebola e alho, talvez pimenta. Isto é tudo o que sei e tudo o que qualquer outra pessoa sabe.
Ademais, uns pedacinhos que aparecem na canja, e que se assemelham a carne, são na verdade a medula dos ossos da cabeça da vitela. A ser verdade, Canja de Cornos não seria apenas uma expressão mas sim uma descrição relativamente gráfica daquilo que levamos à boca – distanciando-se assim de outros ícones portugueses, como o Licor de Merda, que, como é evidente, não leva o ingrediente que o nome sugere.
Contudo, sabendo tudo isto não explica por si como atinge este especial palato. Isso é segredo dos Deuses. E os Deuses aqui são José Manuel Fogeiro e demais família.
Onde ficar
A Casa da Manjedoura fica a poucos quilómetros do Soito e é uma simples e simpática acomodação na vizinha Alfaiates. Encontra-se entre o Sabugal e a fronteira espanhola e está equidistante de variadíssimos pontos de interesse na Beira da raia.
Em Agosto pode aproveitar-se a estadia e fazer-se a ronda das Capeias Arraianas do concelho do Sabugal.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=40.35689 ; lon=-6.9642