Santuário de Nossa Senhora da Abadia
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Não tinha de haver um monumento para que uma vinda a este paradeiro valesse a pena. Todo o caminho feito a partir de Paradela é deslumbrante, como de resto todo o Gerês o é também. Mas felizmente somos brindados com uma cereja no final, o Santuário de Nossa Senhora da Abadia.
Um novo Mosteiro das Montanhas ergue-se no Gerês. Dizem que veio substituir um outro que por aqui existia, e que seria dos primeiros registos cristãos na península. Do antigo pouco sabemos. Deste sabemos muito, mas sobretudo que é obrigatória a sua visita.
Um novo Mosteiro de Terras do Bouro
Toda a repetição que tem existido na cronologia dos lugares santos de Terras do Bouro transforma a história do Santuário de Nossa Senhora da Abadia um pouco difícil de assimilar por completo.
Falava-se de ter aqui existido um primeiro posto, pioneiro na era da Ibéria cristã, com o nome de Mosteiro das Montanhas. Atendendo ao altar natural que aqui se vê, num miradouro cavado num vale que faz mira alta ao Gerês, não é de surpreender que tal monumento sacro tenha existido, mesmo enquanto cristianização de antigos templos de outros Deuses. No entanto, desse mosteiro, nada sobra.
Há sim, mais tarde, um mosteiro cisterciense de cujas sobras se fez hoje a Pousada de Santa Maria do Bouro, entretanto recuperada por Sotto Moura. A este monumento ficou associada uma lenda (ler adiante) e grande parte da história de Portugal, nomeadamente no apoio que foi prestado em certas escaramuças com Espanha – de lá foram enviados homens para combate na fronteira do Minho com a Galiza, nas proximidades da Portela do Homem. A coroa ficou agradecida e entregou privilégios à então Igreja de Santa Maria do Bouro.
Só mais tarde, no século XVIII, é que foi feita a trasladação para o actual Santuário de Nossa Senhora da Abadia – uma ampla igreja com adro e cruzeiro a antecedê-la. A complementar há o museu, do lado sul, e quartéis que abrigam os peregrinos que por aqui passam, a maioria deles como maratonistas espirituais do Caminho Português de Santiago.
E temos também todo o caminho até lá, sublinhado por uma romaria que ali se faz no feriado de 15 de Agosto, o da Assunção da Virgem. Esse trilho é, a partir de certa altura, acompanhado por capelinhas, ora dedicadas à Senhora, ora dedicadas à Paixão de Cristo, num modelo que nos lembra o do Bom Jesus do Monte, não muito longe dali, em Braga.
Um conjunto de casas santas que terminam num terraço para o Gerês
A gruta que inspirou a lenda da Senhora da Abadia
Lenda da Senhora da Abadia
A história do Santuário de Nossa Senhora da Abadia começa muito antes de ele próprio ter nascido.
Diz-se entre o nevoeiro da lenda e a luz da história, que por estes lados havia um lugar de culto com um nome encantador: Mosteiro das Montanhas, tido como um dos primeiros marcos cristãos na Ibéria. Por lá havia uma abadia na encosta da Serra do Gerês, onde se guardava religiosamente uma imagem da Senhora que entretanto teve de ser evacuada para uma gruta longe dali, quando os sarracenos subiram península acima, chegando a pôr pés, se bem que por pouco tempo, na região norte.
Depois disto, nada mais se soube acerca dela, nem sobre o tal Mosteiro das Montanhas.
Consumada a Reconquista por estas terras, foi preciso um fidalgo chamado Pelágio (ou Payo), entretanto recolhido à condição de eremita, avistar, muitos anos mais tarde, uma luz misteriosa no meio do denso arvoredo que circundava uma pequena casa de oração. Contou ao seu companheiro, Frei Lourenço, o que se tinha passado, e no dia seguinte foram os dois descortinar o que se passava. Encontraram então uma gruta, e lá dentro estava uma imagem da Senhora – a mesma que se perdera antes, aquando dos avanços sarracenos.
Ergueram então, junto à lura, uma ermida que prestasse homenagem à imagem descoberta. Conta-se que, desde aí, os milagres providenciados pela Senhora da Ababia foram tantos que o Arcebispo de Braga mandou promover a pequena capela a igreja. Séculos depois, o estatuto subiu para Santuário, havendo uma realocação para o actual Santuário da Senhora da Abadia, condição que se manteve até ao presente século XXI.
A gruta que deu origem à lenda ainda pode ser vista (ver foto ao lado). Já quanto à imagem, contudo, as opiniões dividem-se: uns dizem ser a encontrada por Pelágio e Frei Lourenço; outros afirmam que é uma segunda via, tendo a original sido levada para o Brasil, ficando a Senhora da Abadia a padroeira de muitas povoações brasileiras.
Onde ficar
Ora, que não há que enganar: se nos quisermos imiscuir na história da religiosidade destas paragens, é pernoitar na Pousada Mosteiro de Amares (ou Pousada de Santa Maria do Bouro), aquela que se originou, conta-se, pela lenda da Virgem reaparecida.
Está a cerca de 45 minutos, a pé, do Santuário de Nossa Senhora da Abadia, e o caminho de um a outro ponto é admirável.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.675151 ; lon=-8.257825