Vale das Buracas do Casmilo
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Perto da aldeia do Casmilo há paredes de rocha esburacada. Que nem queijo suíço, mas à escala supra humana. São grutas que exploram as deficiências do calcário, que aqui é rei. Chamaram-nas, convenientemente, de Vale das Buracas do Casmilo.
O que hoje se vê são aberturas de grutas que entretanto já não lá estão. Foram abruptamente esmagadas pelo chão da serra que está acima. E com elas, segundo se diz, enterrou-se ouro mouro para não mais voltar à superfície.
Calcário, o suspeito do costume
Quando falamos de grutas, o réu é quase sempre o mesmo, e é também quase sempre declarado culpado: o calcário. Os sistemas cársicos, isto é, estes que aqui vemos, salvo raras excepções, são sempre motivados por esta rocha que é tão parte da província da Estremadura, principalmente, mas também de outras, como a da Beira Litoral, que é o caso presente. Mais concretamente num muro natural da Serra do Rabaçal, inscrito no quadro cársico do Maciço de Sicó.
Mas adiante. As Buracas do Casmilo estão perto de Condeixa-a-Nova, e podem ser miradas em muitos sítios mas é junto à aldeia com o mesmo nome onde há maior concentração. As covas são de desenho vagamente horizontal, de média profundidade – podem chegar à dezena de metros, mas não muito mais do que isso.
Além do efeito pouco comum que tem na paisagem, importa falar de como é que estas covas nasceram. A verdade é que estas eram entradas para túneis maiores, autênticas grutas. Foi o desabamento do tecto que se sobrepunha a elas que acabou por tapar esses antigos corredores, ficando apenas estas luras de grande escala.
O que hoje é uma mistura de curiosidade geológica com palco de escalada desportiva, foi antes abrigo – e mesmo casa improvisada – de gente do calcolítico e do paleolítico, como ratificam alguns materiais de lá sacados e pinturas que se fixaram anos a fio naquelas paredes carregadas de dobras. Mais tarde, em tempos medievos, este lado acolhedor das covas manteve-se uma realidade.
Ao lado das buracas, encontra-se uma outra serra de nome sugestivo, a Senhora do Círculo – poderá estar o nome ligado a uma cristianização de um ritual antigo?
Vista para as Buracas do Casmilo, em Condeixa-a-Nova
Baú de tesouros
Conta-se, a par com muitas outras grutas que existem em Portugal (olhe-se para o que já falámos no caso das Grutas das Lapas), que dentro daquelas buracas se esconde ouro. Ouro antigo, de anterior posse moura. Veio todo do Castelo de Soure, ali ao lado, numa altura em que os sarracenos tiveram de se retrair para sul como consequência das investidas cristãs vindas do norte. Verdade ou mito, não sabemos.
Sabemos sim que ainda há quem lá vá com essa fé, a de encontrar a luz doirada que faz um homem rico. Adultos e crianças aventuram-se a desenterrar o que as mãos conseguem, não vá realizar-se uma das inúmeras lendas que versa sobre as Buracas do Casmilo serem um reservatório de tesouros perdidos. Não é para menos: as lendas têm invenção na mesma proporção que realidade. Nenhum texto lendário é criado exclusivamente da imaginação – isso tem o nome de conto. E por isso tente-se esse dois em um: o de ver o Vale das Buracas do Casmilo, e o extra de sair de lá mais pesado de ouro.
Onde ficar
A casa de campo Paço da Ega situa-se a sul de Condeixa-a-Nova e foi, na verdade, um castelo templário, agora transformado em repouso para turismo rural. E como antiga fortificação que é, percebe-se a amplitude paisagística de que goza. O aspecto geral do Paço, bem como dos quartos disponíveis, mantém-se medieval, notando-se, claro, as boas consequências da sua recuperação. Tem tanta história que será difícil não falar dele num outro texto, não como hospedaria, mas como monumento.
Além das Buracas de Casmilo, bem perto do Paço da Ega estão as ruínas de Conímbriga, para onde se pode ir de bicicleta e aproveitar-se o tempo para ver o célebre Labirinto do Minotauro.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=40.046074 ; lon=-8.495460