Burburinhos
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Foi numa passagem pela sempre revisitável aldeia de Monsanto que dei conta, através de um texto de Maria Leonor Carvalhão Buescu, de uma antiga crença do povo da Beira Baixa, da Beira Alta, e de Trás-os-Montes: os Burburinhos (ou, em alternativa, Borborinhos, Rosemunhos, ou Esponjinhos).
O que é um Burburinho segundo a crença popular
Um Burburinho não é mais do que um pequeno pé-de-vento, ou um redemoinho, se se preferir. Mas, ao contrário dos comuns redemoinhos que encontramos por aí, junto aos chãos de terra solta, a acumularem poeira e folhas de árvore e papéis abandonados, estes, de acordo com a tradição oral, têm o diabo dentro deles (e, segundo algumas versões, almas penadas e bruxas também lá andam dentro). A recolha de Maria Leonor Buescu sublinha isso mesmo, é uma cousa ruim que lá vai no meio.
Como tal, o povo adoptou estratégias para ver o que era, ou não, um Burburinho – sempre que um mini tornado era avistado, atirava-se para dentro dele uma faca ou uma pedra e, caso estivéssemos na presença de um, a faca ficaria com sangue ou a pedra seria devolvida, na mesma força, à pessoa que a mandou.
E da mesma forma encontrou maneira de fugir dele ou mesmo de o anular, ora atirando-lhe uma mão cheia de terra, como é descrito por Jaime Lopes Dias na sua “Etnografia da Beira“, ora projectando uma tesoura para o seu interior. Aparentemente, isto faria com que o diabo ou a bruxa deixasse o redemoinho e ficasse do lado de fora, desprotegida e sem capacidade de malfazer.
Os Burburinhos são um fenómeno mais comum nos meses estivais (faz sentido – é quando os redemoinhos, pela pressão e pela subida do ar quente, acontecem) e o povo gosta de situar o seu avistamento em horas tidas como mágicas – o meio-dia ou a meia-noite, por exemplo, ou mesmo durante o nascer ou o pôr do sol.